De seu trono aquele anjo caído viu Mark
se aproximar, aquilo não o surpreendeu pois ele havia o notado desde que ele
entrou no sexto círculo, era ele quem manipulava aquelas marionetes para
atacar.
O anjo tinha a aparência de um homem
muito belo, com longos cabelos negros, um rosto pálido que realçava olhos
verdes, mas havia também maldade naquele olhar.
Ele sorria com os gritos dos condenados
a queimar, parecia se regozijar com aquele aroma de carne humana queimando que
enchia o ambiente, causando repulsa a Mark e ânsia de vomito.
Humanos
invadindo o inferno, estou realmente surpreso, insetos são mesmo atraídos em
direção as chamas. – disse o anjo caído
Esperava
que ficássemos apenas assistindo vocês disputarem nossas almas como em um jogo?
Vocês não são nossos donos. – respondeu Mark de modo furioso
A expressão do anjo caído mudou, de
desinteresse agora ele observava Mark com repulsa e raiva.
Sabe
que lugar é este humano? Este é o sexto círculo infernal, o lugar destinado aos
hereges. O castigo eterno que merecem aqueles que ousam desafiar as divindades,
que se opõem a vontade de Deus, que não acreditam Nele. Eu sou Valefar o
responsável por castigar aqueles que cometem este pecado. – disse o anjo caído
Eu
me nego a acreditar em divindades que brincam com a alma humana, em um Deus que
permite tanto dor e sofrimento no mundo, que coloca tanto peso sobre as costas
das pessoas. A vida de cada ser humano pertence apenas a ele mesmo, vocês não
tem nenhum direito sobre nós. – disse Mark
Aquele era realmente o inferno ao qual
Mark pertencia, desde que tudo isso havia começado ele tornou-se uma pessoa sem
fé. Recusava-se a acredita naquilo tudo, odiava a Deus por ter lhe dado este
fardo tão pesado, nunca havia pedido por isso, e essa maldição apenas tinha
destruída toda sua família, machucado todas as pessoas que ele amava.
Ele não se considerava um presente, o
“Último presente de Deus”, ele era uma maldição, algo que destruía tudo que
tocava, já estava cansado de ver todos caírem ao seu redor, se sacrificando
porque ele era mais importante, o destinado a salvar a humanidade.
Zachary, Simone, Strauss, seus pais,
Katherine, todos eles acreditavam em Mark, mas ele não tinha sido capaz de
fazer nada ate agora, apenas assistia impotente os cadáveres se acumulando ao
seu redor.
Se Deus criou este mundo, a todos os
anjos e depois a humanidade, se ele era onipotente, onisciente, então por que
tinha permitido tudo aquilo?
Ele deveria saber que este seria o futuro,
seus primeiros filhos os anjos se dividindo em facções e se matando em uma
guerra civil, para em seguida passarem a torturar e rapinar as almas dos
homens. E a raça humana igualmente perdida e condenada.
É claro que existem coisas boas no
mundo, coisas pelas quais se vale a pena viver e lutar, mas a verdade é que a
dor e o sofrimento são maiores. A vida humana é tão frágil que qualquer coisa
pode tomá-la.
É um fardo tão pesado, há tanta dor,
medo, solidão, duvidas, o vazio que cresce a cada dia quando olhamos ao redor e
percebemos que não existe ninguém ao nosso lado, apenas um ser humano pode
entender isso. Um Deus, um anjo, eles são incapazes de entender o que sentimos.
Por isso eles não têm o direito de nos
julgar, de tomar nossas almas para eles, de dizer se somos bons ou ruins, se
merecemos o paraíso ou inferno. Mark negava que eles tivessem qualquer direito
sobre o destino dos humanos.
Eram estas coisas que Valefar havia lido
da mente de Mark, era a primeira vez que sentia isso em um humano, nunca antes
eles haviam questionado o direito de divino, apenas imploravam e choravam por
suas vidas, pediam perdão pelos seus pecados e se flagelavam com esperança de
isso os dar redenção.
Mas este humano tinha um anjo diante
dele, estava preso em um circulo infernal e continuava a desafiar a Deus, Mark
havia se tornado o maior herege.
Valefar decidiu que ele mesmo daria um
fim àquilo, permitir que Mark vivesse por mais tempo seria um sacrilégio,
levantou-se de seu trono e lentamente descia a escadaria da sua grande pirâmide
para confrontar aquele humano que desafiava os anjos.
Strauss havia selado o poder de Mark,
era uma forma de escondê-lo e protegê-lo enquanto ele não conseguia controlar
todo aquele poder e ate que chegasse o momento da batalha decisiva, antes de se
separarem Zachary o havia dito que esta era a hora, que ele não conseguiria
avançar no inferno ate Lúcifer sem usar sua força divina.
Contudo, neste momento Mark se recusou a
fazer isso, ele não podia, não naquele lugar, enquanto ouvia os gritos e o
choro se milhares de pessoas. Por cada uma delas, e por ele mesmo, havia
decidido que enfrentaria Valefar como um humano.
Este era o seu orgulho, mostrar àquele
anjo caído o poder de um humano, provar que somos seres livres, que fazemos o
nosso próprio destino, e ele não pode ser controlado ou decidido por nenhuma
divindade, era uma declaração feita não por um Kroos, aquele que é “Último
presente de Deus”, mas por um garoto de dezessete anos chamado Mark.
Salvar o mundo, lutar por todas as
pessoas, arriscar a vida por desconhecidos e estranhos, isso era algo que ele
era incapaz de fazer, ele não se achava um herói, mas havia algo que ele era
capaz de fazer, proteger as pessoas que eram importantes para ele, e para fazer
isso ele não podia se esquecer de quem ele era.
Esta era uma luta por algo mais que
simples orgulho, era uma batalha onde Mark provaria sua existência.
Mesmo ainda trazendo os ferimentos da
luta com as estatuas e da escalada, foi de Mark o primeiro movimento,
impetuosamente avançou contra o anjo caído, sabia que nunca teria chances em um
combate direto, então precisava usar alguma estratégia, começar atacando antes
seria seu primeiro movimento.
Mark estava muito cansado e com as mãos
feridas, não teria muita agilidade ao manusear a espada, sua melhor chance era
tentar ataques físicos, e quando conseguisse uma abertura atacar com a espada
sagrada para tentar decidir tudo em um único ataque.
Por vários anos ele foi treinado por
Zachary, aprendendo como combinar o básico de vários estilos de luta, mas
aquilo era nada diante do poder de um anjo caído. Chutes e socos mirando em
partes vitais, fintas, esquivas, tudo que ele tentava parecia inútil.
Valefar não estava a brincar com Mark,
mas avaliando suas capacidades totais, ele estava exausto e bastante
desgastado, mas mesmo com força total ainda não seria capaz de vencê-lo.
Após se desviar de um dos socos de Mark,
quando o punho passa ao lado do seu rosto, Valefar acerta uma cotovelada no
braço, partindo os ossos do jovem, que grita de dor.
O anjo havia partido o braço dominante
de Mark, o que ele usava para atacar com a espada, provavelmente tinha
percebido a estratégia, e tinha acabado de destruí-la.
O que viria a seguir não era difícil de
se imaginar, Valefar havia estudado as habilidades de Mark, visto o limite
delas e em seguido destruído suas armas, agora que ele era inofensivo seria
torturado e jogado naquelas sepulturas para queimar por toda a eternidade.
Com o braço que lhe restava Mark saca
sua espada, Amém, ele não se entregará, esta disposto a resistir ate o último
suspiro.
Em um segundo Valefar se aproxima dele e
desfere dezenas de socos na barriga dele, Mark vomita sangue, e usa a espada de
apoio para não cair. Lágrimas começam a correr pelo seu rosto, ele não esta com
medo ou chorando pela dor, ele lamenta sua própria fraqueza.
No fim talvez a verdade fosse que ele é
inútil, que Mark é apenas um receptáculo, que apenas Nathaniel importa.
Enquanto ele se encontra perdido em pensamentos, já começando a delirar é
novamente golpeado por Valafar, que corre em direção a ele e segura sua cabeça
com as mãos, fazendo o rosto de Mark se chocar contra o solo, e o arrastando
por vários metros, ate finalmente o atirar contra escadaria da pirâmide.
Completamente arrasado, com vários
ferimentos pelo corpo, mas ele não queria se render, o gosto do sangue que preenchia
sua boca o fez lembrar-se do que Strauss havia feito, aquele selamento, e a
“carta”.
“Mulheres e crianças podem fraquejar,
mas um homem nunca pode mostrar fraqueza. E você agora é um homem Mark.”
Tentando juntar as frases e lembrar-se das palavras do seu avô que ele mal
conhecerá, e uma parte agora estava gravada na sua mente, o Anjo de Sangue.
Strauss não era do tipo sentimental, ele
não mostraria aquilo apenas por mostrar, se ele o fez deve existir um
propósito, ele mostrou uma técnica proibida e suicida porque sabia que Mark
poderia precisar dela. E agora ela era a única esperança dele.
Valefar não acreditou quando Mark se
ergueu e apontou a espada em direção a ele, era um desafio, o garoto mostrava
que sua determinação ainda não havia sido quebrada e que continuaria a lutar.
O sangue é aquilo que liga a carne ao
espírito, a ligação entre o humano e o divino, em todas as culturas ele é
considerado sagrado por isso. Por isso apenas quando em sacrifício aos deuses é
permitido derramá-lo.
O Anjo de Sangue era uma técnica onde se
usava o próprio sangue como um espécie de condutor, algo capaz de atingir e
ferir divindades, ao custo da própria vida, de derramar o próprio sangue,
ficando em um estágio de quase perda de consciência, onde a pessoa estava no
limiar entre a vida e a morte.
Mark preparou seu espírito e então
atingiu cortou o pulso com a espada, começando logo a sangrar abundantemente,
seus inúmeros ferimentos também sangravam, seus olhos choravam sangue, ele não
resistiria muito tempo, mas queria que fosse o suficiente para acabar com
Valefar, que começava a sentir medo.
Otimo capítulo, Valefar parece um oponente bastante temível, conseguindo ler a mente de Mark, gosta de torturar psicilogicamente e Mark tentara uma tecnica bastante complicada.
ReplyDeleteGostei da descrição que fez do sexto circulo, um lugar de hereges, com os gritos daqueles que vão lá parar, pensar nisso é aterrador, você tem melhorado imenso nesse quesito, já lá vão 62 capitulos, é verdadeiramente incrivel ^-^
sse capítulo veio a me surpreender muito! Pensei que Mark usaria um pouco do poder de Nathaniel para lutar contra Valefar, mas me enganei legal! Eu até entendo o fato do Mark tentar lutar como humano, ele quer mostrar a si mesmo o valor que tem, que não é apenas Nathaniel ali que importa, mesmo que os familiares e amigos o amem como Mark.
ReplyDeleteE parece que Valefar conseguiu utilizar bem as estátuas para estudar os movimentos de Mark durante aquela luta... O problema é que ele quebrou justamente o braço que Mark usava para empunhar a espada...
Bom, mas dá para notar que Mark está empenhando ao máximo para vencer, vai usar até o Anjo de Sangue... Mas será que não seria um tanto arriscado?
Como sempre, outro grande capítulo! Quero ver como vai ser o desfecho dessa luta, parece que o circo vai pegar fogo! Okay, o trocadilho foi infame e tosco, eu sei XD HEUEHUEHUEHUEUHE Creio que vai ser uma luta bem decisiva, já que quando estiver contra Lucifer, não poderá mais fraquejar ou duvidar de si mesmo...
Estarei aguardando elo próximo capítulo!