Capítulo 47 - O último dia

Dois demônios haviam acabado de retornar do mundo dos homens para o inferno, tinham ido a uma missão para tentar obter informações sobre Lilith, não haviam conseguido nada. Conforme se aproximavam do castelo de Lúcifer tinham mais dificuldade em caminhar, era como se a gravidade ficasse mais forte.

Ao longo do caminho viam pelo chão inúmeros demônios desmaiados, era possível sentir no ar uma terrível pressão. Foi então que Vassago apareceu diante deles, explicou que aquilo era o poder de Lúcifer se manifestando por todo o inferno, ao saber que eles não tinham conseguido nada mandou que fossem embora, a medida que se aproximassem do castelo a pressão ficaria maior, ate mesmo os anjos caídos tinham certa dificuldade em permanecer lá.

Vassago então comunicou a Lúcifer que não tinham conseguido nada, embora não demonstrasse de modo claro era possível ver a fúria crescendo dentro dele, uma incontrolável energia emanava do corpo dele, fazendo as paredes começarem a rachar.

Por um momento Vassago pensou que ele destruiria todo o inferno, mas então sua energia começou a diminuir ate ficar normal. Lúcifer se ergueu de seu trono e disse a Vassago para se preparar para a guerra, enviar mensageiros ao mundo dos homens para que se comunicassem com os servos dos anjos e avisassem a Miguel, a trégua tinha chegado ao fim.

Depois de três dias desde que Lilith tinha desaparecido a paciência de Lúcifer tinha se esgotado, não conseguia nenhuma informação sobre onde ela estava, não iria perder sua filha de novo, não importava que tivesse de destruir todo o mundo dos homens e queimar todo o paraíso para isso.

Vassago saia da sala do trono e se preparava para enviar mensageiros e anunciar as ordens de Lúcifer, mas foi detido por uma risada que vinha das sombras, era Gremory.

Estranho, o sempre ponderado e fiel conselheiro parece mais feliz do que deveria com essa declaração de guerra. – disse Gremory

As ordens de nosso senhor Lúcifer são absolutas, não cabe a mim julgá-las, apenas cumpri-las. E desta vez ele esta diferente, não acredito que será tão tolerante com seu senso de humor e suas piadas, portanto, cuidado com o que fala. – disse Vassago

– Calma, apenas estou dizendo que você deve estar feliz, já que parece estar acontecendo tudo que você sempre desejou.

– Cuidado com o que insinua, não permitirei que ponha em dúvida minha lealdade a Lúcifer.

– Não se preocupe, não tenho porque fazer nada, na verdade eu gosto do rumo que as coisas estão tomando.

Gremory então saiu rindo de forma espalhafatosa.

Na casa onde estavam se escondendo Strauss e Zachary discutiam sem chegar a um consenso sobre o que fazer a seguir.

Strauss dizia que poderia tentar convocar alguns membros da ordem mais fieis a ele, que talvez estes não acreditassem em Ravel e se aliassem a ele, mas era algo muito arriscado, podiam ser descobertos e cair em uma armadilha ao entrar em contato com eles.

Mark ouvia a tudo com atenção, quando eles terminaram de falar ele então disse que tinha uma ideia. A aliança temporária que Zachary tinha feito com Icelo, e o próprio demônio dos sonhos tinha dito a Mark que o ajudaria em caso de dificuldade, que ele poderia buscar refugio no mundo dos sonhos.

Zachary estava em duvida, não confiava em Icelo, sabia que tudo que ele fazia era apenas para conseguir atingir seus próprios objetivos, que se ele tinha oferecido ajuda devia ser por ter algum interesse oculto, além disso, Mark era muito valioso, se Icelo conseguisse capturá-lo poderia o oferecer a qualquer dos lados e lucrar muito com isso. Apesar disso tudo, parecia não existir outra opção.

Imediatamente Strauss se mostrou contrario, não queria permitir que Mark se aliasse a um demônio. Eles começaram uma áspera discussão.

Mark dizia ter tantos motivos para confiar no demônio como tinha para confiar em Strauss, que os aliados dele é que haviam os traído e estavam a ameaçá-los neste momento.

Strauss respondia acusando-o de estar agindo de modo irresponsável, que muitos sacrifícios já haviam sido feitos por ele, e ainda mais seriam feitos, porque a vida de Mark era importante, ele não podia decidir o que fazer por conta própria, devia isso a Stanley e todos os outros que haviam se sacrificado por ele, ate a própria mãe dele.

Quando Strauss falou da mãe de Mark este se descontrolou, a discussão ficava mais intensa. Mark exigia saber do que ele estava falando, o que ele sabia sobre a morte da sua mãe, mas subitamente parou quando sentiu uma terrível intenção assassina nas suas costas. Ao olhar percebeu que se tratava de Simone, além das habilidades de cura ela também era uma guerreira.

No momento em que os olhares deles se encontraram ela avançou sobre Mark com um punhal, ele desviou por pouco evitando um ferimento mais grave, mas sofreu um corte no braço. O que o deixou mais surpreso foi o fato dele ter percebido um forte ódio no olhar dela.

Percebendo que ela estava disposta a matar Mark, Strauss ordenou que ela se acalmasse, que ele resolveria esta situação ao seu modo. Quando ela parou e se afastou de Mark, Zachary o ajudou a se levantar e foram ate outra parte da casa para tratar do corte no braço.

Depois que os outros saíram Strauss foi ate ela e deu um forte tapa em seu rosto, em seguida a repreendeu bastante, dizendo que ela não podia fazer aquilo, que sua missão era protegê-lo, se necessário dar a própria vida para salvar a dele. Ela apenas o encarava, ele então se arrependeu do que havia feito ao ver o um corte no rosto dela.

Após se passarem algumas horas Mark foi ate Strauss e disse que a aliança entre eles estava desfeita, que esperariam ate de manha para estabilizar Dante e em seguida partiriam, que fariam as coisas da sua própria maneira. 

No paraíso Miguel caminhava pela sala do trono, parou em frente a sua espada pendurada na parede, pensativo a admirava, a lendária espada, a única forjada pelo próprio Deus, que no passado tinha sido capaz de ferir Lúcifer. Aguardava ansioso pelo próximo movimento, que sabia que não seria dele, mas de seu irmão, ele apenas precisava estar preparado para reagir a altura.

Nesse instante Orphamiel se apresenta, diz trazer uma mensagem importante, através de seus demônios no mundo dos homens, Lúcifer ordenou que Miguel fosse avisado, a Estrela da Manha tinha decidido por um fim a tudo, estava desafiando-o para uma batalha final.

Um sorriso surgiu no rosto de Miguel, ele então retirou a sua espada da parede, desde a batalha contra Lúcifer há incontáveis anos ela tinha ficado guardada, repousando, mas agora parecia tão afiada quanto naquele dia, não havia perdido seu fio, ao contrário, parecia ansiar pela guerra.

O comandante do exército celeste ordenou que Orphamiel preparasse a todos, avisasse que a trégua seria rompida, e que em vinte e quatro horas a guerra explodiria novamente, e dessa vez não pararia ate haver um vencedor, ate que alguém ocupasse o posto de Deus.

Kali ouvia com atenção as palavras de Rafael, como ele contava todo o futuro que inevitavelmente aconteceria, que nada nem ninguém podia mudá-lo. Ela então perguntou o porquê dele tê-la levado para lá se nada pode ser feito para impedir, se o futuro já esta mesmo escrito ela não poderia intervir.

O arcanjo respondeu que era por piedade e curiosidade. Tinha piedade de vê-la tentar tanto e não poder fazer nada para mudar o resultado final, e curiosidade porque ela deveria ter morrido, a existência dela era algo que não tinha sido previsto.

Mas acima de tudo, Rafael estava cansado, por eras ele esperou sozinho para que as escrituras se cumprissem, para que o fim chegasse e ele pudesse morrer, que todo o universo se apagasse. Ele não queria que ninguém interferisse e adiasse aquilo, que ela estava lá para assistir ao final com ele, mas que se recusasse e tentasse fazer alguma coisa ele apenas a mataria.

Mesmo tendo diante de si um arcanjo, Kali não demonstrava medo, estava disposto a lutar, se fosse encarar a morte ela preferia morrer lutando a apenas esperar sem fazer nada. Ela então disse que o mataria e voltaria para o mundo dos homens, que daria um jeito de impedir a guerra e a vitória de Miguel, que confiava em seu pai.

Rafael disse que preferia não lutar, mas que se ela realmente quisesse fazer isso ele a enfrentaria, mas antes disse que ela precisava saber a verdade sobre Lilith, que ao descobrir isso talvez ela aceitasse a morte de modo mais sereno.

No mundo dos sonhos Icelo conversava com alguém, através desta dimensão ele podia alcançar tanto o paraíso quanto o inferno e telepaticamente falar com anjos que tivessem maiores habilidades telepáticas.

A hora finalmente chegou, em vinte e quatro horas eles vão se enfrentar pela última vez, Miguel e Lúcifer decidiram o destino de tudo, quem será o novo Deus. – disse Orphamiel

Obrigado por me avisar, vou me preparar para os fogos de artifício, não quero perder isto. – disse Icelo

– Não estou o avisando, ate porque imagino que você já soubesse disse. Vim falar com você porque quero saber, quando a hora chegar, onde estará a sua lealdade?

– Eu já disse, eu sou neutro, o único lado que sigo é o meu próprio, mas não quer dizer que não possa intervir para tornar as coisas mais interessantes, você sabe, agitar um pouco mais o clima.

– Não tenho tempo para a suas brincadeiras, espero que não se esqueça do nosso acordo, esteja ao nosso lado na guerra e eu lhe darei o que você tanto anseia.

– E você Orphamiel, o que você anseia?

– Apenas um fim rápido para tudo isso.

Enquanto isso na casa onde Mark e os outros estavam, enquanto ele observava pela janela os primeiros raios de sol despontando no horizonte e rasgando o véu da noite, mas ao mesmo tempo pela encosta da montanha subiam vários homens, eles haviam sido achados pela Vama Marga.