Tuesday 22 July 2014

Capítulo 63 - O sacrifício de sangue




Mark havia cortado seu pulso, o sangue jorrava abundantemente, bem como dos vários ferimentos que tinha pelo corpo, e também dos seus olhos que choravam sangue.

Ele usava isso como um catalisador, o sangue une a carne e o espírito, naquele estado de quase morte Mark era capaz de usar ao máximo sua energia espiritual, era o triunfo da alma sobre a matéria, durante alguns instantes ele teria grande poder, podendo usar todo o potencial oculto da sua alma.

Mas era uma técnica fatal, a perda de tanto sangue serial fatal para qualquer ser humano, era um sacrifício, o grande brilho de uma estrela antes dela extinguir-se.

Valefar estava surpreso, já tinha visto inúmeras vezes humanos se suicidando, usando isso como um modo de fugir de seus infernos pessoais, contudo o que Mark estava fazendo era diferente, aquilo não era uma fuga, era um ato desesperado de alguém que queria viver, que tinha motivos para lutar que eram mais importantes do que sua própria vida.

Pela primeira vez ele sentiu respeito por um humano, aquilo na sua frente podia ser um boneco de barro imundo, o maior erro de Deus, mas como um guerreiro ele agora o respeitava, ate mesmo entre os anjos existem aqueles que temem e hesitam diante da morte, é o instinto natural de qualquer criatura, a vontade de tentar sobreviver.

E aquele humano estava indo contra esse instinto, disposto a jogar fora a própria vida para vencer uma luta perdida. Afinal, os humanos nunca seriam capazes de derrotar Lúcifer e Miguel.

Existia outro sentimento que Valefar estava sentindo, mas ele não conseguia identificá-lo, não conseguia nomear ou expressar aquilo que sentia, era algo novo para aquele anjo caído, chamava-se medo.

Mark caminhava ate ele tendo a grande pirâmide em suas costas, Valefar estava no grande caminho estreito que separava as sepulturas que queimavam os condenados.

O respeito que Valefar agora sentia fez com que ele decidisse lutar de modo sério, usando toda sua força, a medida que ele aumentava sua energia grandes asas cresciam em suas costas rasgando o colete negro que usava, os condenados recuavam diante desse poder, afundavam mais em direção ao fogo tentando fugir daquela energia que os esmagava.

Segurando a espada sagrada, Amém, com o braço que ainda conseguia mover, Mark correu em direção ao anjo caído que defendeu-se com um pequeno punhal, uma adaga curvada que ele manipulava com destreza.
A colisão entre as armas causava grande impacto provocando ondas de choque, ao mesmo tempo em que duelavam com as armas também se atacavam com chutes para tentar desestabilizar um ao outro.

Valefar já tinha visto várias aberturas na postura de Mark, mas não conseguia atacar, pressentia que aquilo era uma armadilha, ele deixava expostos apenas pontos não vitais, e no momento em que ele atacasse sabia que receberia um contra golpe.

Depois de algum tempo Valefar recuou, percebia que Mark começava a se cansar, que a perda de sangue logo o mataria sem que ele tivesse que fazer nada. Contudo ainda assim sentia que precisava terminar logo com aquilo, que se subestimasse o inimigo isso seria fatal.

O anjo levantava voo e agora atacava com grandes estocadas, depois de voar por algum tempo descia subitamente desferindo poderosos ataques, Mark conseguia se defender, mas a força do impacto era tão grande que seus pés afundavam no solo.

O garoto percebia que não resistiria por muito tempo, precisava terminar logo aquela luta, mas primeiro precisava selar os movimentos de Valefar, a esperança de Mark era conseguir dar um único grande ataque, uma aposta arriscada, mas algumas vezes precisamos ter fé e acreditar no melhor.

Quando Valefar novamente voou em direção a Mark para atacar ele sentiu aquela determinação e poder que emanavam do corpo dele, o anjo então recuou, foi quando o garoto saltou em direção a ele, e por um segundo o sangue que jorrava do seu corpo formou asas no seu corpo.

Com este impulso Mark alcançou Valefar, que tentou se defender, mas teve a mão cortada, e então a lâmina da Amém, que já tinha se tornado rubra coberta com o sangue de Mark, realizou um milagre, atravessou o coração do anjo, matando-o.

O corpo do anjo caiu sem vida dentro de um dos túmulos, em uma cena terrível os condenados se amontoavam para conseguir alcançar o corpo, como animais o dilaceravam, atacavam com fúria, comiam partes dele.

Por um momento Mark mostrou o melhor do ser humano, a determinação e vontade inabaláveis, a força para lutar por aqueles que amamos que nos torna capazes de milagres e em seguida viu o pior do homem, aquilo em que a dor, o ódio, o rancor e os sentimentos negativos podem nos transformar.

Mark sentia frio, estava pálido, continuava a perder sangue, não conseguia sequer permanecer de pé, se arrastava para tentar encontrar a saída daquele círculo, tentou escalar a pirâmide mas parou no meio das escadarias, deixando no caminho uma trilha de sangue, por mais que tentasse lutar não conseguia resistir, lentamente sentia sua consciência o abandonando.

Dante caiu no meio de um bosque, enquanto ele despencava Icelo lentamente descia ate tocar o solo com suavidade.

Então você me seguiu? – perguntou Dante
Mark ainda é o meu preferido, ele é o mais importante, mas neste momento você é mais útil para mim. – disse Icelo cantarolando
– Ou sou o único idiota o suficiente para aceitar um acordo com você.
– Pode ter a seriedade de Zachary, mas graças ao bom Deus tem o bom humor de sua querida mãe.

Dante avançou contra Icelo, jogando contra uma das árvores e apertando seu pescoço.

Acho que precisaria da outra mão para me sufocar. – disse Icelo com dificuldade

Dante então o soltou deixando cair no chão.

Nunca mais fale sobre a minha mãe, se fizer esse tipo de brincadeira de novo eu mato você. – disse Dante com seriedade
Acho que você tem um problema para controlar sua raiva, não me admira que tenhamos vindo para esse lugar. – disse Icelo
– Onde estamos?
– Que surpresa, passou dez anos por aqui e não reconhece o lugar, acho que ficou apenas na prisão e não chegou a conhecer o resto do ambiente. Bem, não tem problema, agora o apresento o lugar.

As palavras de Icelo abalaram Dante, ele se deu conta de onde estava, no sétimo círculo infernal, o lugar dedicado àqueles que pecaram por violência. Era o lugar onde Dante tinha estado durante o período que ficou no inferno.

Foram dez anos que pareceram como dez séculos, onde todos os dias Dante era torturado incessantemente, sendo espancando ate quase morrer, em seguida era curado apenas para ser chicoteado, distorciam sua noção de tempo para fazer ele sentir o máximo de dor possível.

Diziam a ele que a tortura duraria quinze minutos e então deixavam um relógio na sua frente, para que ele pudesse ver o tempo passar, ansiar pelo avanço do relógio, implorar para que o ponteiro corresse mais rápido, e ele arrastava lentamente, e em alguns momentos ate mesmo recuava, enquanto isso o som dos gritos dele se misturava as gargalhadas sádicas dos demônios que o espancavam.

Por mais forte que fosse Dante sentiu medo, seu corpo tremia, era como se estivesse tendo uma crise de pânico, suava, sentia o mundo se fechando em volta dele, com as mãos apertava o próprio corpo tentando se aquecer, tentado se proteger de inimigos que o atormentaram por dez anos.

Foi algo que eu disse? – disse Icelo ironicamente

Em seguida o anjo deu um forte soco no rosto dele fazendo-o cair, o ataque fez Dante recuperar-se da crise, e mais do que isso, o golpe que o fez ser atirado para frente o salvou, um estranho monstro tinha atacado.

Icelo encarou a criatura que era uma espécie de javali monstruoso e deformado e ela fugiu assustada.

Mais calmo Dante começou a reparar no cenário a sua volta, o bosque em que estavam tinha árvores distorcidas, com aparência humana, era formada por suicidas, que ao chegarem ao inferno se tornavam naquelas árvores, que eram sempre atacadas pelos bizarros animais que habitavam aquele lugar.

Atravessando o bosque chegaram a uma encosta, havia um caminho. A estrada era muito bonita, formada por várias rosas vermelhas, ela levava ate uma pequena ilha localizada no centro de um lago.

Era um lago de sangue onde os condenados se afogavam eternamente, aquele era o sangue das vitimas deles, assassinos e outros criminosos, que para sempre ficariam afundando no sangue inocente que derramaram.  

Agora Dante começava a reconhecer o lugar, aquela era a prisão para onde ele tinha sido levado há dez anos, o lugar em que tinha sido torturado.

O caminho de rosas que levava ate lá era belo, mas uma beleza que feria, o vermelho das rosas era do sangue do lago e elas tinham terríveis espinhos que rasgavam a carne de quem se aproximava, era como se ansiassem por mais sangue, por isso tinha espinhos que feriam a todos que passassem por aquele lugar.

Quando terminou de atravessar a estrada a calça de Dante tinha sido rasgada na parte de baixo, bem como os seus sapatos, mostrando as marcas de algemas que ele tinha no calcanhar. Enquanto isso Icelo atravessava pelo lago de sangue saltitando alegremente pisando na cabeça das pessoas que se afogavam lá.
No momento em que chegam à entrada da prisão o grande portão, que tinha imagens de gárgulas esculpida nela, se abre para eles.

Entrar foi fácil, o problema com as prisões é sempre sair. – disse Icelo

Lá dentro por um monitor alguém os via entrar, e sorria maldosamente.      

2 comments:

  1. Grande capítulo, Mark teve uma grande batalha contra Valefar e acabou vencendo, matando o maldito, agora é a vez de Dante e Icelo (?) enfrentar um dos guardas, não sei qual foi o trato que fizeram e não sei de Icelo irá ajudar Dante a combater, lembrando que ele tem apenas um braço, a história está a ficar fantástica, esses últimos capítulos têm sido de grande qualidade, continue ^-^

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  2. Acho que depois dessa luta contra Valefar, Mark lavou a própria alma... Espero que tenha conseguido mostrar para si mesmo o quanto é ele importante naquele grupo, não como Nathaniel, mas como o próprio Mark. Foi uma luta até desesperadora, porque ele tinha um limite de tempo para acertar o anjo caído, caso contrário, acabaria morrendo pela perda de sangue... Foi interessante ver que Valefar até adquiriu um certo respeito por ele ao ver o método extremo que ele havia utilizado para conseguir vencê-lo, além de medo...
    Dante teve a infelicidade de cair no mesmo local onde foi torturado por anos, imagino o nervosismo dele agora. Será que ainda reside nele um medo de que pudesse ser capturado novamente e ser torturado pelos demônios de novo? Tive essa pequena impressão...
    Agora o que veio a me surpreender é que Icelo também foi para lá. Confesso que eu morro de rir das provocações dele XD
    Gostei bastante desse capítulo e do desfecho da luta de Mark contra Valefar, foi bem tensa! Quero ver como Dante e Icelo se sairão nesse círculo infernal... Ainda me pergunto qual foi o tipo de acordo que fizeram.
    Enfim, estarei aguardando pelo próximo capítulo!

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