Wednesday 1 October 2014

Capítulo 72 - Uma flor no pântano




No terceiro círculo a luta prosseguia, Icelo havia sido ferido por Cérbero, ele via seus truques serem pouco efetivos contra Orobas, ele que lutava como um animal guiando-se totalmente pelo instinto e sentidos, mas todos possuem um ponto fraco, só é preciso fazê-los revelar isso, era o pensamento do demônio dos sonhos.

Como guardião daquele círculo Orobas tinha poder para manipulá-lo, fazendo uma densa nevoa cobrir todo o lugar, a visibilidade era praticamente nula, seria impossível lutar confiando apenas na visão. Icelo então segura sua bengala e revela sua verdadeira forma, como uma bonita espada.

Antes que perceba o demônio dos sonhos é novamente atacado por Cérbero, sem tempo de desviar ele apenas consegue mover um pouco o corpo, de modo que fosse novamente mordido no mesmo lugar, ele não podia se dar ao luxo de perder também os movimentos do outro braço, precisava dele para manipular a espada.

Enquanto o cão de três cabeças o morde Icelo desfere um golpe com a espada, espetando entre os olhos do animal, ele urra de dor e solta, afastando-se.

Mas havia algo mais, Cérbero começa a se debater no chão, late de forma assustada como se estivesse chorando, ele foge como se estivesse sendo perseguido por alguma coisa, vai se chocando contra árvores e rochas, ate cair em uma parte mais profunda do pântano e começar a afundar.

Contrariando seu instinto de sobrevivência o cachorro não lutava, parecia que queria afundar, queria aquele fim que seria melhor do que o que ele estava a sofrer agora. Do meio da nevoa se ouve apenas um grito furioso de Orobas, ele realmente amava Cérbero, era o seu único amigo e o único em quem confiava.

Desculpe Orobas, mas não sou bom em lidar com animais, principalmente quando eles tentam arrancar meu braço. – disse Icelo
– Talvez esteja curioso com o que eu fiz, bem se não estiver tenho certeza que nosso outro espectador esta. Quero te apresentar a minha espada Phobetor, ela foi forjada dentro do mundo dos sonhos, foi moldada a partir de pesadelos, a partir do medo.
– Basta um único golpe dela para você ser confrontado por seus piores medos, as coisas mais sombrias que existem dentro da sua alma ficam livres para te assombrar, tudo que você teme se torna real na sua mente, é como confrontar o próprio medo.
– Aparentemente isso foi demais para o pobre animal, a mente dele não suportou isso e teve um colapso completo, seu instinto de sobrevivência foi substituído pelo terror, ele preferiu enfrentar a morte.
– E quanto a você Orobas, tem certeza que quer continuar com isso? Eu sei que esta cansado de tudo isso, desta guerra, do que ela fez com todos nós, você mudou, se tornou este monstro com instintos animais porque assim era mais fácil encarar a realidade. Um anjo não poderia suportar tudo isso, apenas um monstro poderia.
– Eu sei o que você vê, quando olha para estas águas turvas e sujas, por um momento observa seu reflexo, e então amaldiçoa a si mesmo e ao que se tornou, eu venho te trazer a paz, acabar com tudo. Você olha para o espelho e não reconhece aquele que te olha de volta. Aceite o fim.

Orobas então surge do meio da nevoa e ataca com ferocidade, derruba Icelo e começa a socá-lo com violência, o terreno pantanoso afunda a cada golpe, o demônio dos sonhos cospe sangue, mas ele não se da por vencido.

Enquanto aquele ser horrendo tenta matá-lo Icelo observa seus olhos, aquele não era alguém que cairia diante do medo, era preciso usar outra estratégia, o demônio dos sonhos cria uma esfera de energia negra e a atira contra a barriga de Orobas, afastando-o dele.

O anjo guardião do círculo atacava de modo brutal, sem se preocupar em defender-se, seu corpo aguentava todos os golpes de Icelo, enquanto o demônio do sonhos usava toda sua agilidade para se esquivar dos ataques ele ao mesmo tempo acertava alguns golpes, mas o Orobas não parecia sentir os danos, na verdade ele parecia querer ser acertado, esperando que ao acertá-lo o adversário se descuidasse.

Era como enfrentar um animal enfurecido, Icelo sabia que com apenas um momento de hesitação seria derrotado. O demônio dos sonhos concentrava sua energia e disparava esferas negras, mas Orobas recebia os golpes como se não fossem nada.

Percebendo a demora na luta e a dificuldade, finalmente Berith decidiu intervir, atacando Orobas pelas costas, atirando várias lâminas que ficaram presas no corpo dele, Icelo pareceu incomodado com a interferência, mas não se manifestou. 

Contundo, sem importar-se com a dor ou os ferimentos ele continuou avançando, Icelo então conseguiu pegar sua espada, e virou sua lâmina, atingindo o peito de Orobas com um grande impacto, embora não forte o suficiente para derrubá-lo.

Ele ficou parado, como que preso em um transe, calmamente Icelo caminho ate ele e com um único golpe o decapitou.

Berith que ate então assistia a tudo se revela.

O que exatamente aconteceu aqui? Ele congelou de medo? – perguntou Berith
Não, acredito que medo não funcionaria contra ele, então fiz algo diferente. Virando a lâmina da minha espada ao invés de pesadelos eu posso dar sonhos, esperança. – disse Icelo
– Ainda não entendo, que diferença isto fez? Ele foi derrotado por que ficou sonhando acordado?        
– Não exatamente, eu o mostrei aquilo que ele mais desejava, suas ambições mais profundas, imagine ver todas as coisas que você mais almeja, a realização de tudo que seu coração busca alcançar, e em seguida saber que nunca o terá. O que fiz foi destruir sua vontade de lutar.
– Entendo, ele viu que sua luta nunca teria fim, que todos os sacrifícios que realizou não serviram para nada. Ele realmente era um tolo. Mas devo admitir que você foi bem esperto Icelo. Uma coisa é usar medo contra um animal, mas contra um guerreiro é diferente, estamos acostumados a enfrentar o medo e a morte em cada batalha.
– É realmente bem arguto Berith, se não soubesse ate diria que estava analisando minha luta e tentando encontrar meus pontos fracos para quando decidisse se virar contra mim.

Eles roubaram todas as almas que estavam no terceiro círculo e começaram a se preparar para partir. Mas Icelo decidiu ficar por mais um momento, ele havia trazido algo, talvez ele tivesse planejado isso, ele tinha sementes, dezenas delas que ele atirou dentro do pântano.

Os pântanos são conhecidos por como ambientes extremamente sujos, um local inóspito para a maioria das formas de vida, um lugar onde plantas não florescem, um lugar morto, mas existe uma exceção.

A flor de lótus, uma das mais belas do mundo, ela consegue nascer mesmo na sujeira do pântano, consegue se manter pura e limpa, simboliza que no mesmo no pior lugar sempre existe uma luz de esperança.

Seu corpo não descansará neste pântano sujo, você merece mais. Estas flores vão para sempre lembrar que mesmo neste ambiente, mesmo tendo se tornado o que se tornou, ainda existia algo de bom em você, adeus Orobas. – disse Icelo

No segundo círculo Sallos estava caído, arrasado depois de ser golpeado por Seere, mesmo agonizando no chão ele tentava se levantar. Sabia que depois de derrotar a ele a anja guardiã voltaria a encosta para matar Simone.

Sangrando abundantemente e com ferimentos por todo o corpo ele se levanta, não podia deixar Simone ser morta, ele devia muito a ela, precisava mostrar para Lúcifer o que ela o tinha mostrado.

Mas de repente quando eles se preparavam para lutar de novo foram interrompidos por Simone, ela se arrastava caminhando com muita dificuldade, estava claramente a sentir ainda os efeitos da luta contra Sallos, ela queria saber o que estava acontecendo, tinha acordado naquela encosta e estava confusa.

Saia daqui Simone, vá embora. – disse Sallos
O que esta acontecendo, por que você esta tão ferido? – perguntou Simone
Deixe Sallos, não a afugente, deixe que ela veja você morrer por ela. Assista garotinha, vejo seu herói fracassar. Ou será que devo fazer o contrário, primeiro matá-la para que você veja como falhou. – disse Seere
Não se atreva a tocar nela! – disse Sallos

Ele então começa a elevar de novo sua energia espiritual, mas esta bastante ferido, não consegue tanto poder como antes, tenta novamente voar, mas suas asas estão quebradas ele termina sendo vencido pelo turbilhão de vento de Seere, sendo atirando contra uma das paredes.

A cena é terrível, Sallos fica como que crucificado na parede, com seus braços e pés trespassados pelas rochas que são tão afiadas quanto lanças.

Simone cai no chão, horrorizada com a cena, enquanto isso Seere se aproxima lentamente dela, a cada passo ela observa a expressão de Sallos, ela quer ver o desespero e a impotência no rosto dele.


Ao ver aquilo Sallos se da conta que passou tempo demais nas trevas, que aquilo o tornou mais forte, agora que ele tinha abandonado a escuridão tinha se tornado mais fraco, para proteger Simone ele precisava retornar as sombras.

2 comments:

  1. Otimo capítulo, cheio de ação, violencia, emoção, teve tudo um pouco, a decapitação de Orobas foi bastante violenta, Icelo matou Orobos, mas no final ele mostrou compaixão, o comparando com a flor de lotus, algo belo que cresce até nos lugares mais nojentos, ficou muito bom mesmo. Outro grande combate foi o entre Sallos e Seere, a anja é forte demais e Sallos se apercebe que para ter chance terá que voltar às trevas, grande capítulo, muito bom mesmo, parabéns.

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  2. Estou gostando muito de ver Icelo em ação, ele é muito inteligente e é do tipo de personagem que está sempre surpreendendo, não apenas os inimigos e "aliados", mas até mesmo leitores XD Ele foi bem esperto em deixar Cérbero atacar aquele mesmo braço ferido no capítulo anterior, porque realmente, seria um problema enorme se o braço utilizável fosse prejudicado com uma mordida violenta daquelas.
    Confesso que tive um pouco de pena do Cérbero, que ficou tão desesperado que preferiu a morte ao confrontar seus medos. E também tive dó do Orobas, já que perdeu seu único e verdadeiro amigo, imagino a fúria que ele deve ter sentido nesse momento... Nem mesmo os ataques de Icelo que induziam ao medo funcionavam contra aquele anjo caído. Bem que o Icelo disse em capítulos anteriores que adicionaria aquele "método de tortura" sobre dar esperanças a quem sabe que nunca terá o que almeja. Mas foi muito bonito no final, quando Icelo jogou as sementes no pântano para que virassem flor de lótus, mostrando que ele tinha grande respeito por Orobas, apesar de tudo.
    Também senti isso, que Berith ficou mais analisando a luta do que tudo... Para ele com certeza deve ser mais vantajoso saber com quem está lidando atualmente.
    Acho que será melhor mesmo para Simone não entrar no campo de batalha de Seere e Sallos, por mais que este esteja ferido. Ele parece que está disposto a tudo para salvá-la...
    Como sempre, outro grande capítulo! Estou curiosa e ansiosa pelo próximo, torço para que Sallos não morra... Ele poderá ser de grande ajuda ao grupo de Mark. Além disso, quero ver o que Icelo e Berith farão daqui por diante ^^

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