Friday 17 October 2014

Capítulo 74 - Cantando versos sangrentos




Em meio àquele cenário arrasado, onde a lava consumia tudo, assim como o fogo do ódio queima tudo a sua volta, estavam Dante e Paimon encarando-se.

Dante ainda esta confuso, não entende como sobreviveu a luta com Asmodeus, nem o que Icelo fez com ele depois disso, mas isso pouco importa agora, aos poucos toda a racionalidade vai esvaindo-se, o ódio quer tudo. Este sentimento se apossa de toda a mente dele.

O anjo caído observa aquilo com curiosidade, embora tente mostrar que se diverte com isso, que dedica-se ao culto do ódio, ver Dante daquele jeito o incomoda, isso porque ele se lembra dele mesmo.

No passado, antes da guerra Paimon era um anjo manso e gentil que ficava feliz em passar seus dias louvando ao Senhor, quando a celeuma entre Miguel e Lúcifer começou ele foi incapaz de escolher um lado, embora concordasse mais com as ideias de Lúcifer, com um pequeno grupo de neutros ele tentava não intervir na batalha.

Embora eles estivessem por perto, e após uma luta iam ate o local para procurar sobreviventes e cuidar de feridos, mas principalmente para enterrar os mortos, dar-lhes um descanso final digno, que não tivessem seus corpos profanados.

Dia após dia Paimon via aquilo, seus antigos amigos e companheiros sendo mortos, seus corpos dilacerados e rasgados por espadas ou queimados por energia, quanto mais aquilo iria durar? Ele se perguntava isso a cada amanhecer e entardecer, e a cada dia que a resposta não vinha seu coração se enegrecia e tornava-se mais pesado.

Ele sentia-se impotente, não podia fazer nada para parar aquele conflito, este sentimento atormentava-o, mas se não podia realizar coisa alguma para os vivos, quem sabem o pudesse fazer pelos mortos.

Com o tempo os companheiros notaram algo estranho em Paimon, ele passava cada vez mais tempo com os mortos, mais do que isso, ele conversava com eles, e embora ninguém mais ouvisse ele jurava para todos que eles também o respondiam. Quando perguntavam o que eles respondiam Paimon baixava a cabeça e preferia não dizer, falava que eram coisas muito cruéis.

Ate que finalmente um dia, quando a batalha entre os dois lados começou Paimon foi ate lá, não como alguém neutro preocupado com os feridos, ele foi ate lá como um louco sedento pelo sangue de anjos, com as próprias mãos ele enforcou um anjo, em seguida roubou-lhe a espada e começou a atacar indiscriminadamente, a lamina em todo seu corpo logo tornaram-se rubros.

Aquela era uma ferocidade nunca vista antes, ele assustou a todos ao seu redor, destruía tudo ao seu redor, rugia como uma besta selvagem que não se saciava não importando quanto sangue derramasse.

Neste mesmo dia Gabriel morreu para impedir o confronto final entre seus irmãos, quando Lúcifer e seus seguidores foram para o vazio que se tonaria o inferno, ele convidou Paimon, disse que entendia o que ele representava, o que ele era, algo que nem o próprio entendia na época, em busca desta resposta ele acompanhou Lúcifer.

Lúcifer contou que Paimon tinha herdado a raiva de todos aqueles que morreram, que era um arauto do ódio, que aquele sentimento os mantinha vivos, era o que eles tinham antes de morrer, que ao final Paimon seria o juiz que exterminaria a todos por seus crimes de guerra.

Um soco que o atirou a vários metros sobre outra rocha o fez acordar de seu devaneio, enquanto Paimon sonhava e se recordava do que ele era, e de porque Dante o tinha chamado tanto a atenção, o humano logo o atacou com uma ferocidade sem comparação.

Logo o anjo caído percebeu que aquela força estava além de qualquer poder humano, aquela era uma aberração que ele já conhecia, um crime que no passado fez Lúcifer e Miguel se unirem brevemente para exterminar quase toda vida na terra, a mistura de anjo com humanos, um nephilim.

Nem Dante tinha conhecimento do que havia acontecido com ele, apenas sabia que Icelo tinha feito estranhos rituais usando o sangue de Asmodeus, o demônio dos sonhos tinha injetado sangue de anjo dentro de um humano. As possibilidades eram todas contrarias, o corpo de um humano nunca suportaria tanto poder.

Entretanto existia um fator que Icelo levou em consideração, e que no fim prevaleceu, a vontade, força que reside no espírito humano, aquilo que nos faz avançar mesmo que estejamos quebrados, mesmo que estejamos na frente de um abismo.

Havia cada vez menos de humano em Dante, ele sabia disso, mas não pensava a respeito, sua mente só enxergava a morte de seu pai, a perda de sua mãe, sua vida reduzida a ruínas e tudo por uma guerra entre anjos, ele odiava a tudo aquilo.

Em meio a pequenas rochas que se erguiam em meio ao rio de fogo a batalha deles começou , ambos lutavam com ferocidade, os punhos se chocavam criando ondas de magma derretido, não havia preocupações em se defender, ambos queriam apenas ferir e destruir ao outro.

Cada impacto entre eles destruía ainda mais aquele cenário, eles saltavam de rocha em rocha, um embate devastador, Dante acertava Paimon que sentia sua cabeça quase ser acertada, mas revidava chutando o estomago dele que sentia seu corpo se partir.

O anjo caído luta apenas por instinto, não é como se tivesse planejado isto, mas como guerreiro experiente que se tornou seu corpo sabe agir, desse modo ele vai destruindo tudo ao redor, ate deixar Dante preso em uma única rocha, uma ilha em meio a lava.

Enquanto isso Icelo e Berith continuam com o plano que os fez forjar sua aliança, depois de derrotar Orobas, o guardião do terceiro círculo eles agora avançariam ate o quinto, mas sentiram outra força naquele lugar, uma batalha havia acabado de começar. Icelo sabia que era Dante, mas manteve isso em segredo de Berith. Eles decidiram então avançar ate o círculo restante, o oitavo círculo.

O oitavo círculo era conhecido como Malebouge, um lugar destinado àqueles condenados pelo pecador da mentira. O ambiente era um grande deserto de areias negras, ate mesmo o céu tinha coloração escura, como se tivessem cinzas no vento, era uma atmosfera sufocante.

Adiante o solo arenoso começa a ficar mais firme e rochoso, ate chegar a um grande vale onde estão escavados vários fossos, dentro deles existem dezenas de demônios infligindo os mais cruéis e humilhantes nas pessoas.

Berith e Icelo preferiam evitar este confronto, mas não podiam perder a chance, embora temessem o adversário ambos eram orgulhosos demais para admitir isso, confiavam demais em suas próprias capacidades.

Amon era um anjo caído em quem nem o próprio Lúcifer confiava, ele tinha sido colocado naquela função para ser vigiado mais de perto, os demônios que lá estavam também tinham mais a função de espionar para Lúcifer do que realmente torturar os humanos.

Aquele não era um adversário a se subestimar, Amon era o anjo em quem ninguém confiava, durante a guerra suas motivações e ações eram imprevisíveis, ele parecia agir de modo aleatório, hora juntando-se a uma facção, em outro momento traindo-a, não ligava para as vidas sacrificadas nos seus jogos de poder.

Muitos diziam que se ele ficasse sério e se aliasse a um dos lados, com suas habilidades de estratégia seria um grande general, poderia ser decisivo na guerra, mas ele parecia não querer isso, ao contrario, era como se ele se divertisse com aquele caos, quisesse que a guerra perdurasse ainda mais.

Talvez fosse esta a melhor definição, a calmaria, a paz do paraíso o entediava, ele viu na guerra uma chance de liberar seus piores instintos, ele com certeza queria que aquilo durasse, se um lado vencesse a diversão terminaria.

No fim foi com o exercito de Lúcifer por ele ter ficado em minoria, e também por ele ser mais liberal do que Miguel.

Numa parte mais elevada do vale, observando os demônios torturando os humanos estava Amon, vestia-se com um elegante terno preto, sua aparência era de um homem com aproximadamente quarenta anos, caucasiano, olhos verdes e cabelos negros e lisos, penteados para trás.

Amon, nobre guardião do oitavo círculo e fiel servo de Lord Lúcifer, eu Berith, guardião do quarto círculo vim ate aqui para discutirmos um assunto da maior gravidade. Trago comigo este prisioneiro – disse enquanto segurava Icelo que parecia amarrado – estamos sendo atacados, precisamos traçar uma estratégia de defesa. – disse Berith
Por favor, Berith, dispensemos tantas formalidades, somos amigos, afinal. Sim, também tenho sentido esta agitação no inferno. Mas exatamente por isso, por estarmos sendo invadidos, não posso me arriscar, como posso saber se não é um inimigo disfarçado? – disse Amon
– Do que você esta falando, não temos tempo para isso.
– Vem ate mim trazendo este notório traidor, em meio a uma invasão em que alguns dos outros guardiões já morreram e espera que eu confie cegamente em você? Pelo menos me prove que é mesmo Berith, enfrente estes demônios.

 Antes que Berith pudesse tentar argumentar, Amon faz um gesto com a mão e os demônios que guardavam o círculo com ele atacaram ferozmente Berith e Icelo.

O anjo caído guardião do quarto círculo percebe que aquilo é um jogo de Amon, ele esta entediado e apenas quer assistir uma luta, quer ver sangue e mortes, e era preciso dar isto a ele.


Para manter o disfarce deles Icelo permanece amarrado, mas não esta preocupado, embora evite lutar normalmente Berith é um dos mais poderoso anjos caídos ele poderia facilmente vencer todos aqueles demônios. 

2 comments:

  1. Otimo capítulo, um dos melhores até agora, conseguiu juntar uma bela historia ao combate de Dante com Palm... Paimon, adorei a parte de Lucifer se juntar a Miguel para terminarem a vida na terra por causa dos Nephilins, isso me suscitou interessem fiquei querendo saber mais =P A luta entre os dois está intensa, nem o cenário vulcânico está aguentando, muito bom mesmo.
    Icelo e Berith chegaram no oitavo circulo, o demónio dos sonhos não mencionou a Berith que o poder que vinha do 5º circulo era Dante, ainda não confia nele, nem devia xD Este por sua vez tentou ludibriar Amon... eu podia jurar que esta fic se está transformando em Digimon... mas este Amon não foi nas suas cantigas e atacou os dois com um exército demoniaco. Se nem Lucifer confia nele, já se esperava algo assim.
    Enfim, adorei o capítulo, me dê mais assim que eu quero =P

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  2. Cara, o Dante tem me surpreendido muito! Ele consegue transformar toda aquela negatividade e ódio em força para continuar em frente. Acho que muitos no lugar dele já teriam desistido e se entregado à morte. Aquele ritual de Icelo foi mesmo bem útil, embora o tenha transformado praticamente em um monstro de tão poderoso ^^ Torço para que a humanidade dele não desapareça...
    Sobre Paimon, é triste ver como seres corretos podem ser corrompidos graças às peças que o destino prega. Deve ter sido muito doloroso mesmo para ele ver aqueles com quem ele se importava perdendo a vida em uma guerra como aquela. De certa forma, matar esses anjos caídos que comandam os círculos está sendo até uma forma de libertá-los da dor que carregam em si.
    Caramba! Pelo visto Amon consegue ser ainda menos confiável que Icelo e Berith! Confesso que eu acharia engraçado uma aliança entre esses três... Ia ser praticamente uma disputa de quem ia puxar o tapete do outro primeiro XD Mas ele também mostra ser bem perspicaz de analisar toda a situação que está no inferno e levar em consideração que talvez aquilo fosse apenas um truque de Icelo e Berith. E falando nesse último, parece que no próximo capítulos veremos ele em ação.
    Enfim, outro grande capítulo! Estou cada vez mais impressionada com o Dante, embora tema por ele sobre qual seria a troca que Icelo disse... Também estou ansiosa para ver o que Amon decidirá sobre os outros dois anjos caídos. Estarei aguardando pelo próximo!

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