Icelo parecia louco, ele queria balançar o
equilíbrio de forças, mudar as peças do jogo, trazer um pouco de caos àquela
batalha, a proposta dele mostrou-se bastante aos anjos e demônios, a maioria
deles nutria grande ressentimento contra a humanidade, considerava-os os
principais responsáveis por todo aquele conflito.
E embora tivessem ordens de seus mestres para
permanecer em suas posições, afinal Miguel tinha ordenado que todos defendessem
o paraíso, não queria que suas legiões se dispersassem, do mesmo modo Kali
tinha comandado um ataque total, todas as forças deveriam ser usadas contra as
defesas celestes.
Todos aqueles anjos e demônios assistiam
enquanto se mutilavam e matavam, eles sabiam que aquela era batalha final, a
proposta de Icelo veio naquele momento em que eles já haviam assistido a morte
de vários companheiros, por mais corajosos que fossem, era natural que
fraquejassem um pouco, que temessem o desenrolar dos eventos, e foi nesse
instante em que o demônio dos sonhos seduziu a todos dizendo exatamente aquilo
que ansiavam ouvir, promessas sobre a vingança que por tanto tempo quiseram
realizar.
É claro que nem todos foram convencidos,
muitos se mantiveram fieis as ordens que haviam recebido e defendiam suas
posições ou tentavam avançar sobre o inimigo dependendo de qual lado
estivessem.
No fim cerca de um terço deles abandonou suas
posições e seguindo as provocações de Icelo preparavam-se para atacar o mundo
humano, haveria uma grande carnificina, aquela quantidade de cerca de
quatrocentos era mais do que suficiente para exterminar todos os seres do nosso
mundo.
O demônio dos sonhos se divertia com aquela
imagem, ele os via como gravetos sendo atirados ao fogo, algo que ele usaria
para tornar as chamas mais fortes, para queimar tudo em seu caminho.
Do trono de Deus Miguel logo percebeu aquela
perturbação, ele notou quando boa parte de seus anjos se desgarravam e deixavam
o centro da batalha, Orphamiel que estava em sua presença escutou suas ordens
de depois de se livrar dos demônios de Kali que todos aqueles que deixaram suas
posições deveriam ser exterminados.
Ainda no templo da fé Kali e Rafael
conversavam quando notaram a mudança no rumo da luta, a herdeira de Lúcifer
sabia que não havia nada que pudesse fazer, nesse momento sem nem mesmo o apoio
de Vassago aquele exercito de demônios atacava seguindo apenas sua própria
convicção, cumprindo o desejo de seu antigo senhor ou apenas liberando uma
vingança sobre quem estiveram em guerra no passado, ela não era mais a
comandante deles. O arcanjo se mostrava tenso com aquela mudança no rumo dos
eventos, aquilo era algo inesperado.
Nathaniel que tinha deixado o templo da fé e
seguia na estrada para chegar ao próximo também notou aquela modificação no
rumo das coisas, ao mesmo tempo em que ele olhava esperançoso para o céu vendo
que das sete partes do caminho cinco já haviam sido liberadas, ele agora
assistia uma ameaça desse nível se dirigir contra o mundo humano.
Por alguns instantes ele parou e ficou
pensando sobre que rumo tomar, mas logo voltou a correr em direção a onde a próxima
trilha o levasse, ele não poderia recuar agora, era preciso avançar, assim como
precisava confiar em seus companheiros, ele não tinha ido sozinho para aquela
missão, haviam outros que tinham os mesmos objetivos.
Se ele não acreditasse neles e tentasse
resolver tudo sozinho não teria sentido ter os chamado de companheiros e pedido
que lutassem ao lado dele.
Enquanto alguns seguem em frente existem os
que ficam para trás, aqueles que entendem seu papel no fluxo das coisas e que
nem todos seguirão a mesma estrada, que outros caminhos podem ser tomados, que
há coisas que somente aqueles que param são capazes de ver.
Nathaniel não esperava, mas a bondade e
compaixão que ele demonstrou antes seriam algo ecoaria neste momento salvando a
humanidade, um pequeno gesto que se propagou e no fim teve um grande efeito.
Todos aqueles instigados por Icelo começavam a
deixar o campo de batalha e rumar em direção ao mundo humano, mas de repente
são detidos, alguém se coloca entre eles e a humanidade, Lahabiel.
O anjo encarregado de proteger a entrada do
paraíso, cuja missão era não permitir que ninguém a atravessasse, quando ele
foi derrotado por Nathaniel foi surpreendido pelas ações dele, quando ele se
recusou a atravessar o portão fazendo um grande buraco na muralha.
Mais do que o respeito que Nathaniel
demonstrou por ele, o que realmente o marcou foram as palavras ditas por ele ao
atravessar, que talvez aquilo já não fosse algo digno de proteger, que Lahabiel
deveria encontrar outra coisa para guardar, um novo objetivo, algo que ele
realmente quisesse fazer.
Quando o anjo observou aquela legião se
dirigindo sedenta contra um mundo indefeso, ele imaginou o que eles fariam lá,
crianças, mulheres, velhos, todos sendo retalhados e torturados, quanta dor
seria causada. Ele pensou que aquele era o mundo que tinha enviado Nathaniel,
talvez existissem mais pessoas como ele lá, e mesmo que fossem apenas algumas,
porque sim, ele sabia que a humanidade também é cruel, e muitos realmente
mereciam o castigo divino, mas por aqueles poucos dignos Lahabiel decidiu que
lutaria. O anjo guardião daria sua vida pela humanidade.
Lahabiel abaixou a cabeça e juntou as mãos
como se estivesse a rezar, ele então expandiu sua energia espiritual, ela
emanava do seu corpo criando uma enorme barreira, os mais fracos ao se chocar
contra ela tomavam bastante dano e eram atirados para trás, os mais fortes
apenas recuavam.
Centenas de ataques começaram a ser
disparados, os anjos atacavam em conjunto tentando destruir aquela barreira,
furiosamente golpeavam a muralha, mas eram incapazes de sequer rachá-la.
Os ataques continuavam incessantemente,
chegavam ate mesmo a iluminar o céu, depois de quase sete minutos atacando com
tudo que tinham os anjos cessaram, cansados e ofegantes eles observavam aquela
muralha ainda intacta, nem mesmo um pequeno arranhão tinha sido feito.
De uma distância segura Icelo observava tudo
aquilo, ele demonstrava irritação, parte dele sentia-se de modo confuso diante
daquilo, mas a outra apenas queria que eles rompessem logo aquilo e como uma
nuvem de gafanhotos numa plantação destruíssem o mundo humano.
Mas os anjos sequer conseguiam perceber a real
natureza da técnica de Lahabiel, se Icelo não tivesse interferido talvez eles
nunca tivessem conseguido quebrá-la.
A técnica do anjo guardião consistia em
utilizar a própria energia dos ataques para reforçar e tornar cada vez mais
forte a barreira, é claro que isso tinha um custo, a energia dos ataques era
direcionada para o corpo dele antes de ser retransmitida para o muro.
Por não ter demonstrado nenhuma dor os anjos
ignoraram Lahabiel, mas se observassem com atenção veriam que a cada ataque o
corpo dele se deteriorava, sangue fluía de seus olhos, ouvidos e nariz, o corpo
dele tremia.
Mas ele era o anjo incapaz de sentir dor, seu
corpo era algo secundário, o que realmente importava era garantir que o que ele
devia proteger permanecesse intacto, a cada golpe recebido pela muralha o corpo
dele sentia o impacto, era preciso que ele suportasse os ataques para que a
barreira se mantivesse.
Enquanto ele agüentasse aquela seria a defesa
perfeita, algo intransponível. A cada golpe, a cada vez que sentia seu corpo
fraquejar ele se lembrava da luta como Nathaniel, de como ele havia aprendido
que não sentir dor não o tornava invencível, que aqueles que mesmo com dor
seguem em frente é que são os realmente fortes.
Icelo percebeu como a técnica funcionava e
como derrotá-la depois de cerca de quatro minutos, mas permaneceu em silêncio
sobre isso, apenas ordenou que os anjos não parassem de atacar, uma vez que
alguns já começavam a desistir diante da força de Lahabiel.
Ele repetia para si mesmo que aquilo era
apenas por sadismo, fazer Lahabiel sofrer mais, que o corpo dele fosse
destruído e ele soubesse que apenas adiou o inevitável, mas no fundo tinha medo
de que aquilo não fosse totalmente verdade.
No fim, Lahabiel aguentou os ataques por
dezessete minutos, no fim ele morreu de pé, desfazendo a barreira, mas por
nenhum momento ele se lamentou ou se arrependeu daquilo, ele sabia que não os
deteria para sempre, esse nunca foi o objetivo, ele apenas queria ganhar tempo,
e tinha cumprido muito bem o seu papel, morrendo como um verdadeiro herói.
Antes que o corpo de Lahabiel tocasse o solo
ele foi segurado por Sallos, o anjo caído ainda se recuperava da batalha contra
Theliel no templo da Temperança, embora ainda estivesse fraco e aquelas não
fossem suas melhores condições, agora ele tinha conseguido recuperar boa parte
de sua energia e estava pronto para lutar, cada minuto ganho pelo anjo guardião
tinha sido decisivo para isso.
Assim como Lahabiel, Sallos havia encontrado
seu caminho por causa de um humano, Simone o havia retirado das trevas onde ele
tinha estado por tanto tempo, e por isso ele queria proteger a humanidade,
sentia que apesar de tudo ainda valia a pena proteger uma raça que tem pessoas
tão caridosas e gentis, nelas ele conseguia ver os fragmentos de Deus, não na
alma, mas na bondade e calor que sentia vindo delas.
Começou então uma grande batalha, Sallos
contra milhares de anjos e anjos caídos, ele usava sua nova técnica de luz, era
um golpe muito poderoso, a cada ataque dezenas eram derrubados, mesmo assim ele
tinha sido bastante atingido também, não é possível se defender de ataques
vindos de todas as direções ao mesmo tempo.
Porém, nem todos os anjos ficaram lutando com
Sallos, enquanto ele segurava o máximo que conseguia, vários outros passaram e
agora se dirigiam para o mundo humano.
Bom capitulo, marcando aqui uma passagem do anterior para o próximo, gostei desse Lahabiel, tenho pena de não ter visto mais dele, morreu verdadeiramente um herói, se sacrificando pelos humanos desse jeito, sabendo que não iria sobreviver, agora cabe a Sallos tentar impedir danos maiores, mas sozinho será muito dificil, gosto em como a historia avança, fico esperando o próximi =P
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