Thursday 19 March 2015

Capítulo 97 - Injustiça para todos




Zangan tentava se erguer depois do ataque sofrido, sua habilidade de corromper e invocar a entropia precisava que ele tivesse proximidade com o adversário, o que Kokabiel não permitia. Usando selos espalhados por todo seu templo ele controlava sua força espiritual a distância. Ele apenas a emanava do seu corpo e os vários selos agiam como um circuito a guia-los contra o alvo.

Diante de si Zangan tinha um dos anjos mais poderosos, ele já sabia disso antes da luta começar, mas ver aquele poder em ação diante dele era diferente, colocava as coisas em outra perspectiva, ele precisava mudar de estratégia se quisesse ter uma chance.

Durante algum tempo ele continua a sofrer os ataques de Kokabiel, defendendo-se como pode, mas acumulando cada vez mais danos em seu corpo, aquela não era uma batalha em que ele venceria desgastando o inimigo. A cada ataque a energia parecia ser maior do que no anterior, a força do anjo guardião não diminuía. Naquele ambiente era como se ele fosse um deus, ele podia atacar de todas as direções ao mesmo tempo.

Como contra-atacar isto? Como vencer um adversário assim lutando neste ambiente controlado por ele? Era o que Zangan se perguntava.

Ele tentava atacar, seus punhos acertavam o chão ou as paredes quando Kokabiel esquivava-se dos ataques, o poder venenoso contido nos ataque derretia os lugares atingidos, mas a cada ataque falho ele era golpeado pelo raios de energia que fluíam através do solo e do teto.

O anjo caído sentia para onde aquilo o estava levando, a cada ataque seu corpo sofria mais, a dor, o cansaço, os sentimentos conflitantes que surgem durante uma batalha e que não se consegue controlar, era isso que Kokabiel queria, que a mente dele fraquejasse para que ele pudesse entrar nela.

Imagine cada pequena decisão, cada escolha que já fez na vida, ir para a direita ou ir para a esquerda, ficar em casa ou sair, ir a igreja ou não, cada encontro com outras pessoas e como isso te mudou, como você às vezes foi apresentado ao pior e outras vezes ao melhor do que as pessoas podem oferecer.

Cada momento guardando um potencial infinito, um numero ilimitado de futuros possíveis, mas o que acontece quando se rouba uma vida? Você destrói várias coisas que poderiam acontecer, você aniquila um potencial que nunca se realizará.

Dentro da sua mente Zangan via cada anjo que ele tinha matado, e imagina o que aconteceria se não os tivesse matado, se algum deles podia ter sido decisivo na guerra, se ela teria tomado um rumo diferente, se as coisas hoje estariam melhores ou piores.

A filosofia pelo qual ele guiava a sua vida era de que uma vida vale outra vida, que este era o equilíbrio do universo, que quando interesses colidiam as pessoas entravam em conflito e no fim tudo se limitava a que uma vida deveria ser tomada para que outra pudesse seguir seu curso.

Pela primeira vez Zangan imaginou que talvez estivesse errado, que tomar vidas era algo fácil, que o realmente difícil era salvá-las. Destruir, matar, fazer o mal era mais fácil do que o contrário, mas para o que anjos tinham sido criados com tanto poder se não para isso, para fazer o difícil.

O anjo caído imaginava que aquilo era parte do método de Kokabiel, fazer o adversário ser confrontado por seus crimes, saber que aquele era o dia em que seus pecados finalmente o haviam alcançado. Morrer sendo derrotado porque seu adversário era mais forte é algo que um guerreiro esta pronto e pode aceitar, mas aquilo era diferente.

O anjo da justiça havia destruído todas as convicções e crenças de Zangan, agora ele não sabia o motivo de ter lutado ate hoje, estava destruído, ser derrotado neste momento seria muito doloroso, seria encarar o fim sabendo que nunca encontrou seu verdadeiro propósito para existir.

Talvez nunca tenha sido uma vida por outra, mas sim uma vida ajudando outra, ele se lembra de quem era antes da guerra, um anjo gentil que acreditava em entendimento e compreensão, que mudou depois de tomar uma vida, que inventou uma desculpa para isso, para ser capaz de viver consigo mesmo, e que precisava seguir matando, como se cada morte seguinte fosse uma justificativa da primeira.

Zangan queria gritar, fazer perguntas a Kokabiel, mas diante de si via o anjo que havia se mutilado para não mais ouvir ou falar, não viriam respostas dele, o guarda real de Lúcifer teria que encontrá-las por conta própria.

Mas aquilo ainda era uma batalha, as forças destrutivas deles ainda colidiriam, Kokabiel começou a sentir-se tonto e ter a visão embaçada. Quando ele percebeu o que aconteceu já era tarde.

Cada um dos vários ataques falhos de Zangan não tinham sido aleatórios, cada golpe venenoso liberava uma espécie de gás que pouco a pouco foi se dispersando pelo ar, Kokabiel havia sido derrotado no primeiro ataque.

Gostaria de poder curá-lo, de conversar com você, mas infelizmente meu poder apenas envenena e destrói, não posso o salvar como fez comigo, mas prometo aliviar seu sofrimento, vou matá-lo para que não sofra enquanto o veneno o percorre seu corpo. – disse Zangan
 – Tenho de agradecer pelas coisas que me fez ver. Eu posso ter tomado sua vida Kokabiel, mas você me venceu, derrotou o antigo Zangan, aquele nomeado de Peste por Lúcifer– Sei que não pode me ouvir, mas talvez possa ler meus lábios, ou ver dentro da minha mente o que estou dizendo. Você me relembrou quem eu costumava ser, e eu prometo que não vou esquecer novamente.
– Não estou mais aqui para lutar por lados, eu vou parar este conflito, chega de derramamento de sangue, vamos extinguir a nós e a todo este mundo nessa maldita guerra.

Nesse momento ele retira o capuz que sempre cobriu seu rosto e revela uma expressão bondosa, um rosto pálido e longos cabelos loiros caindo a frente dos ombros. O anjo da justiça o encara enquanto se contorce de dor no chão sentindo o poderoso veneno tomar sua vida.

Mas antes que Zangan pudesse matar Kokabiel um punho atravessa as suas costas, matando-o.

Eu gostava mais de você quando era louco, agora você ficou chato. – disse Gremory

Uma risada malvada ecoa por todo o templo, aquela voz irritante e aguda começa a gritar de prazer, era o Gremory, o ardiloso e cruel anjo caído que havia ajudado Vassago em seus planos de incriminar Lilith.

Sem remorsos ele elimina Zangan que havia se convertido e estava prestes a tentar parar o conflito, não era o que ele queria, Gremory queria assistir o céu queimar e sangue de anjos chover.

Com sua energia ele acende a tocha que fica no final do templo e libera o caminho para o castelo de Miguel, em seguida ele atira o corpo de Zangan nela para queimar. Durante algum tempo ele permanece lá para chutar o corpo de Kokabiel e torturá-lo, partindo no final sem matá-lo, já que sabia que ele sofreria mais se morresse pelo veneno. Gremory parte saltitando e atirando esferas de energia contra o templo.

Em outro lugar, Ravel acorda. Ele ainda esta desorientado, ele se lembra de ficar para trás enfrentando dezenas de anjos para que seus companheiros avançassem, ele achava que aquele seria o seu fim, e havia encontrado alguma paz nisso.

Ele olha para as coisas ao seu redor, esta em um bonito templo, havia uma rica decoração, candelabros e muitas peças de ouro, ele estava sentando e a sua frente uma mesa cheia de vários tipos de comidas, e na outra ponta da mesa uma linda mulher.

Por duas vezes ele fechou os olhos e tentou ver se estava mesmo acordado ou se era tudo apenas um sonho, aquela era a mulher mais bonita que ele tinha visto em toda sua vida, seu rosto fino e suave, os olhos verdes como esmeraldas, aqueles olhos tão sedutores como que a prometer os prazeres do amor, os longos cabelos loiros dela. Ele podia ficar a contemplando para sempre, mas foi interrompido quando ela começou a falar.

Olá Ravel. Espero que esteja melhor, estava bem perto da morte quando mandei os anjos o trazerem para cá. Ahh, é verdade que indelicadeza a minha, esqueci de me apresentar. Eu sou Camael a anjo guardiã do templo da fortaleza. – disse a bela anjo
Por que estou aqui? Por que me salvou? Eu sou um prisioneiro de guerra? Se acha que vai ter alguma vantagem por ter me capturado esta muito enganada, se pensa que vai me fazer revelar algo me torturando eu digo para fazer o seu pior, porque não vai conseguir. – bradava ferozmente Ravel socando a mesa ao final

Contudo, para sua surpresa Camael apenas ria, agia como um adulto ao ver uma criança fazendo birra, tentando agir como se fosse um adulto. Ravel ficava confuso e ao mesmo tempo furioso com aquilo. Percebendo a reação dele a anjo tentou o acalmar.

Desculpe se meu riso o deixou irritado, não estava zombando de você ou sua determinação, na verdade o admiro ainda mais, você é bem mais interessante do que julguei que fosse, fiz bem em trazê-lo para cá. – disse Camael
Não sei que tipo de jogo acha que pode fazer comigo, mas não vai funcionar. Se quiser me matar faça agora, porque se não eu juro que vou matá-la assim que tiver uma chance. – diz Ravel encarando-o enquanto tenta alcançar sua espada, mas nesse momento se da conta que não esta mais com ela

A espada esta nas mãos de Camael, que acaricia a lâmina enquanto o fio da espada. Ela então passa a espada por seu pescoço, mas ela é incapaz de ferir a pele dela.

Não se preocupe, não tenho intenção de feri-lo. – diz Camael enquanto lhe devolve a espada

– Segure a minha mão, vou te mostrar um mundo ideal. 

2 comments:

  1. Um otimo capítulo como sempre, o combate entre Zangan e Kokabiel foi brutal, o anjo conseguiu que o demónio se convertesse, adorei aquela explicação sobre os momentos da vida sendo feitos por escolhas, que se matar uma pessoa, varios momentos nunca se irão realizar, ficou perfeito, Zangan decidiu acabar com a guerra mas Gremory com seu sadismo matou o seu companheiro, ele se mostrou alguém muito cruel. No final temos o encontro de Camael com Ravel e shippei os dois por causa desse final <3

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  2. Interessante que apesar de não conseguir falar ou ouvir, o Kokabiel conseguiu mostrar o Zagan o outro lado das coisas. Ah, se eu fosse o Zagan, teria tentado libras pra comunicar com o anjo XD Vai que, né... XD
    Quando finalmente o Zagan entende seus propósitos e se redime, aparece o Gremory e estraga tudo! Que vontade de entrar na fic e esfolar a cara desse daí no asfalto >_>
    E pra piorar, ainda deixa o pobre Kokabiel lá agonizando de dor com os venenos.
    Agora é a vez de Ravel confrontar Camael. Será que ele vai conseguir seguir em frente com seus objetivos? Bom, isso aí só vou ver no próximo capítulo mesmo...
    Esse capítulo foi muito bom, me deixou bem dividida XD Por um lado, fiquei feliz por Zagan conseguir se redimir... Mas por outro... Ah, Gremory... Espero que a morte desse seja estupidamente dolorosa e humilhante D:

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