Wednesday 9 July 2014

Capítulo 61 - Renascer das cinzas




Após atravessar o portal e se separar do resto do grupo Mark finalmente acorda, ele esta em um cenário completamente devastado.

Um pequeno vale, mas estava totalmente queimado, ainda saía alguma fumaça do solo, era um lugar muito quente. Em meio ao caminho encontra ossos queimados, preferia pensar que fossem de animais, embora soubesse que não eram.

Era difícil respirar naquele ambiente, além da fumaça havia também o cheiro de carne queimada, os olhos dele também sofriam bastante. O vento carregava muitas cinzas, elas se fixavam ao corpo de Mark.

Aquela visão era desoladora, aquele vale devia ter sido um lugar muito bonito, mas agora estava totalmente destruído pelo fogo, o coração de Mark pesava enquanto ele pensava em como era difícil construir alguma coisa, e uma simples faísca podia destruir tudo.

Conforme ele avançava o cenário mudava um pouco, o solo estava morto, não havia nada alem de cinzas cobrindo-o. Ele pensava no que aquelas cinzas haviam sido antes, talvez algo bonito, o sonho de alguém que havia sido perdido.

Estava caminhando em um lugar que simbolizava sonhos perdidos, havia dor e tristeza no ar, às vezes ele pensava ouvir gritos trazidos pelo ar, pedidos de ajuda, desespero de pessoas sendo queimadas vivas e clamando por ajuda que nunca viria.

Cada uma daquelas pessoas tinha seus próprios sonhos e esperanças, mas os perderam, e se ele também nunca conseguisse, e se Katherine estivesse perdida para sempre, e se Zachary e os outros morressem e fossem condenados ao inferno por culpa de Mark. Era nisso que ele pensava, e quando mais refletia sobre isso mais difícil ficava dar o passo seguinte.

Uma parte dele começava a pensar que ter esperança era algo inútil, apenas significava prolongar o sofrimento, se desistisse agora pelo menos evitaria mais dor, não tinha força para seguir ate o fim do caminho. As pessoas esperavam tanto dele, e ele não era capaz de corresponder àquilo.

Então ele parou de caminhar, não sentia mais aquele calor terrível, começava a ter frio, mas era fácil, sabia que se parasse, se não fizesse nada logo aquilo terminaria, e no fim não sentiria mais dor, o melhor era ficar ali para sempre.

Mas quando o frio invadia seu coração ele começou a lembrar de Katherine, de Zachary, seus pais, Strauss e Simone, tantas pessoas haviam se sacrificado para que ele pudesse ter chegado tão longe, ele nunca poderia sequer pensar nelas novamente se desistisse agora, eles o veriam como um covarde.

Recuperando um pouco da lucidez ele abre os olhos e olha em volta, percebendo então o que estava acontecendo.

Ele estava cercado de centenas de estatuas, deviam ser de almas que foram condenadas a este circulo infernal, estavam cobertas de cinzas. Ele começou a entender, as cinzas que respirava, que cobriam seu corpo desde que chegará lá afetavam seu coração de algum modo, as lamentações dos outros condenados pesavam sobre ele, enfraquecendo sua determinação.

Se ele tivesse parado e desistido teria se tornado outra daquelas estatuas, mas ele sacudiu as cinzas do seu corpo e voltou a caminhar. O ambiente era macabro, as estatuas tinham formas horríveis, algumas pareciam chorar, outras gritar, mostravam ódio, rancor, eram almas que estavam sofrendo ali por centenas de anos, e talvez continuassem a sofrer por toda a eternidade. 

No momento em que estava no meio das estatuas Mark começou a ser atacado, as estatuas ganharam vida e se tornaram agressivas.

Embora os movimentos delas fossem mecânicos e relativamente fáceis de esquivar o problema era quantidade, eram centenas, talvez milhares delas.

Habilmente ele sacou sua espada, que lhe havia sido dada por Strauss, como um presente, uma relíquia de família, uma arma que havia sido abençoada, enquanto ela era forjada, o tempo todo sempre teve cinco monges rezando e impondo as mãos sobre a lâmina.

Aquela era a capaz de criar um milagre para o guerreiro que a empunhasse, a espada chamada de Amém, que quer dizer: Seja feita a tua vontade.

Zachary havia explicado para Mark o que este nome significava, e a mensagem por trás do presente de Strauss, que aquilo era o caminho que todo o homem deveria seguir, primeiro rezar e entregar seu caminho a Deus, mas depois das orações ter força para avançar por conta própria, não apenas esperar a ajuda divina, mas criar seus próprios milagres.

Com destreza e agilidade Mark atacava os inimigos, cortava as estatuas, que continuavam a se mexer mesmo depois de ter as cabeças decapitadas, os membros amputados também continuavam a atacá-lo, e quanto mais ele demorava mais estatuas se amontoavam ao redor dele.

Ele sabia que não podia perder tempo ali, se aquilo continuasse por muito tempo ele eventualmente seria derrotado, e mesmo que vencesse estaria muito cansado e seria derrotado pelo próximo inimigo. Sim, era isto, ele ainda não havia encontrado o verdadeiro inimigo, o anjo caído que era o guardião daquele círculo. Devia ser ele o titereiro que controlava todas aquelas estatuas.

Mark pensava que se tivesse as habilidades em exorcismo de Simone ou a força em batalha de Dante ou a inteligência de Zachary talvez pudesse se livrar daquelas estatuas, mas ele não tinha, então tinha que fazer o melhor que pudesse sendo ele mesmo.

Ele era apenas um grande idiota teimoso que iria ate o inferno por aqueles que amava, que nunca desistiria daqueles que são especiais para ele, que mesmo sem estratégia avançaria e que no fim de algum jeito encontraria um modo.

A mente dele parou de pensar racionalmente, observar as centenas de estatuas cercando-o, ele se concentrou apenas no que era realmente importante, cuidar das pessoas que ele jurou proteger.

O corpo de Mark reagia sozinho, ele esquivava dos ataques e retalhava as estatuas, instintivamente sabia o que fazer, havia sido muito bem treinado por Zachary, quando deixou de pensar e se deixou guiar pelos instintos percebeu a falha naquele ataque com tantas estatuas.

Eram inimigos demais, mesmo um habilidoso mestre de marionetes não poderia controlar todos eles adequadamente, eles não tinham movimentos precisos, seguiam todos um mesmo padrão, que podia ser aprendido.

Com movimentos rápidos e mudanças súbitas de direção Mark os confundia, fazendo com que vários deles se chocassem, ao mesmo tempo continuava a cortar, estava criando seu próprio milagre, lutando para criar um futuro para aqueles que acreditaram e se sacrificaram por ele.

Ele já havia desistido de tentar contar o tempo desde que entrou no inferno, era sempre imprevisível, e apenas servia para confundir, mas sabia que tinha passado quase duas horas naquilo, ate finalmente achar um caminho e deixar as estatuas para trás.

O corpo de Mark estava bastante ferido, cheio de arranhões e ferimentos, suas roupas estavam rasgadas, estava tão cansado que quase não tinha forças para erguer a espada.

Tinha agora diante dele uma encosta bastante íngreme, seus braços e pernas estavam exaustos, ele queria sentar e descansar por um dia inteiro, sua garganta estava seca, ele suava muito por causa do calor, sua condição física apenas se deteriorava.

Contudo, ele sabia que não podia descansar muito, se ficasse muito tempo parado naquele lugar provavelmente as estatuas o seguiriam e ele teria que enfrentar mais delas, e em um ambiente como aquele, tendo uma montanha nas suas costas ele ficaria preso sem ter como escapar, não podia ser emboscado ali. Mesmo exausto ele precisava começar a escalar.

Usando as mãos ele começava sua escalada, a rocha era afiada e magoava suas mãos, enquanto avançava seu corpo era arrastado contra as pedras e rasgado, a medida em que subia deixava uma trilha de sangue.
Seus braços fraquejavam, sua visão ficava turva, ele então não teve força para agarrar em uma das pedras e escorregou, por vários metros ele foi deslizando e tendo seu corpo perfurado por pedras, ate conseguir se segurar com a outra mão. O corpo de Mark estava bastante ferido, tinha pequenos ferimentos e sangramentos.

Cerrando os dentes com força e aguentando a dor que sentia ele voltou a subir, um centímetro por vez, mas sem parar, ao fim do que pareceram varias horas ele enfim terminou a subida. Quando terminou descansou por alguns minutos, olhava para cima e não via nenhum sol, noite e dia, frio ou calor, tudo devia ser controlado pelo guardião daquele círculo.  

Quando ele enfim se levantou e olhou para frente percebeu onde estava, de acordo com as informações dadas por Icelo aquela paisagem diante dele, um cemitério de fogo, aquilo era o sexto círculo infernal.

De forma cuidadosa Mark desceu a encosta e foi caminhando em direção ao cemitério, era uma imagem que destruiria as mentes e corações mais fracos. Dentro de cada sepultura se amontoavam inúmeras pessoas, ele gritavam e imploravam, choravam enquanto um fogo vinha de baixo e os consumia.

Por um pequeno e estreito corredor Mark caminhava, esta era a visão que ele tinha de ambos os lados, os condenados se amontoavam uns sobre os outros, tentavam em vão escalar as covas que eram uma prisão que os deixava ver a liberdade a poucos metros, mas sabendo que nunca poderiam alcançá-la.

O calor era insuportável, o corpo de Mark demonstrava sentir muito os efeitos da luta contra as estatuas e os ferimentos para escalar a montanha. Então ele avistou, o anjo caído guardião daquele círculo, que sequer fazia questão de se esconder.


Havia uma grande construção piramidal no centro do cemitério, de lá sentado em um trono ele observava e se divertia com aquela tortura eterna a que eram submetidos os condenados. Aquele era o anjo que Mark deveria enfrentar e derrotar antes de poder avançar.

2 comments:

  1. Otimo capitulo, melhorou imenso nas descrições dos locais consegui imaginar na minha mente tudo o que se passou, a batalha com as estatuas foi boa, ainda deixaram Mark ferido, mas o grande obstaculo está a chegar, ele não poderá falhar, a historia está avançando muito bem e sempre melhorando, dá gosto de ler e custa esperar uma semana para ter outro =P

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  2. Bom, Mark infelizmente não caiu em um dos melhores lugares do Inferno... Quero dizer, menos ruins XD
    Daquelas estátuas feitas de cinzas me fez lembrar sobre as trágicas estátuas humanas de Pompeia, algumas delas estavam em posições que demonstravam claramente o desespero que sentiam. Ainda bem que Mark não caiu nessa, senão ele também correria o risco de ficar exatamente como eles.
    O problema maior foi que as estátuas começaram a se mexer. Pelo o que notei, parece que o Mark ainda se subestima demais... Mas ele se saiu muito bem na luta contra as estátulas.
    O problema é que agora ele chegou no lugar em que terá um grande desafio. Fico imaginando se ele vai lutar contra esse demônio como Mark mesmo ou se ele lutará como Nathaniel... Bom, de qualquer forma, como ainda terão que enfrentar Lucifer, creio que poupar o máximo de energia seria o melhor a se fazer ali...
    Muito bom o capítulo! Vou correndo ir ler o próximo, imagino que a luta vai ser tensa *w*

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