Wednesday 16 July 2014

Capítulo 62 - Aquele que odeia a Deus




De seu trono aquele anjo caído viu Mark se aproximar, aquilo não o surpreendeu pois ele havia o notado desde que ele entrou no sexto círculo, era ele quem manipulava aquelas marionetes para atacar.

O anjo tinha a aparência de um homem muito belo, com longos cabelos negros, um rosto pálido que realçava olhos verdes, mas havia também maldade naquele olhar.

Ele sorria com os gritos dos condenados a queimar, parecia se regozijar com aquele aroma de carne humana queimando que enchia o ambiente, causando repulsa a Mark e ânsia de vomito.

Humanos invadindo o inferno, estou realmente surpreso, insetos são mesmo atraídos em direção as chamas. – disse o anjo caído
Esperava que ficássemos apenas assistindo vocês disputarem nossas almas como em um jogo? Vocês não são nossos donos. – respondeu Mark de modo furioso

A expressão do anjo caído mudou, de desinteresse agora ele observava Mark com repulsa e raiva.

Sabe que lugar é este humano? Este é o sexto círculo infernal, o lugar destinado aos hereges. O castigo eterno que merecem aqueles que ousam desafiar as divindades, que se opõem a vontade de Deus, que não acreditam Nele. Eu sou Valefar o responsável por castigar aqueles que cometem este pecado. – disse o anjo caído
Eu me nego a acreditar em divindades que brincam com a alma humana, em um Deus que permite tanto dor e sofrimento no mundo, que coloca tanto peso sobre as costas das pessoas. A vida de cada ser humano pertence apenas a ele mesmo, vocês não tem nenhum direito sobre nós. – disse Mark

Aquele era realmente o inferno ao qual Mark pertencia, desde que tudo isso havia começado ele tornou-se uma pessoa sem fé. Recusava-se a acredita naquilo tudo, odiava a Deus por ter lhe dado este fardo tão pesado, nunca havia pedido por isso, e essa maldição apenas tinha destruída toda sua família, machucado todas as pessoas que ele amava.

Ele não se considerava um presente, o “Último presente de Deus”, ele era uma maldição, algo que destruía tudo que tocava, já estava cansado de ver todos caírem ao seu redor, se sacrificando porque ele era mais importante, o destinado a salvar a humanidade.

Zachary, Simone, Strauss, seus pais, Katherine, todos eles acreditavam em Mark, mas ele não tinha sido capaz de fazer nada ate agora, apenas assistia impotente os cadáveres se acumulando ao seu redor.
Se Deus criou este mundo, a todos os anjos e depois a humanidade, se ele era onipotente, onisciente, então por que tinha permitido tudo aquilo?

Ele deveria saber que este seria o futuro, seus primeiros filhos os anjos se dividindo em facções e se matando em uma guerra civil, para em seguida passarem a torturar e rapinar as almas dos homens. E a raça humana igualmente perdida e condenada.

É claro que existem coisas boas no mundo, coisas pelas quais se vale a pena viver e lutar, mas a verdade é que a dor e o sofrimento são maiores. A vida humana é tão frágil que qualquer coisa pode tomá-la.

É um fardo tão pesado, há tanta dor, medo, solidão, duvidas, o vazio que cresce a cada dia quando olhamos ao redor e percebemos que não existe ninguém ao nosso lado, apenas um ser humano pode entender isso. Um Deus, um anjo, eles são incapazes de entender o que sentimos.

Por isso eles não têm o direito de nos julgar, de tomar nossas almas para eles, de dizer se somos bons ou ruins, se merecemos o paraíso ou inferno. Mark negava que eles tivessem qualquer direito sobre o destino dos humanos.

Eram estas coisas que Valefar havia lido da mente de Mark, era a primeira vez que sentia isso em um humano, nunca antes eles haviam questionado o direito de divino, apenas imploravam e choravam por suas vidas, pediam perdão pelos seus pecados e se flagelavam com esperança de isso os dar redenção.

Mas este humano tinha um anjo diante dele, estava preso em um circulo infernal e continuava a desafiar a Deus, Mark havia se tornado o maior herege.

Valefar decidiu que ele mesmo daria um fim àquilo, permitir que Mark vivesse por mais tempo seria um sacrilégio, levantou-se de seu trono e lentamente descia a escadaria da sua grande pirâmide para confrontar aquele humano que desafiava os anjos.

Strauss havia selado o poder de Mark, era uma forma de escondê-lo e protegê-lo enquanto ele não conseguia controlar todo aquele poder e ate que chegasse o momento da batalha decisiva, antes de se separarem Zachary o havia dito que esta era a hora, que ele não conseguiria avançar no inferno ate Lúcifer sem usar sua força divina.

Contudo, neste momento Mark se recusou a fazer isso, ele não podia, não naquele lugar, enquanto ouvia os gritos e o choro se milhares de pessoas. Por cada uma delas, e por ele mesmo, havia decidido que enfrentaria Valefar como um humano.

Este era o seu orgulho, mostrar àquele anjo caído o poder de um humano, provar que somos seres livres, que fazemos o nosso próprio destino, e ele não pode ser controlado ou decidido por nenhuma divindade, era uma declaração feita não por um Kroos, aquele que é “Último presente de Deus”, mas por um garoto de dezessete anos chamado Mark.

Salvar o mundo, lutar por todas as pessoas, arriscar a vida por desconhecidos e estranhos, isso era algo que ele era incapaz de fazer, ele não se achava um herói, mas havia algo que ele era capaz de fazer, proteger as pessoas que eram importantes para ele, e para fazer isso ele não podia se esquecer de quem ele era.

Esta era uma luta por algo mais que simples orgulho, era uma batalha onde Mark provaria sua existência.

Mesmo ainda trazendo os ferimentos da luta com as estatuas e da escalada, foi de Mark o primeiro movimento, impetuosamente avançou contra o anjo caído, sabia que nunca teria chances em um combate direto, então precisava usar alguma estratégia, começar atacando antes seria seu primeiro movimento.

Mark estava muito cansado e com as mãos feridas, não teria muita agilidade ao manusear a espada, sua melhor chance era tentar ataques físicos, e quando conseguisse uma abertura atacar com a espada sagrada para tentar decidir tudo em um único ataque.

Por vários anos ele foi treinado por Zachary, aprendendo como combinar o básico de vários estilos de luta, mas aquilo era nada diante do poder de um anjo caído. Chutes e socos mirando em partes vitais, fintas, esquivas, tudo que ele tentava parecia inútil.

Valefar não estava a brincar com Mark, mas avaliando suas capacidades totais, ele estava exausto e bastante desgastado, mas mesmo com força total ainda não seria capaz de vencê-lo.

Após se desviar de um dos socos de Mark, quando o punho passa ao lado do seu rosto, Valefar acerta uma cotovelada no braço, partindo os ossos do jovem, que grita de dor.

O anjo havia partido o braço dominante de Mark, o que ele usava para atacar com a espada, provavelmente tinha percebido a estratégia, e tinha acabado de destruí-la.

O que viria a seguir não era difícil de se imaginar, Valefar havia estudado as habilidades de Mark, visto o limite delas e em seguido destruído suas armas, agora que ele era inofensivo seria torturado e jogado naquelas sepulturas para queimar por toda a eternidade.

Com o braço que lhe restava Mark saca sua espada, Amém, ele não se entregará, esta disposto a resistir ate o último suspiro.

Em um segundo Valefar se aproxima dele e desfere dezenas de socos na barriga dele, Mark vomita sangue, e usa a espada de apoio para não cair. Lágrimas começam a correr pelo seu rosto, ele não esta com medo ou chorando pela dor, ele lamenta sua própria fraqueza.

No fim talvez a verdade fosse que ele é inútil, que Mark é apenas um receptáculo, que apenas Nathaniel importa. Enquanto ele se encontra perdido em pensamentos, já começando a delirar é novamente golpeado por Valafar, que corre em direção a ele e segura sua cabeça com as mãos, fazendo o rosto de Mark se chocar contra o solo, e o arrastando por vários metros, ate finalmente o atirar contra escadaria da pirâmide.

Completamente arrasado, com vários ferimentos pelo corpo, mas ele não queria se render, o gosto do sangue que preenchia sua boca o fez lembrar-se do que Strauss havia feito, aquele selamento, e a “carta”.

“Mulheres e crianças podem fraquejar, mas um homem nunca pode mostrar fraqueza. E você agora é um homem Mark.” Tentando juntar as frases e lembrar-se das palavras do seu avô que ele mal conhecerá, e uma parte agora estava gravada na sua mente, o Anjo de Sangue.

Strauss não era do tipo sentimental, ele não mostraria aquilo apenas por mostrar, se ele o fez deve existir um propósito, ele mostrou uma técnica proibida e suicida porque sabia que Mark poderia precisar dela. E agora ela era a única esperança dele.

Valefar não acreditou quando Mark se ergueu e apontou a espada em direção a ele, era um desafio, o garoto mostrava que sua determinação ainda não havia sido quebrada e que continuaria a lutar.

O sangue é aquilo que liga a carne ao espírito, a ligação entre o humano e o divino, em todas as culturas ele é considerado sagrado por isso. Por isso apenas quando em sacrifício aos deuses é permitido derramá-lo.

O Anjo de Sangue era uma técnica onde se usava o próprio sangue como um espécie de condutor, algo capaz de atingir e ferir divindades, ao custo da própria vida, de derramar o próprio sangue, ficando em um estágio de quase perda de consciência, onde a pessoa estava no limiar entre a vida e a morte.


Mark preparou seu espírito e então atingiu cortou o pulso com a espada, começando logo a sangrar abundantemente, seus inúmeros ferimentos também sangravam, seus olhos choravam sangue, ele não resistiria muito tempo, mas queria que fosse o suficiente para acabar com Valefar, que começava a sentir medo.   

2 comments:

  1. Otimo capítulo, Valefar parece um oponente bastante temível, conseguindo ler a mente de Mark, gosta de torturar psicilogicamente e Mark tentara uma tecnica bastante complicada.
    Gostei da descrição que fez do sexto circulo, um lugar de hereges, com os gritos daqueles que vão lá parar, pensar nisso é aterrador, você tem melhorado imenso nesse quesito, já lá vão 62 capitulos, é verdadeiramente incrivel ^-^

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  2. sse capítulo veio a me surpreender muito! Pensei que Mark usaria um pouco do poder de Nathaniel para lutar contra Valefar, mas me enganei legal! Eu até entendo o fato do Mark tentar lutar como humano, ele quer mostrar a si mesmo o valor que tem, que não é apenas Nathaniel ali que importa, mesmo que os familiares e amigos o amem como Mark.
    E parece que Valefar conseguiu utilizar bem as estátuas para estudar os movimentos de Mark durante aquela luta... O problema é que ele quebrou justamente o braço que Mark usava para empunhar a espada...
    Bom, mas dá para notar que Mark está empenhando ao máximo para vencer, vai usar até o Anjo de Sangue... Mas será que não seria um tanto arriscado?
    Como sempre, outro grande capítulo! Quero ver como vai ser o desfecho dessa luta, parece que o circo vai pegar fogo! Okay, o trocadilho foi infame e tosco, eu sei XD HEUEHUEHUEHUEUHE Creio que vai ser uma luta bem decisiva, já que quando estiver contra Lucifer, não poderá mais fraquejar ou duvidar de si mesmo...
    Estarei aguardando elo próximo capítulo!

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