Thursday 24 April 2014

Capítulo 50 - Um propósito para existir




Naquele espaço construído dentro do limbo Kali se preparava para lutar, não desistiria tão facilmente da sua vida, estava disposto a enfrentar ate mesmo Rafael, mesmo sabendo da força que o arcanjo devia possuir.
O arcanjo não temia Kali, pelo contrário, estava certo que a venceria em uma batalha, e era justamente esta certeza que o fazia não desejar a batalha. Para um ser que conhecia todo o futuro, que por era tinha visto tudo sempre acontecer na ordem correta, parecia uma grande futilidade tentar se opor a isso.
Percebendo a expressão no rosto de Rafael ela podia ver que ele não a odiava, que não era um guerreiro com sede e sangue, talvez ela pudesse convencê-lo, se possível era preferível evitar a luta.
Kali tentou argumentar com ele, se a própria existência dela não estava no livro, se ela não deveria existir, isso significava que o Livro podia estar errado sobre outras coisas, que aquele futuro poderia ser mudado.
Por um momento Rafael meditou sobre as palavras dela, mas logo afastou os pensamentos, ele sabia que aquilo era impossível.
O tempo era como uma grande tela branca, nele existiam alguns pontos, eventos que necessariamente devem ocorrer de modo a conduzir ate o fim de tudo.
Entretanto, os fatos que ligaram os pontos são mutáveis, as linhas que ligam os pontos não precisam ser retas, podem ascender ou descer, podem formar um circulo, mas inexoravelmente devem passar pelos pontos. Estes pontos são a historia contado no Livro da Vida.
A existência de Kali era apenas isso, um evento que não precisava ter ocorrido, mas o fato dele ter acontecido não é capaz de mudar o futuro. Por ela ainda estar viva no máximo retardaria um pouco o desenrolar natural da história.
O arcanjo decidiu contar a Kali sua própria origem, mostrar como a existência dela tinha apenas um objetivo, e ela precisava cumpri-lo.
Durante a guerra no paraíso Lúcifer enfrentou incontáveis adversários. Os anjos dividiram em facções apoiando a ele ou a Miguel, alguns acreditavam que Deus deveria ser trazido de volta, que deviam tentar ressuscitá-lo, outros que ele havia traído os anjos com seu amor pela humanidade, por isso era preciso fazer surgir um novo Deus.
A maioria dos anjos estava ressentida com Deus, se consideravam abandonados, preferindo se aliar a Miguel, o restante, aproximadamente um terço do total, preferiram seguir a Lúcifer.
A vantagem numérica do exército de Miguel era muito grande, os anjos que se aliaram a Lúcifer deveriam ter sido esmagados. Mas diante do poder de Lúcifer ate mesmo a maior quantidade de soldados não importava tanto.
A força dele ele incomensurável, o primeiro anjo criado por Deus, o mais poderoso arcanjo, provavelmente agora que Deus não mais existia a criatura mais forte em toda a criação.
O tempo é percebido de modo diferente para os anjos, criaturas imortais, criadas para serem eternas, a guerra durou apenas um dia do ponto de vista deles, mas no tempo dos homens, ela se estendeu por mais de dois mil anos.
Legiões de anjos leais a Miguel atacavam a Lúcifer, pareciam uma nuvem no horizonte, mesmo assim ele resistia a todos os ataques, os corpos ao redor dele formavam montanhas, ele estava banhado em sangue de anjos, um anjo vermelho que trazia a morte, se a batalha tivesse continuado desse modo provavelmente ele teria vencido a guerra.
Nem mesmo Miguel era capaz de vencê-lo, em uma batalha entre eles Lúcifer seria o vencedor, mesmo Miguel sendo o segundo arcanjo mais poderoso a diferença de poder entre eles era muito grande.
Mas Miguel possuía algo capaz de equilibrar a luta, “Fogo de Deus”, uma espada forjada por Deus e dada de presente a Miguel, o líder de todas as legiões celestes, o arcanjo guerreiro.
Quando em batalha a espada revelava seu real poder, ela ainda ardia com as chamas com que tinha sido forjada, uma chama que nunca se apagaria, uma espada de fogo capaz de queimar qualquer coisa.
Com esta espada Miguel era capaz de equiparar sua força a de Lúcifer, os dois então começaram um duelo, a luta entre eles decidiria tudo, o destino dos anjos e de toda a humanidade.
Cada golpe deles fazia o próprio céu tremer, era como se tudo fosse se partir, o chão rachava, montanhas se desintegravam, se aquilo durasse por muito tempo tudo seria destruído. Ambos foram capazes de perceber a situação, e decidiram então por um fim aquilo, colocando toda a sua força e terminando no próximo ataque.
Quando os mais poderosos ataques deles colidiriam houve a tragédia, Gabriel que ate o momento tinha se mantido neutro, tentando encontrar um meio de evitar a luta, que implorava para que seus irmãos parassem com aquilo sem ter a voz ouvida, ele não poderia suportar ver um irmão matar o outro, ele não aguentava mais ver o paraíso daquele jeito, com milhares de corpos sem vida, com o solo tingido de vermelho, gritos por toda a parte.
Então ele se colocou entre Miguel e Lúcifer, suportou o ataque de ambos, mas ao custo da própria vida.
Nesse momento Lúcifer e Miguel pararam, decidiram por uma trégua em respeito a morte do irmão, sangue demais já havia sido derramado naquele dia. Por escolha própria Lúcifer escolheu o exílio, levando com ele todos aqueles que escolhessem segui-lo.
Miguel ficou com o paraíso, e após a partida de Lúcifer cuidou de todos os mortos, independente de por quem eles tivessem lutado, todos eles foram enterrados com honra e um grande monumento foi erguido.
A luta entre eles não terminou sem consequências, Miguel teve sua asa direita arrancada, e Lúcifer foi gravemente ferido pelo “Fogo de Deus”.
Além do mundo dos homens e do paraíso existem inúmeros outros mundos criados por Deus, Lúcifer um deles, um que estava vazio para se abrigar e se preparar para o confronto com Miguel.  
Mas aquilo era um mundo vazio, não havia nada além de escuridão, então Lúcifer usando seu poder forjou aquele mundo, ele criou o inferno. Deus precisou de seis dias para criar o mundo, Lúcifer precisou de seiscentos e sessenta e seis anos ate moldar totalmente o inferno.
A forma como o inferno ficou, os contornos que ele tem foram causados pelo estado de espírito de Lúcifer enquanto o moldava, ele estava sentindo muito ódio, raiva, culpa, os sentimentos que o dominavam tornaram o inferno neste lugar de penitencia e castigo eterno, um lugar para almas que não podem ser perdoadas.
Em parte isso ajudou a salvar Lúcifer, o ferimento causado pelo “Fogo de Deus” nunca se cura completamente, não importa quanto tempo passe o local onde se é atingido por ela ficará eternamente queimando, uma marca inesquecível para aqueles que ousassem lutar conta ela.
Uma espada terrível que amaldiçoa aqueles que sobrevivem ao seu ataque, fazendo com que desejassem ter morrido. Com o passar do tempo Lúcifer se recuperava dos outros ferimentos, mas não deste, e isso começava a fazer o corpo dele entrar em colapso, o poder que ele possuía era grande demais, ele simplesmente não era capaz de suportar isso com o corpo tão debilitado.
Construir o inferno em parte o ajudou, drenando parte de sua energia, mas não era o suficiente, ele precisava liberar mais energia.
Foi então que Lúcifer teve uma ideia, se lembrou de quando Deus criou a humanidade e deu toda a sua alma para isso, ele então fez o mesmo. Ele criou você.
O anjo caído conhecido como Lilith, chamada de filha de Lúcifer, na verdade é apenas um repositório, um deposito, algo criado para armazenar a energia dele ate que ele necessitasse usa-la mais uma vez, quando ele entoa a mataria para tomar o poder de volta.
A história que todos sabiam era que você era apenas mais um anjo, e que durante a guerra salvou Lúcifer de um ataque que ele receberia pelas costas, ficando gravemente ferida por tê-lo defendido, por gratidão a este ato ele decidiu curá-la e a adotou como filha.
Portanto, antes da batalha final você deve morrer para que Lúcifer recupera toda a sua força, se ele não tiver a energia que esta com você certamente será morto muito mais facilmente.
Rafael terminou de contar sobre a origem de Kali esperando que agora ao saber da verdade ele entendesse que sua existência não significava nada, que ela servia a um único propósito, e que por isso ela devia calmamente aceitar a morte.
Durante algum tempo Kali permaneceu em silêncio, pensava nas palavras de Rafael, o significado de toda a sua vida parecia algo irreal, ela não sabia mais quem era. Mas sua indecisão durou apenas alguns instantes.
Várias coisas começavam a fazer sentido para ela, a conspiração que fizeram contra ela, o objetivo certamente era tomar a vida dela para que Lúcifer pudesse recuperar totalmente sua força.
Por causa de Mark a guerra ia finalmente terminar, depois de tantos anos de trégua o confronto não poderia mais ser adiado, e isso havia sido o gatilho para que tentassem matar Lilith, e explicava o ataque que ela tinha sofrido.
Apesar disso ela se recusava a acreditar que Lúcifer tinha feito isso, ela sempre tinha sentido nele um verdadeiro afeto de pai.
Lilith e Katherine não existiam mais, Kali era uma nova existência, embora compartilhasse memórias e sentimentos de ambas, não era a mesma pessoa.
Ela estava decidida a ir embora daquele lugar, descobrir a verdade por conta própria, perguntar a Lúcifer sobre aquilo. Ao contrário do que Rafael havia imaginado aquelas revelações não tinham feito com que ela desistisse de lutar.

Kali estava determinada a enfrentá-lo, tinham coisas que ela precisava fazer e pessoas que ela precisava ver, não podia morrer naquele lugar, e o primeiro passo para começar a mudar o destino era vencer Rafael. 

2 comments:

  1. Adorei este capitulo, a historia da origem de Lilith é otima, ela era apenas um armazem para a energia de Lucifer, e teria de morrer para que este recuperasse toda a energia, sendo assim, Kali não tem razão para existir, gostei bastante de como foi descrita a ação, a batalha total mostrando a espada criada por Deus e culminando na criação do inferno, agora Kali terá de derrotar o detentor do livro da vida se quiser sobreviver, quero muito ver esta confrontação.

    50 capitulos, quem diria que chegava tão longe, a historia teve altos e baixos mas o autor conseguiu sempre surpreender, parabéns, não é toda a gente que consegue fazer 50 capitulos e manter uma historia por tanto tempo, você merece todo o sucesso. ^^

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  2. Caramba, agora tudo faz sentido! Agora entendo porque Rafael não acreditava que mesmo trazendo a Kali até onde estava mudaria algo... É por causa dos "pontos chave" que tem na história contada no livro...Interessante isso,acabou me surpreendendo mais uma vez XD
    A luta entre os anjos foi uma coisa muito tensa mesmo, mas ainda fico com pena de Gabriel, que tentava parar aquele conflito e teve que se sacrificar para que os dois enxergassem o grande erro que estavam cometendo e.e Mas muitas vidas foram perdidas com isso e só deixou um grande rastro de destruição... Ainda bem que não continuaram, senão já não sobraria mais mundo XD
    Não deve ser uma coisa agradável descobrir que é só um armazenamento dos poderes de Lúcifer, especialmente porque ela parecia o enxergar como uma figura paterna mesmo... Mas agora sabe que no final das contas, terá que morrer para que seu papai tenha poder total novamente... Imagino que ela deve ter ficado momentaneamente abalada com isso, apesar da rápida decisão que tomou. Aliás, agora entendo o "desespero" de Lúcifer por encontrar a filha =x
    Bom, sabendo agora também de seu potencial, creio que ela poderá também se beneficiar com os poderes de Lúcifer, não? Pelo menos ela parece estar disposta a enfrentar Rafael...
    Enfim, esse foi outro excelente capítulo! Foi interessante saber mais sobre as origens de Lilith, sua fic está sempre surpreendendo. Parabéns! Aguardo pelo próximo!
    P.S. - Shaman <3

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