Após séculos de testes e pesquisas a ordem finalmente havia conseguido seu objetivo, criar os exorcistas perfeitos. Todo resquício de emoção havia sido retirado.
Só restava Holger, o último a ser
capturado, o garoto gritava e implorava pela ajuda de Zachary, que assistia a
tudo sem demonstrar nenhuma reação.
Holger percebeu que os outros precisavam
de ajuda também, e que se ele não os salvasse ninguém o faria. Para sua
surpresa ele vê Krauser livre a ajudar em tudo aquilo, ele parecia o mesmo de
sempre, por um momento imaginou que talvez ele nunca tivesse tidos sentimentos
para começar, mas depois percebeu que era algo pior, o que havia em Krauser era
apenas o puro mal.
Logo tudo começou a fazer sentido,
Holger conseguiu identificar alguns dos símbolos que estavam no teto e no chão,
eram signos demoníacos. Khan havia se aliado a um demônio.
Meu
Deus irmão Khan, o que você fez? – perguntou Holger
O
que era necessário. – respondeu Khan
No começo Holger ainda tentou se debater
e reagir de alguma forma, mas logo ele parou, havia sido transformado como os
outros. Entretanto para a surpresa de todos o cristal feito a partir das
emoções dele era cheio de pequenas rachaduras. Parecia que os sentimentos dele
eram tão poderosos e intensos que o cristal quase não conseguia contê-los.
Passaram-se quase dois anos com os
jovens estando sob o controle de Khan, com as emoções seladas em cristais. Sem
questionar, sem duvidar das ordens de Khan por todo este período eles foram os
exorcistas perfeitos, cumpriram com êxito várias missões contra demônios e
outras criaturas das trevas.
Mas a missão que receberam mudaria tudo
isto, em uma pequena e isolada cidade alguma criatura destroçava humanos.
Holger e Krauser foram enviados para investigar.
Ao verificar alguns dos corpos atacados
logo perceberam que era obra de um demônio, parecia estar juntando ingredientes
para um ritual. Aquela carnificina servia a um propósito, era uma oferenda a um
dos grandes senhores do medo, embora não percebessem ainda o porquê de tudo
isto sabiam que deviam deter antes que um demônio de alta classe aparecesse.
Após alguns dias na cidade conseguiram
identificar o culpado, o filho do prefeito. Ele havia feito um acordo com um
demônio, faria um ritual para abrir um portal para do nosso mundo para o
inferno.
Se não estivesse sem sentimentos Holger
teria ficado chocado ao ver um humano fazer isso, sim, o jovem fazia tudo
aquilo de forma consciente, não estava possuído por demônios, era apenas um
monstro.
Krauser matou este homem. Entretanto
isso ainda não era o fim, o que ele havia feito já havia enfraquecido o tecido
da realidade, era preciso de alguma forma consertar aquilo.
Sendo um grande especialista em rituais
Holger sabia o que seria necessário, e seu coração começava a vacilar. Longe
dali, na abadia, o cristal de Holger começava a brilhar e pulsar.
Para selar aquela ruptura precisariam de
sacrifícios, almas inocentes em número suficiente para compensar os mortos.
Haviam sido mortas seis pessoas.
Krauser então dirigiu-se até um orfanato
que havia na cidade, Holger sabia o que ele iria fazer. Já era de madrugada e
Holger encontrou Krauser, ele estava terminando de fazer alguns selos em volta
do orfanato. O cheiro de gasolina era forte.
Espera
um pouco, tem de haver outro jeito. – disse Holger
Do
que você esta falando? – perguntou Krauser
Podemos
pesquisar um pouco mais, tentar achar outra solução, apenas me de algum tempo.
Se
eu não soubesse até diria que você se importa. (disse com um sorriso maldoso)
São
apenas crianças, elas têm toda uma vida pela frente. Não temos o direito de
tirar isso delas.
Deus
já fez isso, as fez órfãos, ninguém se importa com eles. Não fará diferença.
Isso
é errado. De alguma forma eu sei, tem que haver um jeito, eu tenho que
salvá-las.
Por
que elas deveriam ser salvas? Ninguém se importou em nos salvar.
Exatamente,
o mundo não precisa de mais tragédias, mais mortes e dor não vão mudar nada.
Talvez essas crianças possam fazer esse mundo um pouco melhor. Quem sabe até
mesmo nós ainda podemos encontrar alguma redenção.
É
tarde demais, para elas e para você.
Nesse momento Krauser acendeu um
isqueiro e o atirou, logo o fogo se alastrou. Era possível ouvir os gritos das
crianças, o choro. Aquilo tudo era macabro, Krauser havia espalhado o
combustível de forma que o fogo fizesse um círculo, as crianças ficavam
cercadas vendo tudo aquilo, cercadas pelas chamas e apenas podendo ver elas se
aproximando cada vez mais.
Bem,
deviam ser apenas seis, mas pensei, dane-se vamos colocar mais algumas, só para
garantir. – disse Krauser rindo
Enquanto Krauser apenas ia embora Holger
ficou parado vendo tudo aquilo, de repende imagens começavam a aparecer na sua
mente. Foi então que ele retirou as ataduras dos braços e viu as queimaduras
que carregava até hoje.
Na abadia o cristal de Holger se rachou
e partiu em dois.
Finalmente.
– disse Khan
Todas as memórias, tudo que havia feito
nesses últimos dois anos voltou para Holger, seu coração estava despedaçado por
tudo que havia feito. Uma enorme culpa o esmagava, o remorso o fazia chorar,
esteve perto de perder a sanidade, mas o fogo a sua frente o fez se concentrar.
Ele salvaria aquelas crianças de
qualquer forma, sem pensar ele mergulhou em meio a chamas e entrou no orfanato.
Holger agarrava as crianças e as abraçava forte tentando protegê-las das chamas
com seu próprio corpo.
Com bastante esforço Holger já havia
conseguido retirar de lá quatro crianças, mas já quase não aguentava mais,
estava sufocando com a fumaça, sem falar no seu corpo que havia sofrido severas
queimaduras.
Algum tempo depois chegou a brigada de
incêndio da cidade, por ser uma cidade pequena ela era formada apenas
moradores, sem grandes equipamentos ou treinamento, eles não se arriscavam a
entrar nas chamas, apenas tentavam conter o fogo com mangueiras.
Por
favor, Deus, eu sei que não mereço ajuda, que pelo que tenho feito mereço
morrer aqui queimado, mas eu imploro me deixe salvas essas crianças, eu preciso
de força, eu peço esperança. – disse Holger
Foi então que ele viu, em meio ao fogo
um garotinho de dez anos guiando os meninos menores e tentando ajudá-los. Aquela
cena fez Holger recobrar toda a força, ele pegou os garotos menores e os levou
em segurança.
O fogo começava a enfraquecer por causa
dos bombeiros, mas ainda faltava aquela criança, Holger mais uma vez voltou
para as chamas para tentar achá-la. Encontrou o garoto tentando abrir um velho
baú que começava a pegar fogo.
Vamos
garoto, temos que sair daqui. – disse Holger
Eu
não posso sair ainda, tenho que encontrar algo antes. – disse o garoto
Embora a decisão mais sensata fosse
apenas pegar o garoto e levá-lo embora de qualquer jeito havia algo nos olhos
dele que fez com que Holger o ouvisse.
Com a ajuda de Holger o garoto conseguiu
abrir o baú e retirar um velho e pesado livro de dentro dele. Após pegar o
livro eles conseguiram deixar o orfanato, que apesar de todo o esforço dos
bombeiros continuava a arder e pouco a pouco era consumido pelas chamas.
Garoto,
por que você quase se sacrificou por esse livro? O que ele tem de tão
importante? – perguntou Holger
É
o meu legado. – respondeu o garoto
Qual
o seu nome garoto?
Chamo-me
Christian Kroos.
Tendo sofrido graves queimaduras Holger
foi levado ao hospital da cidade, mas logo que acordou partiu, sabia para onde
devia ir. Mas fugiu por algum tempo.
Por alguns dias Holger apenas vagou sem
rumo, durante muito tempo havia deixado de sentir qualquer coisa, agora que
havia voltado a sentir não havia nada além de dor. Seu pensamento não estava
nas crianças que salvou, mas nas que morreram queimadas. Carregava consigo
apenas uma bíblia que havia achado junto a sua cama no hospital. Por mais que
procurasse não haviam respostas lá, nada aliviava a sua dor.
Começou então a rasgar a bíblia até que
uma pagina caiu, estava na parte de Lamentações de Jeremias 3:1-16.
1Eu sou o homem que viu a aflição
trazida pela vara da sua ira.
Aquelas palavras fizeram sentido para
Holger, não se pode fugir do destino, da ira de Deus, no final havia apenas um
caminho para ele, voltar para casa.
Surpreendeu-se ao ver que seu caminho
não foi detido na abadia, era como se já o esperassem, como se quisessem que
ele estivesse ali. Chegando ao salão principal encontrou Khan.
Você
me odeia, posso ver em seus olhos, talvez odeie mais apenas a si mesmo. Sua
alma esta tão queimada e deformada quanto seu corpo, não restou muito do homem
que você um dia foi. E eu sinceramente lamento pelo que você poderia ter sido.
– disse Khan
Por
que você fez tudo isso? Por que se aliou a um demônio? – perguntou Holger
Porque eu sou um profeta, e a sua morte é
necessária para o futuro da humanidade.
Não é emocionante terminar capítulos com frases de efeito marcante? eu amo.
ReplyDeletee continuo amando essa história.
Imagino como Holger deve ter se sentido em relação às crianças que não pode salvar. Creio que morrer queimado deve ser uma das piores mortes. Krauser foi muito filho da mãe...
ReplyDeleteRealmente, as emoções de Holger eram muito fortes, tanto que até quebrou o cristal. O interessante é que ele não mede esforços para ajudar o próximo. Seria tão bom se pelo menos 50% do mundo fosse assim... e.e
Agora vem o Khan querendo matar o Holger?! Mas esse cara merece muito ter a bunda espetada pelos tridentes do capeta ¬¬
Estou adorando sua fic! Em breve lerei o próximo capítulo :3