Monday 3 August 2015

Capítulo 112 - O eco das escolhas




Icelo parecia louco, ele queria balançar o equilíbrio de forças, mudar as peças do jogo, trazer um pouco de caos àquela batalha, a proposta dele mostrou-se bastante aos anjos e demônios, a maioria deles nutria grande ressentimento contra a humanidade, considerava-os os principais responsáveis por todo aquele conflito.

E embora tivessem ordens de seus mestres para permanecer em suas posições, afinal Miguel tinha ordenado que todos defendessem o paraíso, não queria que suas legiões se dispersassem, do mesmo modo Kali tinha comandado um ataque total, todas as forças deveriam ser usadas contra as defesas celestes.

Todos aqueles anjos e demônios assistiam enquanto se mutilavam e matavam, eles sabiam que aquela era batalha final, a proposta de Icelo veio naquele momento em que eles já haviam assistido a morte de vários companheiros, por mais corajosos que fossem, era natural que fraquejassem um pouco, que temessem o desenrolar dos eventos, e foi nesse instante em que o demônio dos sonhos seduziu a todos dizendo exatamente aquilo que ansiavam ouvir, promessas sobre a vingança que por tanto tempo quiseram realizar.

É claro que nem todos foram convencidos, muitos se mantiveram fieis as ordens que haviam recebido e defendiam suas posições ou tentavam avançar sobre o inimigo dependendo de qual lado estivessem. 

No fim cerca de um terço deles abandonou suas posições e seguindo as provocações de Icelo preparavam-se para atacar o mundo humano, haveria uma grande carnificina, aquela quantidade de cerca de quatrocentos era mais do que suficiente para exterminar todos os seres do nosso mundo.

O demônio dos sonhos se divertia com aquela imagem, ele os via como gravetos sendo atirados ao fogo, algo que ele usaria para tornar as chamas mais fortes, para queimar tudo em seu caminho.

Do trono de Deus Miguel logo percebeu aquela perturbação, ele notou quando boa parte de seus anjos se desgarravam e deixavam o centro da batalha, Orphamiel que estava em sua presença escutou suas ordens de depois de se livrar dos demônios de Kali que todos aqueles que deixaram suas posições deveriam ser exterminados.

Ainda no templo da fé Kali e Rafael conversavam quando notaram a mudança no rumo da luta, a herdeira de Lúcifer sabia que não havia nada que pudesse fazer, nesse momento sem nem mesmo o apoio de Vassago aquele exercito de demônios atacava seguindo apenas sua própria convicção, cumprindo o desejo de seu antigo senhor ou apenas liberando uma vingança sobre quem estiveram em guerra no passado, ela não era mais a comandante deles. O arcanjo se mostrava tenso com aquela mudança no rumo dos eventos, aquilo era algo inesperado.

Nathaniel que tinha deixado o templo da fé e seguia na estrada para chegar ao próximo também notou aquela modificação no rumo das coisas, ao mesmo tempo em que ele olhava esperançoso para o céu vendo que das sete partes do caminho cinco já haviam sido liberadas, ele agora assistia uma ameaça desse nível se dirigir contra o mundo humano.

Por alguns instantes ele parou e ficou pensando sobre que rumo tomar, mas logo voltou a correr em direção a onde a próxima trilha o levasse, ele não poderia recuar agora, era preciso avançar, assim como precisava confiar em seus companheiros, ele não tinha ido sozinho para aquela missão, haviam outros que tinham os mesmos objetivos.

Se ele não acreditasse neles e tentasse resolver tudo sozinho não teria sentido ter os chamado de companheiros e pedido que lutassem ao lado dele.

Enquanto alguns seguem em frente existem os que ficam para trás, aqueles que entendem seu papel no fluxo das coisas e que nem todos seguirão a mesma estrada, que outros caminhos podem ser tomados, que há coisas que somente aqueles que param são capazes de ver.

Nathaniel não esperava, mas a bondade e compaixão que ele demonstrou antes seriam algo ecoaria neste momento salvando a humanidade, um pequeno gesto que se propagou e no fim teve um grande efeito.

Todos aqueles instigados por Icelo começavam a deixar o campo de batalha e rumar em direção ao mundo humano, mas de repente são detidos, alguém se coloca entre eles e a humanidade, Lahabiel.

O anjo encarregado de proteger a entrada do paraíso, cuja missão era não permitir que ninguém a atravessasse, quando ele foi derrotado por Nathaniel foi surpreendido pelas ações dele, quando ele se recusou a atravessar o portão fazendo um grande buraco na muralha.

Mais do que o respeito que Nathaniel demonstrou por ele, o que realmente o marcou foram as palavras ditas por ele ao atravessar, que talvez aquilo já não fosse algo digno de proteger, que Lahabiel deveria encontrar outra coisa para guardar, um novo objetivo, algo que ele realmente quisesse fazer.

Quando o anjo observou aquela legião se dirigindo sedenta contra um mundo indefeso, ele imaginou o que eles fariam lá, crianças, mulheres, velhos, todos sendo retalhados e torturados, quanta dor seria causada. Ele pensou que aquele era o mundo que tinha enviado Nathaniel, talvez existissem mais pessoas como ele lá, e mesmo que fossem apenas algumas, porque sim, ele sabia que a humanidade também é cruel, e muitos realmente mereciam o castigo divino, mas por aqueles poucos dignos Lahabiel decidiu que lutaria. O anjo guardião daria sua vida pela humanidade.

Lahabiel abaixou a cabeça e juntou as mãos como se estivesse a rezar, ele então expandiu sua energia espiritual, ela emanava do seu corpo criando uma enorme barreira, os mais fracos ao se chocar contra ela tomavam bastante dano e eram atirados para trás, os mais fortes apenas recuavam.

Centenas de ataques começaram a ser disparados, os anjos atacavam em conjunto tentando destruir aquela barreira, furiosamente golpeavam a muralha, mas eram incapazes de sequer rachá-la.

Os ataques continuavam incessantemente, chegavam ate mesmo a iluminar o céu, depois de quase sete minutos atacando com tudo que tinham os anjos cessaram, cansados e ofegantes eles observavam aquela muralha ainda intacta, nem mesmo um pequeno arranhão tinha sido feito.

De uma distância segura Icelo observava tudo aquilo, ele demonstrava irritação, parte dele sentia-se de modo confuso diante daquilo, mas a outra apenas queria que eles rompessem logo aquilo e como uma nuvem de gafanhotos numa plantação destruíssem o mundo humano.

Mas os anjos sequer conseguiam perceber a real natureza da técnica de Lahabiel, se Icelo não tivesse interferido talvez eles nunca tivessem conseguido quebrá-la.

A técnica do anjo guardião consistia em utilizar a própria energia dos ataques para reforçar e tornar cada vez mais forte a barreira, é claro que isso tinha um custo, a energia dos ataques era direcionada para o corpo dele antes de ser retransmitida para o muro.

Por não ter demonstrado nenhuma dor os anjos ignoraram Lahabiel, mas se observassem com atenção veriam que a cada ataque o corpo dele se deteriorava, sangue fluía de seus olhos, ouvidos e nariz, o corpo dele tremia.

Mas ele era o anjo incapaz de sentir dor, seu corpo era algo secundário, o que realmente importava era garantir que o que ele devia proteger permanecesse intacto, a cada golpe recebido pela muralha o corpo dele sentia o impacto, era preciso que ele suportasse os ataques para que a barreira se mantivesse.

Enquanto ele agüentasse aquela seria a defesa perfeita, algo intransponível. A cada golpe, a cada vez que sentia seu corpo fraquejar ele se lembrava da luta como Nathaniel, de como ele havia aprendido que não sentir dor não o tornava invencível, que aqueles que mesmo com dor seguem em frente é que são os realmente fortes.

Icelo percebeu como a técnica funcionava e como derrotá-la depois de cerca de quatro minutos, mas permaneceu em silêncio sobre isso, apenas ordenou que os anjos não parassem de atacar, uma vez que alguns já começavam a desistir diante da força de Lahabiel.

Ele repetia para si mesmo que aquilo era apenas por sadismo, fazer Lahabiel sofrer mais, que o corpo dele fosse destruído e ele soubesse que apenas adiou o inevitável, mas no fundo tinha medo de que aquilo não fosse totalmente verdade.

No fim, Lahabiel aguentou os ataques por dezessete minutos, no fim ele morreu de pé, desfazendo a barreira, mas por nenhum momento ele se lamentou ou se arrependeu daquilo, ele sabia que não os deteria para sempre, esse nunca foi o objetivo, ele apenas queria ganhar tempo, e tinha cumprido muito bem o seu papel, morrendo como um verdadeiro herói.

Antes que o corpo de Lahabiel tocasse o solo ele foi segurado por Sallos, o anjo caído ainda se recuperava da batalha contra Theliel no templo da Temperança, embora ainda estivesse fraco e aquelas não fossem suas melhores condições, agora ele tinha conseguido recuperar boa parte de sua energia e estava pronto para lutar, cada minuto ganho pelo anjo guardião tinha sido decisivo para isso.

Assim como Lahabiel, Sallos havia encontrado seu caminho por causa de um humano, Simone o havia retirado das trevas onde ele tinha estado por tanto tempo, e por isso ele queria proteger a humanidade, sentia que apesar de tudo ainda valia a pena proteger uma raça que tem pessoas tão caridosas e gentis, nelas ele conseguia ver os fragmentos de Deus, não na alma, mas na bondade e calor que sentia vindo delas.

Começou então uma grande batalha, Sallos contra milhares de anjos e anjos caídos, ele usava sua nova técnica de luz, era um golpe muito poderoso, a cada ataque dezenas eram derrubados, mesmo assim ele tinha sido bastante atingido também, não é possível se defender de ataques vindos de todas as direções ao mesmo tempo.


Porém, nem todos os anjos ficaram lutando com Sallos, enquanto ele segurava o máximo que conseguia, vários outros passaram e agora se dirigiam para o mundo humano.

1 comment:

  1. Bom capitulo, marcando aqui uma passagem do anterior para o próximo, gostei desse Lahabiel, tenho pena de não ter visto mais dele, morreu verdadeiramente um herói, se sacrificando pelos humanos desse jeito, sabendo que não iria sobreviver, agora cabe a Sallos tentar impedir danos maiores, mas sozinho será muito dificil, gosto em como a historia avança, fico esperando o próximi =P

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