Mark havia cortado seu pulso, o sangue
jorrava abundantemente, bem como dos vários ferimentos que tinha pelo corpo, e
também dos seus olhos que choravam sangue.
Ele usava isso como um catalisador, o
sangue une a carne e o espírito, naquele estado de quase morte Mark era capaz
de usar ao máximo sua energia espiritual, era o triunfo da alma sobre a
matéria, durante alguns instantes ele teria grande poder, podendo usar todo o
potencial oculto da sua alma.
Mas era uma técnica fatal, a perda de
tanto sangue serial fatal para qualquer ser humano, era um sacrifício, o grande
brilho de uma estrela antes dela extinguir-se.
Valefar estava surpreso, já tinha visto
inúmeras vezes humanos se suicidando, usando isso como um modo de fugir de seus
infernos pessoais, contudo o que Mark estava fazendo era diferente, aquilo não
era uma fuga, era um ato desesperado de alguém que queria viver, que tinha
motivos para lutar que eram mais importantes do que sua própria vida.
Pela primeira vez ele sentiu respeito
por um humano, aquilo na sua frente podia ser um boneco de barro imundo, o
maior erro de Deus, mas como um guerreiro ele agora o respeitava, ate mesmo
entre os anjos existem aqueles que temem e hesitam diante da morte, é o
instinto natural de qualquer criatura, a vontade de tentar sobreviver.
E aquele humano estava indo contra esse
instinto, disposto a jogar fora a própria vida para vencer uma luta perdida.
Afinal, os humanos nunca seriam capazes de derrotar Lúcifer e Miguel.
Existia outro sentimento que Valefar
estava sentindo, mas ele não conseguia identificá-lo, não conseguia nomear ou
expressar aquilo que sentia, era algo novo para aquele anjo caído, chamava-se
medo.
Mark caminhava ate ele tendo a grande
pirâmide em suas costas, Valefar estava no grande caminho estreito que separava
as sepulturas que queimavam os condenados.
O respeito que Valefar agora sentia fez
com que ele decidisse lutar de modo sério, usando toda sua força, a medida que
ele aumentava sua energia grandes asas cresciam em suas costas rasgando o
colete negro que usava, os condenados recuavam diante desse poder, afundavam
mais em direção ao fogo tentando fugir daquela energia que os esmagava.
Segurando a espada sagrada, Amém, com o
braço que ainda conseguia mover, Mark correu em direção ao anjo caído que
defendeu-se com um pequeno punhal, uma adaga curvada que ele manipulava com
destreza.
A colisão entre as armas causava grande
impacto provocando ondas de choque, ao mesmo tempo em que duelavam com as armas
também se atacavam com chutes para tentar desestabilizar um ao outro.
Valefar já tinha visto várias aberturas
na postura de Mark, mas não conseguia atacar, pressentia que aquilo era uma
armadilha, ele deixava expostos apenas pontos não vitais, e no momento em que
ele atacasse sabia que receberia um contra golpe.
Depois de algum tempo Valefar recuou,
percebia que Mark começava a se cansar, que a perda de sangue logo o mataria
sem que ele tivesse que fazer nada. Contudo ainda assim sentia que precisava
terminar logo com aquilo, que se subestimasse o inimigo isso seria fatal.
O anjo levantava voo e agora atacava com
grandes estocadas, depois de voar por algum tempo descia subitamente desferindo
poderosos ataques, Mark conseguia se defender, mas a força do impacto era tão
grande que seus pés afundavam no solo.
O garoto percebia que não resistiria por
muito tempo, precisava terminar logo aquela luta, mas primeiro precisava selar
os movimentos de Valefar, a esperança de Mark era conseguir dar um único grande
ataque, uma aposta arriscada, mas algumas vezes precisamos ter fé e acreditar
no melhor.
Quando Valefar novamente voou em direção
a Mark para atacar ele sentiu aquela determinação e poder que emanavam do corpo
dele, o anjo então recuou, foi quando o garoto saltou em direção a ele, e por
um segundo o sangue que jorrava do seu corpo formou asas no seu corpo.
Com este impulso Mark alcançou Valefar,
que tentou se defender, mas teve a mão cortada, e então a lâmina da Amém, que
já tinha se tornado rubra coberta com o sangue de Mark, realizou um milagre,
atravessou o coração do anjo, matando-o.
O corpo do anjo caiu sem vida dentro de
um dos túmulos, em uma cena terrível os condenados se amontoavam para conseguir
alcançar o corpo, como animais o dilaceravam, atacavam com fúria, comiam partes
dele.
Por um momento Mark mostrou o melhor do
ser humano, a determinação e vontade inabaláveis, a força para lutar por
aqueles que amamos que nos torna capazes de milagres e em seguida viu o pior do
homem, aquilo em que a dor, o ódio, o rancor e os sentimentos negativos podem
nos transformar.
Mark sentia frio, estava pálido,
continuava a perder sangue, não conseguia sequer permanecer de pé, se arrastava
para tentar encontrar a saída daquele círculo, tentou escalar a pirâmide mas
parou no meio das escadarias, deixando no caminho uma trilha de sangue, por
mais que tentasse lutar não conseguia resistir, lentamente sentia sua
consciência o abandonando.
Dante caiu no meio de um bosque, enquanto
ele despencava Icelo lentamente descia ate tocar o solo com suavidade.
Então
você me seguiu? – perguntou Dante
Mark
ainda é o meu preferido, ele é o mais importante, mas neste momento você é mais
útil para mim. – disse Icelo cantarolando
–
Ou sou o único idiota o suficiente para aceitar um acordo com você.
–
Pode ter a seriedade de Zachary, mas graças ao bom Deus tem o bom humor de sua
querida mãe.
Dante avançou contra Icelo, jogando
contra uma das árvores e apertando seu pescoço.
Acho
que precisaria da outra mão para me sufocar. – disse Icelo com dificuldade
Dante então o soltou deixando cair no
chão.
Nunca
mais fale sobre a minha mãe, se fizer esse tipo de brincadeira de novo eu mato
você. – disse Dante com seriedade
Acho
que você tem um problema para controlar sua raiva, não me admira que tenhamos
vindo para esse lugar. – disse Icelo
–
Onde estamos?
–
Que surpresa, passou dez anos por aqui e não reconhece o lugar, acho que ficou
apenas na prisão e não chegou a conhecer o resto do ambiente. Bem, não tem
problema, agora o apresento o lugar.
As palavras de Icelo abalaram Dante, ele
se deu conta de onde estava, no sétimo círculo infernal, o lugar dedicado
àqueles que pecaram por violência. Era o lugar onde Dante tinha estado durante
o período que ficou no inferno.
Foram dez anos que pareceram como dez
séculos, onde todos os dias Dante era torturado incessantemente, sendo
espancando ate quase morrer, em seguida era curado apenas para ser chicoteado,
distorciam sua noção de tempo para fazer ele sentir o máximo de dor possível.
Diziam a ele que a tortura duraria
quinze minutos e então deixavam um relógio na sua frente, para que ele pudesse
ver o tempo passar, ansiar pelo avanço do relógio, implorar para que o ponteiro
corresse mais rápido, e ele arrastava lentamente, e em alguns momentos ate
mesmo recuava, enquanto isso o som dos gritos dele se misturava as gargalhadas
sádicas dos demônios que o espancavam.
Por mais forte que fosse Dante sentiu
medo, seu corpo tremia, era como se estivesse tendo uma crise de pânico, suava,
sentia o mundo se fechando em volta dele, com as mãos apertava o próprio corpo
tentando se aquecer, tentado se proteger de inimigos que o atormentaram por dez
anos.
Foi
algo que eu disse? – disse Icelo ironicamente
Em seguida o anjo deu um forte soco no
rosto dele fazendo-o cair, o ataque fez Dante recuperar-se da crise, e mais do
que isso, o golpe que o fez ser atirado para frente o salvou, um estranho
monstro tinha atacado.
Icelo encarou a criatura que era uma
espécie de javali monstruoso e deformado e ela fugiu assustada.
Mais calmo Dante começou a reparar no
cenário a sua volta, o bosque em que estavam tinha árvores distorcidas, com
aparência humana, era formada por suicidas, que ao chegarem ao inferno se
tornavam naquelas árvores, que eram sempre atacadas pelos bizarros animais que
habitavam aquele lugar.
Atravessando o bosque chegaram a uma
encosta, havia um caminho. A estrada era muito bonita, formada por várias rosas
vermelhas, ela levava ate uma pequena ilha localizada no centro de um lago.
Era um lago de sangue onde os condenados
se afogavam eternamente, aquele era o sangue das vitimas deles, assassinos e
outros criminosos, que para sempre ficariam afundando no sangue inocente que
derramaram.
Agora Dante começava a reconhecer o
lugar, aquela era a prisão para onde ele tinha sido levado há dez anos, o lugar
em que tinha sido torturado.
O caminho de rosas que levava ate lá era
belo, mas uma beleza que feria, o vermelho das rosas era do sangue do lago e
elas tinham terríveis espinhos que rasgavam a carne de quem se aproximava, era
como se ansiassem por mais sangue, por isso tinha espinhos que feriam a todos
que passassem por aquele lugar.
Quando terminou de atravessar a estrada
a calça de Dante tinha sido rasgada na parte de baixo, bem como os seus
sapatos, mostrando as marcas de algemas que ele tinha no calcanhar. Enquanto
isso Icelo atravessava pelo lago de sangue saltitando alegremente pisando na
cabeça das pessoas que se afogavam lá.
No momento em que chegam à entrada da
prisão o grande portão, que tinha imagens de gárgulas esculpida nela, se abre
para eles.
Entrar
foi fácil, o problema com as prisões é sempre sair. – disse Icelo
Grande capítulo, Mark teve uma grande batalha contra Valefar e acabou vencendo, matando o maldito, agora é a vez de Dante e Icelo (?) enfrentar um dos guardas, não sei qual foi o trato que fizeram e não sei de Icelo irá ajudar Dante a combater, lembrando que ele tem apenas um braço, a história está a ficar fantástica, esses últimos capítulos têm sido de grande qualidade, continue ^-^
ReplyDeleteAcho que depois dessa luta contra Valefar, Mark lavou a própria alma... Espero que tenha conseguido mostrar para si mesmo o quanto é ele importante naquele grupo, não como Nathaniel, mas como o próprio Mark. Foi uma luta até desesperadora, porque ele tinha um limite de tempo para acertar o anjo caído, caso contrário, acabaria morrendo pela perda de sangue... Foi interessante ver que Valefar até adquiriu um certo respeito por ele ao ver o método extremo que ele havia utilizado para conseguir vencê-lo, além de medo...
ReplyDeleteDante teve a infelicidade de cair no mesmo local onde foi torturado por anos, imagino o nervosismo dele agora. Será que ainda reside nele um medo de que pudesse ser capturado novamente e ser torturado pelos demônios de novo? Tive essa pequena impressão...
Agora o que veio a me surpreender é que Icelo também foi para lá. Confesso que eu morro de rir das provocações dele XD
Gostei bastante desse capítulo e do desfecho da luta de Mark contra Valefar, foi bem tensa! Quero ver como Dante e Icelo se sairão nesse círculo infernal... Ainda me pergunto qual foi o tipo de acordo que fizeram.
Enfim, estarei aguardando pelo próximo capítulo!