Após atravessar o portal e se separar do
resto do grupo Mark finalmente acorda, ele esta em um cenário completamente
devastado.
Um pequeno vale, mas estava totalmente
queimado, ainda saía alguma fumaça do solo, era um lugar muito quente. Em meio
ao caminho encontra ossos queimados, preferia pensar que fossem de animais,
embora soubesse que não eram.
Era difícil respirar naquele ambiente,
além da fumaça havia também o cheiro de carne queimada, os olhos dele também
sofriam bastante. O vento carregava muitas cinzas, elas se fixavam ao corpo de
Mark.
Aquela visão era desoladora, aquele vale
devia ter sido um lugar muito bonito, mas agora estava totalmente destruído
pelo fogo, o coração de Mark pesava enquanto ele pensava em como era difícil
construir alguma coisa, e uma simples faísca podia destruir tudo.
Conforme ele avançava o cenário mudava
um pouco, o solo estava morto, não havia nada alem de cinzas cobrindo-o. Ele
pensava no que aquelas cinzas haviam sido antes, talvez algo bonito, o sonho de
alguém que havia sido perdido.
Estava caminhando em um lugar que
simbolizava sonhos perdidos, havia dor e tristeza no ar, às vezes ele pensava
ouvir gritos trazidos pelo ar, pedidos de ajuda, desespero de pessoas sendo
queimadas vivas e clamando por ajuda que nunca viria.
Cada uma daquelas pessoas tinha seus
próprios sonhos e esperanças, mas os perderam, e se ele também nunca
conseguisse, e se Katherine estivesse perdida para sempre, e se Zachary e os
outros morressem e fossem condenados ao inferno por culpa de Mark. Era nisso
que ele pensava, e quando mais refletia sobre isso mais difícil ficava dar o
passo seguinte.
Uma parte dele começava a pensar que ter
esperança era algo inútil, apenas significava prolongar o sofrimento, se
desistisse agora pelo menos evitaria mais dor, não tinha força para seguir ate
o fim do caminho. As pessoas esperavam tanto dele, e ele não era capaz de
corresponder àquilo.
Então ele parou de caminhar, não sentia
mais aquele calor terrível, começava a ter frio, mas era fácil, sabia que se
parasse, se não fizesse nada logo aquilo terminaria, e no fim não sentiria mais
dor, o melhor era ficar ali para sempre.
Mas quando o frio invadia seu coração
ele começou a lembrar de Katherine, de Zachary, seus pais, Strauss e Simone,
tantas pessoas haviam se sacrificado para que ele pudesse ter chegado tão
longe, ele nunca poderia sequer pensar nelas novamente se desistisse agora,
eles o veriam como um covarde.
Recuperando um pouco da lucidez ele abre
os olhos e olha em volta, percebendo então o que estava acontecendo.
Ele estava cercado de centenas de
estatuas, deviam ser de almas que foram condenadas a este circulo infernal,
estavam cobertas de cinzas. Ele começou a entender, as cinzas que respirava,
que cobriam seu corpo desde que chegará lá afetavam seu coração de algum modo,
as lamentações dos outros condenados pesavam sobre ele, enfraquecendo sua
determinação.
Se ele tivesse parado e desistido teria
se tornado outra daquelas estatuas, mas ele sacudiu as cinzas do seu corpo e
voltou a caminhar. O ambiente era macabro, as estatuas tinham formas horríveis,
algumas pareciam chorar, outras gritar, mostravam ódio, rancor, eram almas que
estavam sofrendo ali por centenas de anos, e talvez continuassem a sofrer por
toda a eternidade.
No momento em que estava no meio das
estatuas Mark começou a ser atacado, as estatuas ganharam vida e se tornaram
agressivas.
Embora os movimentos delas fossem
mecânicos e relativamente fáceis de esquivar o problema era quantidade, eram
centenas, talvez milhares delas.
Habilmente ele sacou sua espada, que lhe
havia sido dada por Strauss, como um presente, uma relíquia de família, uma
arma que havia sido abençoada, enquanto ela era forjada, o tempo todo sempre
teve cinco monges rezando e impondo as mãos sobre a lâmina.
Aquela era a capaz de criar um milagre
para o guerreiro que a empunhasse, a espada chamada de Amém, que quer dizer:
Seja feita a tua vontade.
Zachary havia explicado para Mark o que
este nome significava, e a mensagem por trás do presente de Strauss, que aquilo
era o caminho que todo o homem deveria seguir, primeiro rezar e entregar seu
caminho a Deus, mas depois das orações ter força para avançar por conta
própria, não apenas esperar a ajuda divina, mas criar seus próprios milagres.
Com destreza e agilidade Mark atacava os
inimigos, cortava as estatuas, que continuavam a se mexer mesmo depois de ter
as cabeças decapitadas, os membros amputados também continuavam a atacá-lo, e
quanto mais ele demorava mais estatuas se amontoavam ao redor dele.
Ele sabia que não podia perder tempo
ali, se aquilo continuasse por muito tempo ele eventualmente seria derrotado, e
mesmo que vencesse estaria muito cansado e seria derrotado pelo próximo
inimigo. Sim, era isto, ele ainda não havia encontrado o verdadeiro inimigo, o
anjo caído que era o guardião daquele círculo. Devia ser ele o titereiro que
controlava todas aquelas estatuas.
Mark pensava que se tivesse as
habilidades em exorcismo de Simone ou a força em batalha de Dante ou a
inteligência de Zachary talvez pudesse se livrar daquelas estatuas, mas ele não
tinha, então tinha que fazer o melhor que pudesse sendo ele mesmo.
Ele era apenas um grande idiota teimoso
que iria ate o inferno por aqueles que amava, que nunca desistiria daqueles que
são especiais para ele, que mesmo sem estratégia avançaria e que no fim de
algum jeito encontraria um modo.
A mente dele parou de pensar
racionalmente, observar as centenas de estatuas cercando-o, ele se concentrou
apenas no que era realmente importante, cuidar das pessoas que ele jurou
proteger.
O corpo de Mark reagia sozinho, ele
esquivava dos ataques e retalhava as estatuas, instintivamente sabia o que
fazer, havia sido muito bem treinado por Zachary, quando deixou de pensar e se
deixou guiar pelos instintos percebeu a falha naquele ataque com tantas
estatuas.
Eram inimigos demais, mesmo um
habilidoso mestre de marionetes não poderia controlar todos eles adequadamente,
eles não tinham movimentos precisos, seguiam todos um mesmo padrão, que podia
ser aprendido.
Com movimentos rápidos e mudanças
súbitas de direção Mark os confundia, fazendo com que vários deles se
chocassem, ao mesmo tempo continuava a cortar, estava criando seu próprio
milagre, lutando para criar um futuro para aqueles que acreditaram e se
sacrificaram por ele.
Ele já havia desistido de tentar contar
o tempo desde que entrou no inferno, era sempre imprevisível, e apenas servia
para confundir, mas sabia que tinha passado quase duas horas naquilo, ate
finalmente achar um caminho e deixar as estatuas para trás.
O corpo de Mark estava bastante ferido,
cheio de arranhões e ferimentos, suas roupas estavam rasgadas, estava tão
cansado que quase não tinha forças para erguer a espada.
Tinha agora diante dele uma encosta
bastante íngreme, seus braços e pernas estavam exaustos, ele queria sentar e
descansar por um dia inteiro, sua garganta estava seca, ele suava muito por
causa do calor, sua condição física apenas se deteriorava.
Contudo, ele sabia que não podia
descansar muito, se ficasse muito tempo parado naquele lugar provavelmente as
estatuas o seguiriam e ele teria que enfrentar mais delas, e em um ambiente
como aquele, tendo uma montanha nas suas costas ele ficaria preso sem ter como
escapar, não podia ser emboscado ali. Mesmo exausto ele precisava começar a
escalar.
Usando as mãos ele começava sua
escalada, a rocha era afiada e magoava suas mãos, enquanto avançava seu corpo
era arrastado contra as pedras e rasgado, a medida em que subia deixava uma
trilha de sangue.
Seus braços fraquejavam, sua visão
ficava turva, ele então não teve força para agarrar em uma das pedras e
escorregou, por vários metros ele foi deslizando e tendo seu corpo perfurado
por pedras, ate conseguir se segurar com a outra mão. O corpo de Mark estava
bastante ferido, tinha pequenos ferimentos e sangramentos.
Cerrando os dentes com força e
aguentando a dor que sentia ele voltou a subir, um centímetro por vez, mas sem
parar, ao fim do que pareceram varias horas ele enfim terminou a subida. Quando
terminou descansou por alguns minutos, olhava para cima e não via nenhum sol,
noite e dia, frio ou calor, tudo devia ser controlado pelo guardião daquele
círculo.
Quando ele enfim se levantou e olhou
para frente percebeu onde estava, de acordo com as informações dadas por Icelo
aquela paisagem diante dele, um cemitério de fogo, aquilo era o sexto círculo
infernal.
De forma cuidadosa Mark desceu a encosta
e foi caminhando em direção ao cemitério, era uma imagem que destruiria as
mentes e corações mais fracos. Dentro de cada sepultura se amontoavam inúmeras
pessoas, ele gritavam e imploravam, choravam enquanto um fogo vinha de baixo e
os consumia.
Por um pequeno e estreito corredor Mark
caminhava, esta era a visão que ele tinha de ambos os lados, os condenados se
amontoavam uns sobre os outros, tentavam em vão escalar as covas que eram uma
prisão que os deixava ver a liberdade a poucos metros, mas sabendo que nunca poderiam
alcançá-la.
O calor era insuportável, o corpo de
Mark demonstrava sentir muito os efeitos da luta contra as estatuas e os
ferimentos para escalar a montanha. Então ele avistou, o anjo caído guardião
daquele círculo, que sequer fazia questão de se esconder.
Havia uma grande construção piramidal no
centro do cemitério, de lá sentado em um trono ele observava e se divertia com
aquela tortura eterna a que eram submetidos os condenados. Aquele era o anjo
que Mark deveria enfrentar e derrotar antes de poder avançar.
Otimo capitulo, melhorou imenso nas descrições dos locais consegui imaginar na minha mente tudo o que se passou, a batalha com as estatuas foi boa, ainda deixaram Mark ferido, mas o grande obstaculo está a chegar, ele não poderá falhar, a historia está avançando muito bem e sempre melhorando, dá gosto de ler e custa esperar uma semana para ter outro =P
ReplyDeleteBom, Mark infelizmente não caiu em um dos melhores lugares do Inferno... Quero dizer, menos ruins XD
ReplyDeleteDaquelas estátuas feitas de cinzas me fez lembrar sobre as trágicas estátuas humanas de Pompeia, algumas delas estavam em posições que demonstravam claramente o desespero que sentiam. Ainda bem que Mark não caiu nessa, senão ele também correria o risco de ficar exatamente como eles.
O problema maior foi que as estátuas começaram a se mexer. Pelo o que notei, parece que o Mark ainda se subestima demais... Mas ele se saiu muito bem na luta contra as estátulas.
O problema é que agora ele chegou no lugar em que terá um grande desafio. Fico imaginando se ele vai lutar contra esse demônio como Mark mesmo ou se ele lutará como Nathaniel... Bom, de qualquer forma, como ainda terão que enfrentar Lucifer, creio que poupar o máximo de energia seria o melhor a se fazer ali...
Muito bom o capítulo! Vou correndo ir ler o próximo, imagino que a luta vai ser tensa *w*