Capítulo 73 - De volta as trevas

No sétimo círculo Dante agoniza no chão, gritava de dor e se debatia enquanto o macabro ritual de Icelo avançava, o sangue dele se misturava com o sangue do guardião daquele lugar, Asmodeus.

O corpo de Dante parecia não ser capaz de resistir, mas quando ele estava prestes a se entregar sentiu aquilo, a alma de Zachary se despedindo dele, seu pai estava morto. Finalmente ele havia perdido tudo, não lhe restava mais nada além do ódio.

No segundo círculo prossegue a luta. Sallos percebe que para salvar Simone deveria voltar as trevas, dando grandes gritos de dor ele consegue se libertar, puxando as mãos e pés que tinham sido perfurados pelas rochas, ele cai no chão fraco e cansado, mas agora não é hora para descansar.

Eu finalmente entendi, por um momento eu realmente fiquei feliz, obrigado Simone, você curou meus olhos, eu estava perdido nas sombras e você me trouxe para a luz, mas eu não pertenço a luz, passei tempo demais na escuridão. – disse Sallos

– Mas fico feliz por seu rosto ter sido a primeira e a última coisa que eu vi, obrigado por me mostrar a luz, é mais do que alguém como eu merecia, eu prometo que nunca esquecerei.

Então Sallos pega duas pequenas rochas afiadas e fura os próprios olhos, ficando novamente cego.

Quando ainda vivia no paraíso Sallos era um anjo relativamente fraco, não era um grande guerreiro, mas depois da guerra, após ter perdido a visão todos os seus outros sentidos se aprimoraram ao máximo, ele desenvolveu novas técnicas de combate, se tornou tão poderoso que foi nomeado guardião de um dos círculos.

Ao recuperar a visão perdeu a capacidade de invocar aquela escuridão que tinha usado contra Simone. Ele se deu conta que precisaria daquilo para pode lutar contra Seere.

Embora ainda bastante ferido, ao ficar novamente cego ele consegue invocar uma grande escuridão que cobre toda ao vale. Seere ficou confusa, embora conhecesse as habilidades dele nunca as tinha visto sendo usadas.

A anja sentia seus sentidos a abandonarem, uma escuridão que roubava toda a esperança. Aleatoriamente ela começou a atacar, criava poderosos tornados e atirava-os em todas as direções, pressionava o ar de modo a torná-lo como uma lâmina e atacava, a sensação de não saber se estava acertando ou apenas desperdiçando sua energia, era um batalha psicológica.

Subitamente ela sente uma espada perfurar seu ombro esquerdo, o alvo era o seu coração, mas a anja tinha criado fortes correntes de ar ao seu redor, fazendo-os mudar de direção aleatoriamente, formavam como que um escudo, assim ela pôde fazê-lo errar o golpe que devia ter sido fatal.

Seere então passou a controlar todo o ar, tornando-o escasso, o ambiente agora era como um topo de uma grande montanha, a falta de oxigênio provocava tonturas e deixava a pessoa confusa, além de exigir muito do corpo, o mínimo esforço tinha um custo alto deixando a pessoa ofegante. Todo o vento foi concentrado ao seu redor.

A tenacidade de Seere era impressionante, mesmo privada de seus sentidos continuava a lutar, ela possuía grandes instintos como lutadora, Sallos ainda sentia-a pressionado, alguns dos golpes aleatórios dados por ela o tinham acertado, sua condição era crítica.

Seere começou a rodopiar, tornando seu corpo parte de um grande furacão que formou, não importava onde ele estivesse naquele lugar, aquele era o golpe mais poderoso dela, com ele conseguiria atingir Sallos.

Mas de repente o vento que Seere usava como arma começou a sumir, ela passou a sentir-se atraída em direção a um grande vazio, era o golpe mais poderoso de Sallos, dentro daquela escuridão ele criava uma espécie de buraco negro. Podia controlar sombras antigas, aquelas criadas pela primeira luz. Entretanto, ele cessou seu ataque. A anja ficou confusa, o que aquilo significava?

Por que fez isso, se pensa em me oferecer piedade pode esquecer? – disse Seere

Eu sei, não a ofenderia com esse tipo de coisa. A técnica que eu estava usando, se você fosse pega por ela não seria morta de verdade, apenas ficaria presa, vagando na escuridão. – disse Sallos

– Ainda não compreendo, por que se preocupar com isso?

– Não sou o mesmo de antes, eu posso ter voltado as trevas para poder lutar com você, mas eu vi a luz, e nunca vou esquecê-la. Você foi uma grande guerreira, eu a respeito, por isso irei matá-la.

– Obrigado por acabar com isso. Pesa não é? A eternidade, o quanto já perdemos, talvez no final queiramos outra guerra por isso, podermos nos matar e enfim descansar.

Sallos foi incapaz de respondê-la.

Ele começa a se concentrar e da escuridão começa a formar-se um anel de luz, um halo, esta luz é disparada em direção a Seere, matando-a.

A escuridão criada por Sallos desaparece e ele reaparece na frente de Simone. É um choque para ela ver o estado em que ele se encontra, ferimentos profundos por todo o corpo, vários cortes, mas principalmente seus olhos que pareciam chorar sangue.

Por que você fez isso, por que lutou por mim? – perguntou Simone

Você me mostrou uma luz tão bonita, algo que eu não pensei que existisse, me fez lembrar que existem coisas boas além das sombras. – disse Sallos

– Então por que voltou para isso? Você feriu seus olhos.

– Porque eu passei tempo demais nas trevas, a verdade é que elas são parte de mim, talvez sempre sejam. Mas o que você me mostrou é algo que nunca vou esquecer, um sentimento quente, uma vela para iluminar.

Sallos se aproxima de Simone e a abraça, ela fica envergonhada quando depois de algum tempo ele não a solta, então percebe que ele desmaiou. Ela o abraça de volta e decide cuidar dele.

Simone ainda estava confusa sobre aquilo, como Sallos que tinha mostrado tanto poder tinha sido derrotado por ela que era tão mais fraca que Seere.

A verdade é que Simone tinha vencido por ter lutado com todo o seu coração sem nunca hesitar ou duvidar do que a fazia lutar, enquanto Seere tinha o coração dividido.

Logo que a guerra começou Seere se aliou a Lúcifer, acreditava que era o certo, tentar trazer Deus de volta, ele era o Criador de tudo, os anjos deviam-lhe lealdade, era o dever deles impedi-lo de se sacrificar por coisas tão desagradáveis como humanos.

Contudo, ela era apaixonada por Miguel, e odiava a si mesma por isso, sabia que nunca conseguiria lutar contra ele, aquilo era errado, deixar seus sentimentos pessoais interferirem com seu dever como uma guerreira.

Miguel conhecia os sentimentos dela, se ele tivesse pedido para que ela o seguisse provavelmente ela teria feito isso, mas ele não o fez, pediu algo diferente. A proposta que ele fez para ela era que ela permanecesse com Lúcifer, mas que no final o traísse, que fosse uma espiã. Seere nunca conseguiu escolher, estava sempre dividida entre seus sentimentos e sua convicção. 

Isso a fez odiar o amor, considerá-lo um sentimento vil e mesquinho que tentava se colocar acima dos interesses que verdadeiramente devia perseguir, por isso seu círculo infernal simboliza isso, uma eterna punição contra aqueles que se deixam ser arrastados pelos ventos da paixão.

Apenas agora, depois de ser morta por Sallos ela conseguiu encontrar a paz. Miguel nunca se lamentaria por isso, nem por um segundo ele pensou nela depois de ela ter ido para o inferno com Lúcifer, ela era apenas outro peão para usar.

Neste momento Lúcifer já sentia as mortes de seus anjos caídos, a queda dos guardiões dos círculos infernais, Vassago já se mostrava preocupado, tentava alertar sobre o quanto isso era danoso a estratégia deles para a guerra final contra Miguel, que cada guardião teria um papel fundamental na formação de batalha. Lúcifer apenas ria, queria que eles chegassem ate o palácio.

O quinto círculo, o inferno destinado àqueles condenados pelo pecado do ódio. Ele começa com uma grande cachoeira que derrama lava o tempo todo, ela formava um grande rio de fogo, que tinha em seu percurso várias rochas pelo caminho, os condenados estão acorrentados a elas sendo lentamente queimados.

Em uma grande rocha, sentando apreciando os gritos e choros estava Paimon, o anjo caído guardião daquele círculo.  Tinha a aparência de um homem com pouco mais de trinta anos, cabelos negros e curtos e olhos castanhos grandes e expressivos, tinha um olhar vazio como se andasse perdido em memórias.

De repente vindo como uma estrela cadente aparece Dante, ele cai sobre uma rocha em frente ao lugar onde Paimon estava. 

Bem vindo ao lugar que será seu túmulo. – disse Paimon

O que estou fazendo aqui? Eu tenho que ajudar meu pai! – disse Dante

– Não seja tolo garoto, sabe tão bem quanto eu que ele esta morto, mas o parabenizo por ter conseguido levar Sitri junto, ela era uma dos mais poderosos guardiões.

– Cale a boca! Ele não esta morto, ele não pode estar morto!

– Ele esta, a maior prova disso é isso que te guiou ate aqui, este ódio incontrolável. Parabéns garoto, você tem o maior rancor em todo o inferno. Agora a pergunta é o que vai fazer com ele, será que vai apenas choramingar e ficar preso nas lembranças do bons momentos com seu pai ou vai descarregar este ódio em alguém?

Nos olhos de Dante se via apenas uma expressão de raiva, ele rangia os dentes como um animal, Paimon sorria ao ver aquilo, um homem totalmente consumido pelo ódio.