Friday 13 March 2015

Capítulo 96 - As marcas que carregamos




Zangan, um dos membros da guarda de elite de Lúcifer, um dos quatro cavaleiros do apocalipse, aquele chamado de Peste. No paraíso que um dia foi seu lar ele segue a estrada que o levará ate um dos sete templos que representam as virtudes necessárias para se chegar a salvação.

Vassago era leal a Lúcifer, o apoiaria em qualquer situação e sempre permaneceria ao seu lado. Icelo era imprevisível, suas ações eram motivadas por motivos desconhecidos, alguns diziam ser apenas pelo caos, ele não teve um motivo em especial para se juntar aos caídos, era fiel a ele mesmo. Dantalion era fiel a causa, ele acreditava ser o certo trazer Deus de volta, como a Estrela da Manhã defendia esta causa ele o seguiu.

Zangan era diferente dos outros três, ele era fiel aos mortos.

Durante a guerra Zangan lutou ao lado de Lúcifer porque acreditava ser o certo tentar trazer a Deus de volta, mas ele não achava que isso devia significar conflito, irmão contra irmão, no fundo ele acreditava que era possível resolver tudo de modo pacifico. Isso foi antes da primeira morte, quando o primeiro anjo morreu em batalha ele teve a sem sensação que aquilo nunca terminaria.

Foi quando ainda aturdido pela matança que acontecia em frente a ele que Zangan foi atacado por outro anjo, as palavras não eram proferidas, a cada vez que ele tentava falar um soco acertava o seu rosto, o gosto de sangue enchia sua boca, sua visão começava a ficar turva, ele iria morrer ali.

O anjo que o atacava era um antigo amigo, e agora defendendo a causa de Miguel odiava aqueles que lutavam pela causa de Lúcifer, diferenças ideológicas, opiniões opostas tinham sido o suficiente para fazer eles se odiarem e tentarem matar um ao outro, aquilo não fazia sentido para ele.

Os sucessivos ataques do anjo destruíam o corpo de Zangan, ele sabia que em breve morreria naquele lugar, foi quando algo dentro dele despertou, um sentimento, uma vontade, um instinto.

Ele não queria morrer daquele jeito, em um lugar como aquele, sem nem poder dizer o que queria, aquilo era sem sentido. O sentimento que invadiu seu coração era vontade de viver, ele temeu a morte e isso o acordou para a vida.

Quando o próximo ataque veio Zangan o segurou com a mão, com a outra acertou um soco no rosto de seu adversário, rapidamente ele se jogou sobre o inimigo ainda tonto pela força do golpe, caindo por sobre ele rapidamente colocou as mãos em volta do pescoço dele e começou a apertar.

Os olhos do anjo refletiam vários sentimentos: raiva, ódio, medo, súplica, e no fim nada, um vazio quando a vida o deixou.

Zangan pôde sentir aquele anjo implorar pela vida, assim como ele antes implorava, mas ele teve força para resistir e por isso sobreviveu, aquele que não teve força morreu. Uma vida pela outra, apenas ser o mais forte salva sua vida, estes forma os ensinamentos que ele teve naquele dia, são o que o guia ate hoje.

Depois deste dia Zangan mudou, tomava a frente nos combates, matava dezenas de adversários, sempre com as mãos, ele gostava de olhar nos olhos dele enquanto ceifava a vida deles. Queria que eles soubessem que aquele era o homem que lhes tomava o futuro.

A cada vida que roubava Zangan pensava no que tinha sido interrompido, que futuro aquela pessoa teria? O que aconteceria agora que aquele destino nunca se cumpriria?

Pensar que podia moldar destinos e futuros através das vidas que tirava foi uma ideia que o agradou, ele pensava que aquele era o poder de Deus, mas enquanto Ele fazia isso dando a vida, o modo de Zangan era trazendo a morte.

Por sempre matar usando as mãos, Zangan ficou conhecido por ter um toque mortal, como se o toque de suas mãos roubasse a vida, como uma doença, algo que apodrecia e fazia tudo ao redor fenecer.

Enquanto isto Zangan seguia no que acreditava ser o seu destino, matar aqueles mais fracos que ele, ate que surgisse um mais forte que pudesse roubar a dele. E hoje é o dia em que talvez ele encontre este ser mais forte que o matará.

Zangan usa uma roupa de couro com spikes de ferro, seu traje de batalha, sua roupa possui um capuz que encobre seu rosto, ele possui uma aparência agradável, longos cabelos loiros e um rosto belo, que esconde por julgar que aquele rosto pertence a outra pessoa, um nobre anjo do Senhor, não a um assassino, não é vergonha do que ele se tornou ou do que fez, é apenas ele aceitando que mudou.

Caminhando lentamente ele adentra o templo da Justiça, um lugar imponente e majestoso por fora, mas por dentro algo bem mais simples, um enorme espaço vazio, ocupado apenas pelos pilares que o sustentavam, e umas poucas velas que iluminavam o lugar, ao centro de tudo o anjo chamado de Kokabiel.

Usando uma simples túnica como a de um monge franciscano ele se mantinha sentando meditando. A aparência dele era um tanto chocante, ele era careca e possuía um rosto que parecia no passado ter sido belo, embora totalmente deformado, sua boca havia parecia ter sido queimada por uma lâmina quente, de modo que nunca mais se abrisse, e suas orelhas haviam sido decepadas.

Sua aparência era assustadora, mas talvez mais doentio que isto era saber que ele próprio havia feito isto, se cortado e mutilado, tudo em nome da justiça.

Ele não precisava de ouvidos para ouvir súplicas e lamentos, pedidos de misericórdia e tentativas de justificar pecados cometidos. Ele não precisava de uma boca para argumentar ou explicar o motivo das condenações, quando estivessem a ser julgados, todos olhariam para dentro de si mesmos e lá encontrariam o motivo de estarem sendo condenados.

Apenas seus olhos foram poupados, ele precisava deles para ver o mal sendo cometido, e assim poder partir em busca de justiça. A justiça dele não seria cega.

Embora justiça possa parecer um conceito variável no tempo e espaço, no fundo ele não é, é claro que existem variações, algumas regras que apenas alguns povos numa determinada época acreditam ser certo seguir. Contudo, existem valores que se pode dizer serem universais, a ideia de que matar é errado, a ideia de quão sagrada é uma vida.

Estes conceitos que se podem dizer eternos, essa justiça perfeita, ela representa algo anterior ao homem, a vontade divina. Esta ideia desde morte de Deus é defendida por um anjo louco que acredita ser a encarnação da justiça divina. Ele não esta do lado de Miguel, como também nunca ficaria ao lado de Lúcifer. Ele acredita que ao final do conflito caberá a ele julgar ambos, vencedores e perdedores.

Miguel sabe que mantém próximo uma besta que um dia poderá atacá-lo, mas a força dele era algo que ele sabia lhe seria útil um dia se o paraíso fosse invadido.

O anjo que representava a justiça contra o amaldiçoado que acredita que a vida é uma doença, que é preciso oferecer vidas a morte para permanecer vivo, uma vida pela outra. Assim que se olharam sabiam que a luta iria ate o fim, ate que um deles fosse morto.

Rapidamente Zangan corre ate Kokabiel, atinge seu pescoço com o braço e o atira contra o solo formando uma pequena cratera. Antes que consiga reagir ele tem um dos pilares do templo atirados contra o seu corpo.

Mas aquilo era apenas o começo, distrações de Zangan para que Kokabiel não percebesse seu real objetivo, ele precisava alcançá-lo com suas mãos, havia um toque de morte nelas, depois de matar tantos anjos com elas havia uma espécie de aura negra que corroia as coisas que ele tocava.

Kokabiel responde com uma amostra do seu poder, ele afasta todas as rochas atiradas contra ele, sua energia aumenta afastando Zangan, impedindo que o caído o toque. O anjo logo entendeu que precisava evitar as mãos do adversário, ele era forte e inteligente em lutas, principalmente porque sabia que justiça não existe sem a força para executá-la. Alguém fraco pode falar sobre justiça, mas sem poder serão apenas palavras bonitas e idealistas.

Aquele era apenas o inicio, ambos se estudando e analisando a força do outro, era óbvio que uma postura defensiva seria o ideal para Kokabiel contra um adversário que o impede de se aproximar, mas aquele ele era o lugar que ele guardava, ele tinha seu orgulho, a justiça não pode recuar e temer, deve avançar.

O guardião do templo da um grande golpe no solo fazendo todo o chão ceder e o piso se desmanchar, transformava o campo de batalha em algo irregular, era de se imaginar que ele usaria os detritos e escombros como meio de atacar sem se aproximar, mas era o oposto, Zangan errou ao achar que já sabia como Kokabiel lutava.

O anjo da justiça socava o solo e com isso fazia sua energia emergir através de buracos que se formavam onde seu inimigo estava, a cada ataque um gêiser de poder ascendia do solo em direção a Zangan, mesmo a distância Kokabiel conseguia atingi-lo.

Mas isto era apenas a primeira parte do ataque, o que o anjo caído não se deu conta era de que cada golpe no solo, e onde cada gêiser emergia tinham um propósito, ao todo seis ataques, e o ponto onde surgiam, formando um dodecaedro. Ele fazia uma espécie de selo, deixando marcas por onde sua energia pudesse fluir, quando percebeu Zangan estava no centro daquilo, sendo acertado em cheio pelo ataque.

Com o corpo ferido e sangrando Zangan encarava Kokabiel, ele sentia-se como da primeira vez que sua vida esteve ameaçada, o mesmo medo, o frio, aquele sentimento, ele sabia o que devia fazer para afastá-lo, uma vida por uma vida.

Ao mesmo tempo em que esta e outras lutas se desenrolavam, Rafael deixava sua dimensão e seu autoexílio ele rumava para algum lugar no mundo humano, a esta altura tudo desabava, a morte de Lúcifer e a energia transferida para Kali em tudo aquilo estremeceu toda a criação.

No mundo dos homens ele procurava aquele que mudaria o rumo da guerra e ajudaria a decidi-la. Não apenas pela força dele e porque ele lutaria, mas para o próprio Rafael, ele tinha duvidas em seu coração, ele queria conversar com aquele que era tão sábio quanto ele.


Por favor, perdoe a minha intromissão, sei que não queria ser incomodado, que esta farto de lutas e já conseguiu o que tanto almejava, mas precisamos conversar. – disse Rafael 

2 comments:

  1. Bom capítulo, explicando quem é Zangan, o mostrando como alguém forte e cruel, agora combate com o digimon kokabiel em um combate duro, a pergunta fica no ar com este final, quem irá Rafael visitar, um humano?

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  2. Apesar da maioria dos seus personagens ser bem profunda quando se trata de motivações e personalidade, achei que o Zagan ficou mais complexo que os outros, algo que acho muito interessante de se ver em fics XD
    Mesmo tendo essas motivações de matar os mais fracos e tals, ele ainda esconde a própria face angelical. Será que corre o risco dele se voltar contra os outros caídos e ajudar Miguel nisso? Sei lá... Ando meio desconfiada dele.
    Quanto a Kokabiel, confesso que tive dó quando o descreveu. Deve ser horrível a pessoa ser privada de determinados sentidos, e no caso dele, eram dois. Felizmente ele ainda pode enxergar. Fico imaginando como teria sido uma luta entre ele e Sallos... Acho que seria pura porrada e.e
    Gostei bastante do capítulo! Mesmo a fic tendo um grande número de personagens, você consegue deixá-los bem únicos. Está mandando muito bem o/

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