Capítulo 16 - As sombras no meu coração

Paralelamente a tudo que acontecia no plano astral entre Icelo, Zachary e Mark, Katherine esperava na livraria, velando pelo corpo de Mark e observando enquanto a vela que ligava a alma dele ao corpo queimava.

Enquanto estava concentrada em Mark ela conseguia se controlar e afastar as dúvidas da sua mente, mas sabia que havia uma sombra que ainda a assombrava.

Então ele apareceu.

Katherine conseguiu sentir algo, como se fosse uma ruptura no espaço, um pequeno clarão, talvez para não assustá-la, talvez porque parecesse divertido, ou apenas para fazer uma entrada mais impactante.

Aquela figura estranha veio lentamente subindo as escadarias e se fazendo ouvir pisando fortemente, até finalmente chegar ao segundo andar e no quarto onde Mark e Katherine estavam.

Vestia roupas bastante chamativas, com uma grande cartola e uma bengala, sem dizer uma palavra ele apenas puxou uma cadeira e sentou-se. Katherine sabia que aquilo não era humano, que era uma presença má, como se até a sombra dentro da mente dela dissesse que ela devia tomar cuidado com ele.

Após encarar Mark por algum tempo, olhando com atenção para os símbolos e selos feitos em volta do corpo, ele então se voltou para Katherine e se apresentou, disse que seu nome era Icelo.

Embora devesse estar assustada ao saber quem ele era, afinal ela estava sozinha com aquele demônio tão poderoso, que até Mark temia em enfrentar, a única coisa em que Katherine conseguia pensar era em Mark e Zachary. O fato de o demônio estar ali podia significar que eles haviam falhado, que tinham sido vencidos e ficariam para sempre presos no mundo dos sonhos.

Enquanto tentava se mostrar calma e suprimir as emoções para não deixar aberturas para o demônio ela tentava se lembrar de algo que pudesse ajudar, algo que Mark havia lhe dito ou que ela havia lido nos livros, alguma forma de lutar contra aquele monstro.

Que garotinha corajosa. Você esconde bem suas emoções, algumas vezes até parece que não as tem. – disse Icelo

O que você esta fazendo aqui? Veio atacar Mark? – perguntou Katherine

– Não, algo tão vulgar não é do meu feitio, seria fácil demais. E como você bem sabe eu já o tenho exatamente onde o quero.

– Então por que esta aqui?

– Eu achei que fosse obvio. É por sua causa.

– Não vou deixar que me use contra o Mark.

– Você realmente não entendeu, isto não tem nada a ver com ele, digamos que eu o encontrei por acaso, mas o meu objetivo ao vir para cá sempre foi você.

Katherine estava chocada com aquelas palavras, embora ela soubesse que demônios atacam as fraquezas das pessoas para mexer com suas emoções e assim poder dominá-las, algo nela sabia que o que Icelo dizia era verdade. E isso a assustava.

Tudo que ela não sentia, os sentimentos que parecia ter perdido, a sombra que existia dentro dela, e agora as palavras de Icelo, as peças começavam a se encaixar de alguma forma.

Que bom, finalmente esta entendendo tudo. Então sabe que não adianta fugir ou se esconder de mim. Mande a garota embora, é hora dos adultos conversarem. – disse Icelo

Tudo bem. – disse Katherine (sua expressão havia mudado)

– Muito bem, você é esperta. Há quanto tempo não nos víamos ...

– Não ouse falar o meu nome.

– Não se preocupe, ia chamá-la apenas de minha princesa. (enquanto dizia isto de forma irônica ele fazia uma reverência a ela)

– Claro que sim, se chamasse meu nome você teria tanto a perder como eu se uma legião de demônios viesse aqui. (disse ela sem se intimidar, o desafiando)

– E se ao invés de demônios eu chamasse alguns anjos?

– Será que o pobre Icelo ainda lamenta sua perda? Esta tão sozinho que pensa em tentar ficar bem com os anjos?

– Você continua adorável.

– Me pergunto se você imaginava que se por estamos em uma situação parecida eu me aliaria a você. Se for isto só posso rir. Saiba que nunca estaremos na mesma situação, eu sou superior.

– Claro que eu concordo, não estamos na mesma situação. Você é caçada no céu no inferno, depois de várias eras quebrou o equilíbrio e pode finalmente por um fim a tudo. Só é uma pena que você não tenha planejado nada disso, tenha sido apenas usada.

– Mas como você disse tudo isso esta prestes a causar uma guerra, e quando tudo estiver em cinzas e os dois lados estiverem fracos eu triunfarei.

– Era o que eu esperava de você, um plano B. Alguma vingança, uma forma de tornar isso em seu proveito.

– Então foi por isso que veio? Quer saber o que vou fazer? Em qual lado deve apostar?

– Pode-se dizer que sim. Talvez eu apenas quisesse ver você dizer isso, queria ter certeza de que era realmente capaz de fazer.

– E você viu, agora o que garante que você vai continuar a viver depois de ter visto isso?

– Eu sei que você ainda esta gravemente ferida, não esta nem perto do que já foi um dia.

– Quer arriscar se a força que eu tenho é o suficiente para você?

– Não. Mesmo que você esteja blefando ainda é muito perigosa. Mas você sabe que outros seriam mais imprudentes e desafiar-te-iam.

– Eu não temo a ninguém, nem o meu pai.

– Isso me parece desejo de vingança.

– Pode ter certeza que sim, ninguém me desafia, ninguém me enfrenta e vive, e isso inclui até os príncipes do inferno, eles vão pagar.

– E deve ser ai que entra o novo fator: Kroos.

– Sim, eu pretendo usá-lo.

– Não acha que ao se juntar a ele esta indo direto para o olho do furacão?

– Eu não temo a tempestade, eu quero estar no centro disso quando a guerra começar. Eu vou vencê-la.

– Acho que esta a esquecer que perdeu o seu maior trunfo.

– Eu nunca perco. Você acha que veio até mim e que por acaso encontrou um Kroos comigo e pensou em pegá-lo. Mas e se for o contrário, e se eu tiver deixado você capturar o garoto.

– Então eu diria que você pode ter apostado alto demais se acha que consegue me manipular.

– Isso é o que eu faço, eu manipulo a todos, humanos ou demônios. Nunca se esqueça de quem eu sou ou o que eu criei.

– Você esquece de uma coisa, pode ser verdade que consiga manipular, que consiga soltar uma pequena pedra do topo da montanha, mas você certamente não poderá controlar quando se tornar uma avalanche.

– Eu não preciso controlar a avalanche, eu só preciso não estar no caminho dela.

– No passado talvez, mas hoje você pode não ter escolha. As coisas mudam, você mudou. E eu vou provar isso.

Icelo se prepara para atacar Katherine que fica numa postura defensiva, uma grande aura podia ser sentida, se os dois se enfrentassem provavelmente destruiriam toda aquela pequena cidade.

Mas para a surpresa de Katherine, Icelo não a atacou, ele foi em direção ao corpo de Mark, indo até a vela que ainda queimava e significava a união do corpo e alma dele. Com um simples toque Icelo apagou a vela.

O corpo de Mark começou a esfriar e tomar um aspecto pálido.

Eu realmente gostaria de ficar e assistir a tudo isso, tenho certeza que será um momento bem dramático, mas infelizmente preciso ir. A distração que preparei para meus convidados esta prestes a terminar, tenho de estar lá para os receber. – disse Icelo

– Mas não se preocupe, minha princesa, certamente nos encontraremos novamente.

Após provocá-la esta última vez Icelo desapareceu, voltou para o mundo dos sonhos onde Katherine não poderia ir atrás dele tão facilmente.

Diante do ataque de Icelo a Mark ela não fez nada, nem pensou em atacar Icelo, isso seria apenas desperdiçar poder e talvez atrair mais atenção do inferno para si. Aquela forma nem deveria ser o verdadeiro Icelo, mas apenas uma projeção.

Existiam várias coisas sobre as quais ela devia pensar neste momento, seus planos agora deviam incluir Icelo como um fator que podia determinar muitas coisas. Mas ela não conseguia pensar em nada disso, ela não entendia o porquê, mas estava apenas a olhar para o corpo de Mark.

Eu não estou ferida, um lixo como Icelo jamais conseguiria me ferir, eu estou bem, não fui atingida por ele, então por que meu coração dói tanto. – disse Katherine

– Por que eu estou chorando?

Neste momento a mente de Katherine se mostrou mais forte e voltou a tomar o lugar. Durante o tempo que a sombra em sua mente assumiu o controle Katherine pode entender algumas coisas, ela teve alguns momentos de lucidez.

Sentia medo, que não pertencia mais a si mesma, que a cada momento aquela sombra dentro de si se tornava mais forte.

Mas agora isso não importava, desesperada ela correu até o corpo de Mark e o abraçou forte, podia sentir ele indo embora, a deixando para sempre.