Wednesday 2 October 2013

Capítulo 21 - O que foi deixado




Durante algum tempo Mark permaneceu em pé, encostado na janela, tentando seguir com os olhos uma trilha que já não existia mais, ela havia ido embora há muitas horas. No fundo ele sabia que apenas permanecia ali porque não sabia qual seria seu próximo passo, o que deveria fazer agora.
Ainda preso em seus pensamentos Mark não percebeu quando Zachary bateu na porta e em seguida entrou no quarto. Por algum tempo ele observou o garoto ali parado, estático, sem sequer perceber que ele havia entrado.

Esta tudo bem? – perguntou Zachary
Sim, estou apenas pensando sobre algumas coisas. – respondeu Mark
– Se quiser conversar sobre isso eu estou aqui.
– Você não precisa ser minha maldita consciência.
– Todos precisamos de ajuda em alguns momentos.
– Droga, só me de alguns dias esta bem, logo eu estarei pronto para a sua grande cruzada, para o apocalipse, para tudo isso. Mas agora eu quero ficar sozinho.

Respeitando a decisão de Mark, Zachary o deixou sozinho.  Sabia que nada do que dissesse ou fizesse adiantaria muito. Talvez o garoto só precisasse de algum tempo, ele havia surpreendido Zachary de tantas formas, quem sabe ele pudesse superar tudo isso também.
Depois de mais algum tempo sozinho em seu quarto Mark decidiu sair, caminhar um pouco talvez ajudasse a colocar os pensamentos em ordem. Ele achou que estava saindo sem rumo, apenas para se distrair, mas antes que pudesse perceber seus pés o haviam levado até a casa de Katherine.  
Algumas vezes Mark já havia ido até lá para encontrar com Katherine, às vezes a esperava para que fossem a escola juntos. Não havia conversado muito com os tios que cuidavam dela, mas eles pareciam ser boas pessoas.
Pensando que poderia dizer algo para eles, afinal eles deviam estar muito preocupados com ela.
Agora que estava lá ele hesitava, era difícil saber o que dizer, como explicar aquilo, saber quando ela retornaria, se estava tudo bem com ela. Mesmo sem ter todas as respostas e ainda imaginando quantas perguntas eles fariam, ou se apenas chamariam a policia achando que ele era louco, Mark se decidiu e bateu na porta.
Cada batida parecia ressoar como um trovão, cada batida o feria como se estivesse a atingir espinhos. Por alguns instantes ele pensou que talvez fosse melhor ir embora, esperar outro momento para falar com eles, mas antes que pudesse recuar a porta se abriu.
Sem conseguir encontrar as palavras certas, uma forma de começar Mark permaneceu em silêncio. Os tios de Katherine olhavam para Mark com uma expressão estranha, pareciam não reconhecê-lo, como se fosse a primeira vez que o viam. 
Finalmente Mark respirou fundo e começou a falar, quando disse que queria falar sobre Katherine viu uma expressão de tristeza em ambos. Mas a medida que ia falando e quando disse que queria falar sobre o desaparecimento dela a expressão de tristeza tornou-se raiva.
Se não fosse pela tia de Katherine que interveio e o segurou o tio dela teria batido em Mark, estava furioso. Para eles parecia que Mark estava a fazer algum tipo e brincadeira doentia.
O mundo girava, a cabeça de Mark doía, varias coisas que os tios de Katherine disseram se perderam em meio a confusão de sentimentos, mas algumas palavras ele gravou em seu coração, estas ele conseguiu perceber com toda a clareza. Foi quando o tio de Katherine disse que ela havia morrido há dois anos.
Mark balbuciou algumas palavras de desculpa, dizendo que havia sido tudo um terrível engano, em seguida apressadamente saiu de lá. No inicio caminhava, mas logo começou a correr, estava fugindo de tudo.
Entrou no bosque que ficava nos arredores da cidade, foi lá que tudo havia começado, talvez devesse ser lá que tudo fosse terminar. Ele pensava que queria respostas, mas agora desejava mais do que tudo o fim. Não queria entender o que estava acontecendo, haviam tantas coisas, e ele no meio de tudo aquilo sentindo sua vida ser guiada por forças que não entendia, e as pessoas que ele mais amava e confiava mentiam e escondiam coisas dele.
Por mais que parecesse perdido e sem rumo seu caminho o levou a um lugar que conhecia bem, chegou a árvore que ficava na região mais sombria do bosque. Aquele lugar o havia atraído assim que chegou a cidade, tinha algo lá, algum tipo de energia, enquanto ele meditava lá e tentava encontrar respostas ele viu aquela linda garota.
Quando a viu pela primeira vez sentiu algo, não era amor a primeira vista nem nada do tipo, foi como ver um espelho, ele percebeu nela tantas coisas que ele também tinha, e por isso ele sabia que precisava ajudá-la. Talvez se ela pudesse ser salva isso significaria que ele também podia ter esperanças.
Todas as lembranças pareciam perdidas, como se ele as tivesse deixado para trás enquanto corria, talvez se olhasse para trás reencontrasse coisas importantes que foram perdidas, mas tinha medo de ao olhar ver apenas mentiras e um grande vazio.
Mark havia perdido a noção do tempo, não sabia ao certo quantas horas havia passado naquele bosque, só percebeu quando viu que de uma bonita manha agora estava no meio da noite.
Ao longe conseguiu ouvir alguns passos, embora soubesse que não era ela seu coração por um momento acelerou, alimentando por esperanças sem sentido. Quando os passos se revelaram e a figura surgiu por entre as arvores Mark reconheceu que era Zachary. Após esperar por tanto tempo ele havia ficado preocupado com Mark e decidiu procurá-lo, principalmente depois de ir até a casa de Katherine.
Sentindo exausto e cansado de tudo Mark não discutiu nem argumentou, apenas seguiu Zachary ate eles chegarem à livraria. Durante todo o caminho eles permaneceram em silêncio.
Antes que Zachary pudesse começar a conversa Mark disse que precisava dormir e subiu indo até o seu quarto. Aquilo claramente era uma mentira, a cabeça dele estava cheia demais para que conseguisse dormir, e Zachary sabia disso.
Após algumas horas Zachary bateu na porta e entrou no quarto de Mark.

Depois de tudo aquilo com Icelo acho que vai demorar um bom tempo até que consigamos dormir normalmente. – disse Zachary
O que você quer? Sei que não veio aqui apenas por não conseguir dormir. – disse Mark
– Eu fui até a casa de Katherine, achei que precisávamos dizer algo aos tios dela, mas quando cheguei lá eles falaram que ela havia morrido há dois anos.
– Não foi nada demais, apenas outra mentira ou algum maldito jogo com a minha cabeça.
– Quando eles disseram que um garoto havia ido lá mais cedo e perguntando sobre ela também eu fiquei preocupado, não sabia como você reagiria a noticia.
– Estou reagindo muito bem, a garota que eu amava talvez nunca tenha existido, pode ter sido tudo apenas um maldito demônio no final. Ou quem sabe ainda estou sonhando, preso dentro de um mundo de ilusões criado dentro de um sonho.
– Não tenho todas as respostas, mas pelo que consegui entender a história que Katherine contou para você não era totalmente mentira. Ela apenas escondeu, ou talvez ela própria não soubesse de toda a história.
– O que você quer dizer com isso?
– Realmente houve um acidente na estrada que matou os pais dela, só que ela também estava dentro do carro quando o acidente aconteceu. Katherine deveria ter morrido naquele dia, mas algo aconteceu.
– Se o que você esta me dizendo é verdade, então é tudo muito maior do que eu imaginava, um simples demônio não conseguiria isso.
– Sinceramente eu ainda não sei toda a verdade sobre isso, talvez apenas Katherine possa nos dar todas as respostas sobre isso.
– Não preciso de respostas, acho que já tive o suficiente.
– Como assim?
– Tudo que tem acontecido nos últimos dias. Eu já não tenho certeza sobre o que é real, agora parece que tudo não passou de uma ilusão, como se desde o inicio ela estivesse jogando, brincando com a minha mente.
– Você sabe que não foi isso que aconteceu, seus corações se conectaram naquele momento, vocês puderam sentir um ao outro.
– Exato, e foi isso que me assustou. Eu vi uma grande sombra no coração, eu tinha alguma esperança de poder iluminá-la, mas agora que ela foi embora parece que ela foi engolida pelas trevas e no fim eu não pude fazer nada.
– Sabe o que eu vi no momento em que ela te trouxe volta Mark? Eu vi um coração disposto a se sacrificar, aquela foi a luz mais brilhante que já. Aquilo pode afastar qualquer sombra, acredite que ela pode se virar sozinha.
– E quanto a mim Zachary? Eu não sei se posso conseguir sozinho.
– Você pode Mark, existe uma grandeza em você. E eu não falo do seu destino ou do que esperam que se torne, eu falo isso porque eu conheci seu pai, porque eu conheço o legado dos Kroos.
– Eu já tinha essa sensação antes, que você escondia coisas de mim, que falava menos do que sabia, mas desde que vi aquilo tudo que Icelo nos mostrou isso se tornou uma certeza, agora é a hora Zachary, eu quero a verdade, sobre tudo.

– Tudo bem Mark, você tem razão, eu posso ter errado em tentar protegê-lo demais, talvez eu não tenha confiado o suficiente em você. Mas isso mudou, você cresceu alguns anos nesses dias, merece saber toda a verdade. 

2 comments:

  1. Que máximo, adorei =D

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  2. Outra grande reviravolta! Eu nunca imaginaria que a Katherine tivesse "morrido" há dois anos atrás. Fiquei realmente com pena do Mark.
    No final das contas, depois de tudo o que passou ao enfrentar Icelo, fica um tanto complicado de saber o quanto daquilo é real e o que é apenas um sonho.
    Além disso, Katherine tem se mostrado cada vez mais enigmática, talvez até mais que Icelo.
    Finalmente Zachary contará ao Mark sobre a família dele. Também estou curiosa em relação a isso.
    Enfim, sua fic está ótima! O enredo consegue prender bastante, e adoro a forma como você descreve o lado psicológico dos personagens. Sua escrita evoluiu bastante desde os primeiros capítulos até esse último.
    Enfim, estarei aguardando o próximo! :D

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