Zachary olhava com atenção para cada
detalhe do quarto, as paredes brancas com alguns belos quadros, e ao centro em
um grande divã estava Sitri, sentada tocando sua harpa. Ele sentia-se calmo,
sereno com seus pensamentos, esta seria também sua última melodia, e ele queria
algo de que tivesse motivo para se envergonhar.
Pude
notar alguma perturbação nos outros círculos, isso me faz supor que não veio
sozinho. – disse Sitri
Noto
algum pesar na sua voz, por acaso esta aborrecida? Gostaria de uma companhia
mais jovem talvez. – disse Zachary
–
Não queria parecer rude ao dizê-lo, mas é bem arguto por ter percebido.
–
Tudo bem, acho que podemos fazer concessões a cordialidade quando estamos na
frente daquele que vai nos matar.
–
Não sinto duvida em você, o que esta dizendo não é um blefe ou pura arrogância,
realmente acredita nisso, que pode me matar.
–
Posso não estar na minha melhor forma, não ser tão forte fisicamente como no
meu auge, mas embora os anos possam ter levado minha vitalidade, minha forma
espiritual não diminuiu, pelo contrário.
Zachary continua com uma expressão calma
e tranquila e começa a liberar seus poderes, uma aura envolve seu corpo,
exalava calor derretendo o gelo da sala. Sitri continuava a tocar sua harpa, os
fios quase invisíveis começaram a mover-se em direção de Zachary, subitamente
prendendo-o e apertando-o.
O velho, não tem qualquer reação, apenas
eleva sua aura partindo-as, Sitri percebeu que teria que lutar de modo sério,
não poderia subestimá-lo. Ela para de tocar e se levanta, sua harpa envolve-a
formando uma espécie de armadura, a energia espiritual dela se eleva.
Diferente de Zachary que contem sua
energia a dela explode por toda a sala, rachando as paredes e o piso. As cordas
da harpa transformaram em um grande chicote, ela golpeia o ar para testá-lo,
destruindo parte da parede.
Quando uma rajada de vento frio entra
pela rachadura é o sinal para inicio da luta. Sitri ataca com ferocidade, os
golpes não são apenas do chicote, mas também do vento provocado pelo golpe.
O chicote serpenteava com movimentos
improviseis, atacando de varias direções usando também o vento, mas Zachary se
esquivava habilmente de todas as investidas, dando apenas alguns passos para os
lados e abaixando o corpo ele evitava os ataques nos pontos vitais, repelindo
os demais com sua aura.
Aquilo era experiência, Zachary não
tinha movimentos desnecessários, com o mínimo de esforço evitava cada ataque, ate
perceber que os ataques de Sitri eram apenas uma distração, ela tinha atacado a
parede atrás dele em lugares estratégicos, formando um símbolo nela, quando o
completou proferiu algumas palavras e quilo disparou uma onda de energia contra
as costas de Zachary.
Afinal por mais experiente que fosse ele
ainda era apenas um humano, não passava de uma criança diante de alguém que
luta desde a criação, Zachary já mostrava grandes danos, apesar de ter
defendido a maior parte do ataque.
Aquele espaço restrito limitava os
movimentos de Zachary, tornava-se cada vez mais difícil esquivar dos ataques do
chicote, que aceleravam e diminuíam de velocidade aleatoriamente de modo a
confundi-lo.
Era o momento de passar a ofensiva,
Zachary junto as mãos como se estivesse a fazer uma oração, então começou a
fazer movimentos lentos, como um artista marcial, a medida que seus braços
subiam e desciam formavam uma trilha, como se ele estivesse fazendo aquele
movimento em uma velocidade incrível, ao invés de lentamente.
Sitri notou logo que isso era algo
diferente, no chão existiam três sombras atrás de Zachary, ao olhar novamente
ela o viu como se ele se tivesse três cabeças e seis braços, como se fosse uma
estatua de Asura, o deus da fúria.
Esta era a forma real de Zachary em batalha,
não um lutador calmo e ponderado, mas uma besta selvagem, ele tinha
desenvolvido esta técnica há muito tempo atrás, mas nunca a tinha usado por ter
uma grande falha, no ápice do calor da batalha tornava-se impossível distinguir
amigos de inimigos, em troca daquele grande poder ele entregava sua mente a
insanidade.
Sua aura agora emanava uma energia
negra, ele movimenta bruscamente o punho dando um golpe contra o ar, que
despedaça a parede atrás dele, em seguida ele salta por ela. Seu objetivo era
levar a luta para o campo aberto. Sitri não hesita em segui-lo.
A superfície daquele gigantesco lago
congelado, onde milhares de condenados jaziam congelados, ainda arranhando,
batendo no gelo tentando escapar, seria este o cenário da luta deles.
O lago formava como que um grande
espelho, refletindo claramente a imagem de Zachary como um demônio, aquela fera
de três cabeças que ainda parecia adormecida, com os olhos fechados, era a
imagem tomada por sua aura que demonstrava toda a sua fúria.
Sitri dançava sobre o gelo, parecia uma
bailarina, com movimentos suaves e graciosos, que logo combinavam-se com seus
ataques com o chicote, rodopiando, trocando-o de mãos, formando um padrão de
ataque que não permitia a Zachary se desviar.
Cada ataque rasgava a pele dele, os
cortes faziam-no sangrar, Sitri atacava impiedosamente, agora dava estocadas
com o chicote, ele avançava como um lança, impactando como um bala, braços,
pernas, e peito, desviava os pontos vitais, mas ainda sofria grande dano.
Zachary gritava a cada golpe, a dor era
excruciante, mesmo assim ele seguia tentando se aproxima de Sitri, ela não
entendia a razão, mas a cada passo dele ela recuava, sentia que devia fazê-lo,
porque ele era perigoso. Ela então ataca com o chicote prendendo o pescoço dele
e tentando sufocá-lo.
Foi então que olhou para o chão vendo o reflexo
da imagem de Zachary.Asura, com suas três cabeças e seis braços, começava a
abrir seus olhos, era como se o espírito de Zachary estivesse despertando
totalmente.
Em
troca de grande poder eu entrego minha mente a insanidade, mas isso ainda não é
o bastante. Eu preciso oferecer três sacrifícios: meu sangue, minha dor e a
vida do meu adversário. Obrigado por me ajudar com essas coisas. – disse
Zachary
A imagem então abriu os olhos, o
espírito de Zachary estava no máximo da sua força, não importava que o corpo
dele estivesse ferido ou velho, o espírito supera a matéria. Ele se
desvencilhou do chicote, e se ergueu.
Ele deu um poderoso soco e rachou a
superfície do lago, arrancando um grande bloco de gelo, em seguida o atirou
contra Sitri, dando um soco para rachá-lo, era como um se milhares de laminas
fossem atiradas contra a anjo caída.
Ela esquivava-se de alguns e usava seu
chicote para repelir os demais, ate que percebeu outro ataque vindo do céu,
Zachary havia feito o mesmo, mas agora atirando o gelo para cima, no fim ela
não consegue desviar-se de todos, terminando com várias estacas de gelo
cravadas pelo corpo.
Ela grita, mas não de dor, e sim de
raiva, esta enfurecida por ter sido ferida por um humano, sua energia
espiritual aumenta destruindo as estacas presas em seu corpo.
Mas antes que ela se desse conta Zachary
estava na frente dela, ela viu apenas o punho dele vindo lentamente contra ela,
ela fazia um rastro, como se estivesse a ter cada momento congelado e repetido
várias vezes.
Quando o golpe acertou Sitri foi
violentamente arremessada contra a parede do castelo, cuspindo muito sangue.
Aquele não tinha sido um único soco, era como se ela tivesse recebido mil
deles.
Icelo
me contou sobre você, a sua historia. De como você era parte do exército de
Miguel durante toda a guerra, mas no fim você os traiu, matando dezenas de
anjos e fugindo junto de Lúcifer. – disse Zachary
–
É como eu sempre imaginei, o inferno é o lugar onde vocês nos punem para expiar
seus próprios pecados. Desde que Deus os deixou você caíram, foram todos
dominados por sentimentos que não deveriam sentir.
–
Isso fez com que odiassem a si mesmos, e como todos aqueles que se odeiam vocês
tentam destruir não apenas vocês, mas todos ao seu redor, querem compartilhar o
sofrimento de vocês, punir os humanos por eles.
–
Este é realmente o seu círculo Sitri, porque você mais do que ninguém quer se
punir por sua traição, aposto que pensa nisso todos os dias, que imagina o que
aconteceria se não tivesse traído Miguel, se tudo valeu a pena.
–
Mais do que isso, imagino onde esta sua lealdade agora, se a guerra
recomeçasse, de qual lado você estaria? Trairia Lúcifer? Seria isso o bastante
para Miguel a perdoar?
Cala
a boca! Calado humano imundo! Eu vou te destruir, vou despedaçar seu corpo e
partir sua alma, depois eu vou acabar com cada pessoa que você conheceu, eu vou
torturá-lo. – gritava Sitri
A armadura dela estava cheia de
rachaduras e despedaçada, Sitri a retira, bem como larga o chicote, com alguma
dificuldade ela se levanta, a expressão dela é diferente neste momento, não é
mais de tédio e indiferença, se torna sádica.
Atacar a distância e de modo contido,
destruir o adversário aos poucos, este era o modo de lutar que ela tinha
desenvolvido no inferno, já que nunca tinha precisado lutar de forma séria. O
seu estilo original, que ela havia usado durante a guerra entre Lúcifer e
Miguel.
Adorei, muito bom, superou muito as minhas expectativas após o último capítulo, achei a interação entre os dois bastante boa, ela não parece ser realmente má, foi a que mais gostei até agora. A luta também não esteve nada mal, para a idade, Zachary luta muito bem mas a anjo caído agora é que irá mostrar de que é feita.
ReplyDeleteGostei da história que deu para o fato de Sitri estar naquele círculo. Parece que punir a si mesma não era o suficiente, então punia até mesmo as almas que paravam lá. No final das contas, vemos que os anjos caídos se arrependem do que fizeram no passado.
ReplyDeleteAcho que as palavras de Zachary surtiram mais danos nela do que qualquer um dos golpes que ele deu ou tentou dar... Sitri ficou extremamente irritada e parece que vai lutar com tudo mesmo. Parece que será agora uma grande batalha.
É interessante como você aos poucos vai moldando os personagens, gosto quando o autor faz assim, porque fico bem confusa quando tem excesso de informação. É melhor ir conhecendo o personagem aos poucos, pequenos detalhes fazem grande diferença na personalidade deles.
Enfim, estarei aguardando ansiosamente pelo próximo capítulo, e obviamente, pela luta! :3