Capítulo 75 - O que estava oculto

Berith e Icelo seguindo com seu plano chegaram ate o oitavo círculo onde encontraram-se com Amon, mas este recusa-se a conversar com eles, ordenando que os demônios que lá estavam atacassem os visitantes.

Icelo estava acorrentando para manter o disfarce, cabia a Berith reagir àquela situação. O guardião do quarto círculo, o mais ambicioso dos anjos caídos, amigo de Miguel antes da guerra civil, era um dos que melhor o que conhecia, exatamente por isto escolheu o lado de Lúcifer.

Enquanto a Estrela-da-manhã era alguém obstinado, idealista, lutava por um propósito, Miguel queria poder, o fogo pelo poder que ardia nos olhos dele era o mesmo que havia nos olhos de Berith.

Enfrentar alguém como ele não seria a melhor estratégia, de alguém que não queria o poder para ele mesmo, como Lúcifer, provavelmente seria mais fácil tomar alguma ação. Ele sabia-se muito abaixo dos arcanjos, seu plano nunca foi confrontá-los diretamente. Pacientemente ele esperaria pela melhor oportunidade, usaria outros, os moveria como peões, ate conseguir seu objetivo de se tornar o novo deus.

Berith não cairia naquele lugar, ele ia lutar. Ele pegou uma adaga que trazia consigo e atirou para cima, ela começou a multiplicar-se, logo eram dezenas de adagas, e em cada uma havia um pequeno fio, quase invisível, elas estavam ligados aos dedos dele.

Com um movimento sutil elas vieram como chuva, uma onda letal que dizimou quase todos os demônios, alguns poucos que se esquivaram foram mortos por uma segunda onda de ataques, era impressionante a precisão e o controle que ele possuía.

Um único demônio escapou refugiando-se junto de Amon, esperando que o mestre o protegesse, o anjo caído foi ate ele e gentilmente o abraçou, enquanto todas as lâminas perfuravam suas costas.

Bem, passaram no primeiro teste, agora que se livraram do lixo podemos conversar a vontade. – disse Amon

Entendo, então temia os espiões de Lúcifer. – disse Berith

– Acho que você melhor do que ninguém deve saber o quanto prudência é importante para conspiradores. Se Lúcifer soubesse o que você planeja sua cabeça teria sido cortada há muito tempo.

– E você sabe o que planejo?

– Um mentiroso reconhece o outro. Mas este não é o ponto, o que quero realmente saber é o que o traz aqui, e principalmente o motivo de ter trazido tão distinta companhia.

– Uma aliança. Venho propor-te nossa união, juntos somos uma força que a se considerar.

– Mesmo que fossemos nós dois contra Lúcifer não teríamos chance, sem contar que ele ainda possui sua guarda real, e a lealdade deles é inquestionável.

– Eu sei é uma dura realidade, mas temos que aceitar, o que vim propor para você é outra coisa. Nós assassinamos Orobas, e depois roubamos todas as almas que ele guardava.

– Veio tentar o mesmo? Matar-me para roubar o que guardo aqui?

– Não, vim propor uma traição, Icelo vem coletando almas há muito tempo, ele provavelmente tem mais do que eu e você juntos, vamos matá-lo e roubar as que ele possui, isso será útil no futuro.

Icelo estava acorrentado e apenas ria, ele claramente já esperava por esta traição de Berith. O anjo caído não entendia o motivo das gargalhadas do demônio dos sonhos, ate ver o que estava acontecendo.

Um dos demônios mortos tinha seus olhos abertos, eles brilhavam, era algum tipo de magia, o que ele via estava sendo transmitido para o castelo de Lúcifer.

Berith suava, seu corpo tremia, agora Lúcifer sabia que ele tinha matado Orobas e sobre seus planos. Ele estava assustado, com medo da fúria do monarca do inferno, mas igualmente furioso, não aceitava ter sido enganado, ele tinha que se vingar.

Seus pensamentos foram interrompidos por Amon que esmagou a cabeça do demônio que estava espiando tudo. Para o que iria fazer agora ele queria privacidade.

Berith tentava balbuciar palavras, propor um novo acordo a Icelo, que ele o levasse para o mundo dos sonhos, mas ele apenas ria, furioso Berith decidiu assassiná-lo, o atingido com suas adagas, mas quando elas o perfuraram não aconteceu nada, na verdade acertaram o solo, o demônio dos sonhos havia sumido.

Enquanto isso Amon ria observando toda a cena, quando Berith o encarou ficou chocado com o que via, pouco a pouco a imagem dele se distorcia, sua aparência estava mudando, ate que por fim Amon transformou-se em Icelo.

Surpresa. – disse Icelo

No quinto círculo Paimon e Dante continuavam sua batalha. O hmano sentia bastante os golpes, estava desgastado, e agora também preso, o anjo caído lutava destruindo o cenário ao seu redor, deixando-o cercado em meio a um rio de lava, enquanto ele usava suas poderosas asas.

Dante olhava para as asas de Paimon e via o quanto ele havia se degenerado, não era mais possível chamá-lo de anjo, elas estavam rotas, sujas de sangue, pareciam com as presas de um animal depois de matar sua presa, ainda manchadas com o sangue da vítima.

A mente de Paimon não funcionava corretamente, ele ficava a maior parte do tempo dominado por uma fúria bestial, se fosse outro guardião talvez tivesse tomado outra atitude, quando reconhecesse o que Dante era teria pedido ajuda, teria destruído todo o círculo se necessário par detê-lo, e principalmente, não teria brincado com ele, o acuado, testado seus limites.

Quando Paimon avançou contra Dante este viu sua morte, não tinha mais como fugir, estava fraco, cansado, o calor aquele ar sujo, tudo isso aumentava as dificuldades, mas ele se recusaria a morrer ali, não podia sem antes vingar Zachary. Ele estava furioso, a única coisa em que pensava era que depois de matar muitos anjos seu ódio se aplacaria, ele teria feito algo por Zachary.

Ele não podia estar mais enganado, a cada morte ele afundaria mais, as lembranças de Zachary, de sua mãe, de toda sua vida humana se perderiam, ele ainda não sabia no que estava se tornando.

A beira da morte o instinto de sobrevivência é ativado, o coração acelera, bombeia o sangue mais rápido dentro do corpo, cada sentido do corpo é aguçado ao máximo, no caso de Dante isso queria dizer o sangue de um anjo, era sua transformação em nephilim se completando.

No seu castelo Lúcifer sente uma presença poderosíssima, mostra uma expressão tensa no rosto.

Lord, o senhor sentiu isso? – pergunta Vassago se aproximando

Sim, é um nephilim. Esta no quinto circulo enfrentando Paimon – disse Lúcifer

– Paimon é um dos mais fortes guardiões, embora não possa ser comparado com a guarda real, sua força não é algo a ser subestimada.

– Mesmo assim pode não ser o suficiente.

– Devo então ir ate lá e eu mesmo eliminar esta aberração?

– Não será necessário, deixe que venha ate mim. Eu sou Lúcifer, não existe nada que eu tema, não importa quem ou que seja, se ousar me desafiar o único destino que encontrara é a morte.

– E sobre a traição de Berith?

– Se ele tiver sorte morrerá nas mãos de Amon, se tiver azar sobreviverá para enfrentar a minha fúria.

Paimon o acertou com um poderoso soco que o fez cuspir sangue e o atirou dentro do magma, devia ter sido o fim, mas agora aquilo não era o suficiente para deter Dante.

De dentro da lava ele emerge, com uma aura de energia em volta do seu corpo ele se protege do calor, lentamente caminha em direção a Paimon, o anjo caído atira várias esferas de energia em direção a Dante, ele sequer se interrompe seus passos.

Paimon solta um grito furioso e avança contra ele, desfere um poderoso soco no rosto dele, mas o ataque nem consegue fazer o pescoço dele girar, os olhos de Dante estão brancos, como se as íris de seus olhos tivessem sumido.

Ele segura a mão de Paimon que o acertou e o atira para o alto, antes que o anjo recuperasse seu equilíbrio Dante salta em direção a ele e desfere vários golpes no seu corpo, fazendo-o vomitar sangue.

Por mais que o anjo caído tente se afastar e conseguir algum espaço Dante não permite, sua velocidade é bem maior que a do anjo, ele o atinge com dezenas de socos e chutes, Paimon fica desorientado, esta quase perdendo a consciência, apenas o gosto de sangue preenchendo sua boca o faz ficar acordado. Ate que ele é atirado dentro da lava.

Dante imaginou ter terminado a luta, ate que sente uma poderosa aura emergindo do magma. Paimon ascende e traz algo junto de si, uma espada que pegava fogo, sua lâmina parecia derramar lava.

Aquela era Sulphur, uma espada feita de fogo, os artífices celestiais forjaram o próprio fogo para criá-la, Paimon a deixava descansando no fundo daquele rio, ela era quem o dava aquele aspecto de vulcão, derramando sempre seu fogo. Ele entendeu que Dante era um adversário forte demais, não poderia enfrentá-lo sem usar sua força total, agora usaria sua espada.

Descuidadamente Dante avançou contra Paimon, estava confiante já que os ataques do anjo caído não lhe causavam danos, mas quando este esquivou-se e o atingiu com a espada ele sentiu seu peito queimando, aquela arma podia o ferir.

Enquanto ele ainda se recuperava do choque do primeiro golpe foi atingido pelas costas por uma onda de lava, agora que manejava Sulphur, Paimon era também capaz de controlar o ambiente.