Icelo ri de modo descontrolado, Ramiel
da passos para trás como se só agora tivesse percebido o tamanho do erro que
cometeu.
Quando se tira a coisa mais importante
de alguém, quando rouba todo o passado dela você espera que desmorone, como uma
casa que perde os alicerces, mas Icelo não ruiu. Existia outra fundação que o
sustentava, algo mais escuro e sombrio, mantido nas trevas pela luz de
Eurídice, agora sem ela esse outro lado assumia o controle.
Obrigado
Ramiel, pela primeira vez em muito tempo me sinto livre, me sinto eu mesmo
novamente. Eu não sou muito bom com agradecimentos, mas acredito que o trucidar
e o presentear com a maior quantidade de dor possível seja o melhor modo de
expressar minha consideração. – disse Icelo
Ramiel não se deixava intimidar, ele fez
sua energia espiritual subir ao máximo e atacou Icelo, acertou vários socos
nele, a cada golpe a cabeça dele era jogada para trás quase sendo arrancada do
corpo, ele apenas ria enquanto sangue escorria do seu nariz e da sua boca.
Mas nesse momento Ramiel para de atacar,
ele percebe onde estão lutando, na palma da mão de Icelo. Uma imagem gigante
dele, como uma estatua, todo o confronto acontecia lá, o tempo todo ele esteve
se contendo, trapaceando, mentindo, tentando tornar a luta divertida
equilibrando as possibilidades entre eles. Mas não agora, não mais.
Sem mais truques ou jogos, apenas
violência extrema, Icelo ataca seu oponente com vários golpes no corpo, quando
ele se dobra acerta seu rosto com uma joelhada, o impacto faz o corpo ser
jogado para cima, mas antes que ele ganhe altura é agarrado pela perna, girado
e atirado contra o solo, no lugar onde ele cai o solo se racha, mas ainda não
havia acabado, o demônio dos sonhos que havia saltado para atingi-lo agora cai
como uma flecha sobre o braço direito dele, inutilizando-o.
Ramiel se debate no solo, sente uma
quantidade indescritível de dor, mas aquilo é apenas o começo.
O demônio dos sonhos toca em sua testa e
parece estar mexendo dentro da cabeça dele, como se ele ativasse todos os
estímulos sensoriais, deixasse-o ainda mais sensível a dor. Agora o arrancar de
um fio de cabelo causaria tanta agonia quanto um dente sendo arrancado.
Existe
um limite para a quantidade de dor que cada ser pode suportar, quando se chega
a essa condição o corpo perde a consciência como forma de se preservar, mas
esse é um mundo de sonhos, quer dizer que mesmo que desmaie não vai parar, nunca
vai terminar. – disse Icelo
–
Mas sinceramente não sinto grande prazer em fazer isso, este pequeno espetáculo
foi apenas para reunir sua dor.
Com um simples gesto com a mão ele faz
surgir uma cruz negra, dela saem ganchos que rasgam a carne e se prendem
diretamente aos ossos do anjo, Icelo mostra um cristal vermelho, ele tinha sido
forjado a partir do sofrimento infligido ao corpo de Ramiel, ele então crava-o
como uma estaca no coração dele, avisando-o que essa quantidade de dor que ele
sentiu, ele a sentirá para sempre.
O destino dele será passar toda a
eternidade trancado naquela dimensão, em um ciclo interminável de dor e
sofrimento. Mas uma condenação eterna não era ainda o suficiente, era preciso
uma promessa, uma falsa esperança, algo que o atormentasse com duvidas. Ele
deixa uma ampulheta lá próxima, e diz que quando o tempo dela acabar ele
retornará para aquela dimensão para julgar se ele já sofreu o suficiente e
talvez o libertar.
A cada ciclo aleatório de tempo uma
imagem de Icelo aparecerá naquele lugar, por horas ele irá encarar Ramiel,
esperando todas as suas maldições e ofensas, depois aguardará ate ele se
quebrar e começar a chorar e implorar, apenas para dizer que ainda não, que
voltará em breve, mas não é verdade.
Icelo sela aquela dimensão para sempre,
para que nem ele possa retornar para lá, Ramiel esta condenado para sempre. Mas
antes de partir ele parte o maxilar do anjo com um soco, deixando-o com uma
expressão que lembra um sorriso.
Não
perca a esperança Ramiel, ela é a única coisa que lhe restou. – diz Icelo
enquanto abandona o anjo que fica a gritar
No templo da Esperança um portal se abre
e Icelo o atravessa, voltando para o lugar onde tinha confrontado Ramiel. No
chão ele observa Dante, ele esta desacordado, encostado a um dos pilares, ainda
bastante ferido pelos sucessivos ataques recebidos.
Revele-se,
apareça, saia das sombras. Veja o resultado daquilo que você arquitetou. –
disse Icelo
Então Gremory se revela, o demônio que
era como um discípulo de Icelo, que o seguiu ate o inferno e que junto com ele
tinha grandes planos para levar o caos a guerra entre o paraíso e o inferno,
ate que o demônio dos sonhos o abandonou por causa de Eurídice, por muito tempo
ele odiou e decidiu se vingar, planejou várias formas de atingir seu antigo
mestre.
Mas no fim, naquele momento, quando viu
Icelo regressando ao paraíso com Rafael, ele soube que não queria matá-lo,
queria apenas que ele voltasse a ser o que era. Desse modo ele o guiou,
levando-o ate o templo de Ramiel porque sabia como o anjo lutava, e imaginava
qual seria o resultado daquele confronto.
Bem
vindo de volta Icelo, príncipe do caos. – disse Gremory
–
Fico contente em ver que tudo resultou como esperado, eu sabia que você se
superestimaria, que o seu novo modo de ser o faria ser derrotado. Aquela
técnica o tornava deus naquela dimensão, mas ao invés de agir como um você
aumentava a força do seu inimigo para assim ter uma luta divertida.
–
Então alguém tão orgulhoso, tão doente quando Ramiel poderia despertar o melhor
do senhor de volta. E foi o que aconteceu. E bem a tempo, a guerra esta no seu
auge, o conflito aperta, muito sangue já foi derramado, mas ainda há muito mais
para ser.
Icelo encara Gremory por algum tempo, se
aproxima dele e então segura sua nuca e o aproxima de si, abraçando-o, logo em
seguida dá um tapa o derrubando.
Foi
exatamente por isso que o deixei quando fui para o mundo dos sonhos Gremory, adoração
me entendia, a direcionada a mim ainda mais. Durante todo esse tempo fez
pequenas travessuras, algumas maldades, mas nada de relevante, me pergunto
quantas chances perdeu por ter tido medo de agir. – disse Icelo
–
Ahh Gremory, você acredita ser um agente do caos, acha que o que fazemos faz
parte de algum desígnio divino, que Deus nos fez defeituosos para sermos a
desordem em meio a ordem. Não poderia estar mais enganado.
–
Olhe para si mesmo Gremory, você é uma caricatura, aquilo que você achou que me
agradaria, moldou a si mesmo a partir do que imaginou que eu queria. Você não é
como eu, não somos iguais.
–
Você escolheu o caos porque se sentiu perdido quando Ele se foi, eu escolhi
esse caminho porque queria desafiar ao destino que Ele escreveu, queria fazê-lo
estar errado, bagunçar o que Ele criou e planejou para o universo e todas as
criaturas.
–
Não é meu companheiro Gremory, eu estou sozinho como sempre estive desde que
Ele me criou, como sempre deveria ter estado, me desviei do meu caminho, mas
felizmente você me ajudou a me reencontrar, sou grato a isso tanto quanto um
doente terminal é grato por saber o seu diagnostico.
–
Eu voltei para o jogo, e o vejo predeterminado, é algo que não posso aceitar, é
hora de derrubar o tabuleiro e reorganizar as peças.
Icelo então caminha para a saída do
templo deixando para trás um Gremory em lágrimas, furioso ele tenta atacar seu
antigo mestre, sendo vencido rapidamente, um grande raio de energia transpassa
o coração dele ao mesmo tempo em que acende a chama do templo, criando assim
parte da trilha ate o castelo de Miguel.
Enquanto caminha para fora ele toca com
a mão nos pilares do tempo, destruindo-os, quando ele coloca os pés fora o
lugar inteiro desaba, deixando lá o corpo de Gremory e um Dante desacordado.
Lentamente Icelo caminha ate um lugar
onde possa ter uma boa visão da batalha que se desenrola nos céus, milhares de
anjos e demônios se chocando, espadas sendo brandidas, onda de impacto que
faziam o céu tremer, sangue, membros e corpos se amontoando no solo. O demônio
dos sonhos então levanta a sua voz se fazendo ouvir por todo o céu.
Eu
vejo os céus tingidos de vermelho, eu vejo o solo se banhando em sangue, mas
apenas nosso, e então eu me pergunto o porquê disso. – disse Icelo
–
Pensem no motivo de estarem lutando, no objetivo final de ambos os lados, se
não sabem qual é eu vos direi. As almas dos humanos, os fragmentos de Deus que
Lúcifer queria para ressuscitá-lo e Miguel quer para se tornar um novo Deus.
–
Então deixem-me novamente perguntar, por que estão se matando e reduzindo suas
forças quando ainda nem conseguiram o que queriam.
–
O que eu quero dizer é, primeiro ceifem, façam a grande colheita, ai sim,
depois batalhem pelos despojos de guerra.
–
A humanidade, ela é motivo de tudo isso estar acontecendo, de estarmos a nos
chacinar como animais, eu digo, levem a morte ate eles, que eles caiam junto
conosco, vão, ataquem o mundo dos homens.
Tabuleiro bagunçado, ele pensou enquanto
sorria.
Grande capítulo, um dos melhores, a batalha de Icelo foi bem violenta, o lado caótico dele tomou conta da luz que existia por causa de Euridice, Gremory foi facilmente destruido depois de perceber que não foi mais que um mero empregado todo esse tempo e que os seus atos não fizeram o seu mestre o reconhecer como igual, agora com Icelo mandando todos atacando os humanos a história entra na sua maior fase, estou mesmo com vontade para ver o que sucede =p
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