Enquanto o portal se fechava Sallos
lamentou não poder ver o rosto de Simone, ele pensava na dor daqueles que ficam
para trás, que não podem avançar e lutar, e de como agora cabia a ele lutar
também por ela. Se antes ele sempre lutava disposto a morrer, sem se preocupar
com nada, agora ele imaginava que gostaria de retornar vivo daquela batalha.
Ravel olhava para o seu relógio, mas ele
estava parado, era difícil dizer a quanto tempo subiam aquela escadaria,
parecia já durar dias, em outros momentos pareciam ter começado naquele
instante, a noção de espaço também era prejudicada, eles não conseguiam dizer o
quanto tinha subido.
Com o passar do tempo Mark e Ravel
pareciam cansados e começavam a ter duvidas se aquele realmente era o caminho
certo, mas Sallos permanecia calmo e confiante, ate que ele percebeu do que se
tratava aquilo, ilusões não funcionariam nele por muito tempo, aquilo era uma
metáfora.
Tudo aquilo tinha relação com a
percepção deles, o caminho para o paraíso era variável para cada um, aqueles
que em vida tivessem agido de maneira correta e justa, seguindo os preceitos de
não machucar outras pessoas e seguir o bem, aquelas em poucos passos conseguiam
chegar, mas os que não fossem dignos nunca conseguiriam, passariam toda a
eternidade naquela escada.
O anjo caído explicava a bondade de
Deus, como Ele nunca condenaria ou rejeitaria qualquer pessoa, todos são filhos
amados, mesmo os pródigos, que Ele aceitaria e abrigaria, a única coisa que
afasta as pessoas Dele e do paraíso são nossos próprios pensamentos, as culpas
e remorsos que carregamos, nossos pecados e mentiras.
Mark e Ravel odeiam o paraíso, são
pessoas sem fé, para eles talvez seja impossível seguir adiante, Sallos se
preocupava ao pensar nisto, não era algo fácil, aquele caminho escrutinava todo
o coração, sendo capaz de ver os reais sentimentos das pessoas.
Eu
não sei se tenho o direito de ir para o paraíso se como dizem ele é um lugar
destinado as pessoas boas, mas eu vou ate lá porque eu preciso lutar, não
importa se tenha de subir esta escada ou achar outro caminho. Não mereço ir
para o paraíso, mas é meu dever ir para lá para acabar com aqueles que também
não são dignos de governá-lo. – disse Mark
Eu
não quero ir para o céu, a ideia dele por si só me incomoda, mas se é lá que
nossos inimigos é lá que preciso estar, quero levar esta guerra ate eles,
fazê-los saber o que as pessoas destruídas pela maldita guerra deles sofreram.
– disse Ravel
A determinação deles foi capaz de abrir
caminho, poucos passos depois eles completaram o caminho. Na frente deles viam
um belíssimo campo, era um lugar deslumbrante, ao longo dele havia uma pequena
estrada que levava ate um grande muro e no meio dele um portão, a última
barreira que precisavam cruzar antes de chegar ao paraíso.
Havia um gigantesco portão que parecia
feito de ouro, era algo abençoado pelo próprio Deus, era impossível quebrá-lo
ou entrar por outro lugar, os muros eram impenetráveis, apenas passando pela
entrada se conseguiria acesso.
Mas na frente do portão havia um ano o
guardando, Lahabiel, possuía aparência de um homem bastante forte, tinha
grandes músculos, sua aparência era intimidadora, era careca e possuía um rosto
sério.
Sallos ficou surpreso com aquilo,
durante a guerra, por se recusar a escolher um lado e permanecer neutro ele foi
castigado por Miguel sendo aprisionado, ele ficaria preso por toda a eternidade.
Lahabiel reconheceu Sallos, e conta que
estava realmente sendo mantido aprisionado, ate três dias atrás, quando alguém
conseguiu invadir o paraíso derrotando facilmente o antigo guarda, isso fez com
que Orphamiel decidisse o libertar e incumbir de cumprir sua antiga missão.
A invasão já começava com uma surpresa
desagradável, um inimigo muito mais poderoso do que eles esperavam enfrentar no
início. Sallos e Ravel se preparavam para atacara o adversário, sendo detidos
por Mark.
Ele explicou que não controla totalmente
sua transformação em Nathaniel, que durante a luta com Lúcifer se transformou
durante o calor da batalha. Se quisesse ter alguma chance contra os adversários
que teria de enfrentar daqui em diante precisava ser capaz de controlar
apropriadamente seu poder.
Mark começou a manifestar sua energia
espiritual, seu corpo e sua voz mudaram, ele se tornou um pouco mais alto, seus
cabelos cresceram, sua pele ficou pálida, agora possuía a mesma aparência que
tinha durante a batalha contra Lúcifer. Da outra vez conseguiu voltar a forma
humana por ter sido sua primeira vez e por ter gastado toda a força durante a
luta, agora provavelmente não
conseguiria reverter isto, mas ele não podia se preocupar em voltar a ser
humano.
Ravel e Sallos decidiram esperar e
deixar a batalha para Mark, agora Nathaniel.
O anjo que guardava o portão não se
movia, como uma estatua ficava parado, sua missão era o mais importante.
Nathaniel investiu contra ele, sua velocidade estava ótima, em um instante ele
estava ao lado dele desferindo vários golpes, mas todos foram desviados.
A cada soco de Nathaniel, Lahabiel
apenas dava um tapa no punho fazendo o golpe errar o alvo. Ele permanecia
imóvel, aquela era a técnica de combate dele, dentro daquele espaço sua defesa
era absoluta.
Nathaniel decidiu combinar sua ofensiva
usando ataques de longa distância, disparando esferas de energia contra o
oponente, que respondeu elevando sua aura e desviando todos os ataques, mas
isto era esperado. Enquanto ele descuidasse dos ataques de longa distancia
Nathaniel se aproximaria e o atacaria.
Ele estava se movendo tão rápido que
criava uma ilusão de várias imagens dele ao mesmo tempo, desse modo conseguiu
acertar vários golpes no abdômen de Lahabiel, fazendo-o cuspir sangue e suas
pernas tremerem, mas quando Nathaniel olhou para o seu rosto o viu sorrindo.
Escuridão, um borrão negro, gosto de
sangue na boca, tontura e vertigem, Nathaniel tinha dificuldade em se levantar.
Lahabiel ao ver a velocidade dele decidiu que o único modo de acertá-lo era
quando estivesse perto o suficiente, desse modo ele se deixou ser golpeado
várias vezes, ate ter uma chance de contra-atacar.
Um único ataque e Nathaniel sentia que
sua cabeça quase tinha sido arrancada do pescoço, ele tinha ate mesmo desmaiado
por alguns segundos, provavelmente não levantaria depois de receber outro ataque
direto. Mas o que realmente o afligia é que antes de ser acertado ele tinha
golpeado Lahabiel quatorze vezes, e o anjo não demonstrava qualquer sinal de
dano.
Vendo a confusão no rosto de Nathaniel,
Sallos tentou explicar, disse que Lahabiel era um anjo bastante sério e
devotado, quando recebeu de Deus a missão de guardar as portas do paraíso
decidiu que faria isso, que nunca deixaria ninguém atravessar, mesmo que
custasse a vida dele.
Para isso ele meditou e treinou
continuamente por centenas de anos, ate ser capaz de ignorar a dor, ele
acreditava que se eliminasse a dor seria capaz de lutar sempre com tudo, sem
nunca recuar, não importava os danos que o corpo dele sofresse, ele não
sentiria e continuaria a proteger o portão.
Por um momento Nathaniel sentiu profunda
admiração e respeito por ele, alguém capaz de sacrificar seu corpo para cumprir
a missão que lhe foi dada, para poder proteger algo era preciso ter o coração
inteiro, lutar sem hesitação.
Lahabiel não é um anjo ruim, ele apenas
faz o que tem de fazer, quantos outros serão que não fizeram o mesmo, quantas
vidas de anjos foram perdidas pela ambição de Miguel, pensar nisso fez
Nathaniel ficar totalmente concentrado e focado.
Sua energia começou a se expandir
exponencialmente, enquanto ele caminhava o solo ao redor dele se desintegrava,
Sallos teve um vislumbre da energia total que ele usou contra Lúcifer, agora
ele estava realmente desperto.
Ao ver Nathaniel se aproximar com aquela
energia, Lahabiel inconscientemente recuou um passo, quando ele percebeu isso
era tarde demais, o inimigo já estava na sua frente, um único soco no estomago
e o anjo caiu de joelhos, antes que ele pudesse se erguer um chute na sua
cabeça o atirando contra o portão.
Antes que o corpo tocasse o chão mais
dezenas de ataques seguidos, ele vomitava sangue e sentia seu corpo ser
destruído, mesmo assim ele permanecia de pé, inabalável.
Vocês
não vão atravessar o portão, é minha missão protegê-lo. – disse Lahabiel
Esta
batalha já estava decidida desde o começo. Aquele que não sente dor, ou aquele
que a sente e mesmo assim avança, qual deles você acha que é mais forte? O
homem que você enfrentou esta com seu coração despedaçado, ele esta sentindo
muita dor, mas mesmo assim ele avança e continua lutando, este tipo de
determinação não pode ser derrotada. – disse Sallos
O anjo guardião abaixou a cabeça, ele
apenas esperava pelo golpe final, não se renderia, podia ter falhado em
proteger o portão, mas não seria um covarde, preferia enfrentar a morte. A
imagem que ele vê é de Nathaniel correndo em direção a ele enquanto grita,
quando fecha os olhos escuta apenas o estrondo.
Quando olha novamente vê Nathaniel
esmurrando a parede, imediatamente ele entende, para salvar o orgulho dele,
para não destruir o que ele protegeu, ele quebraria a muralha feita por Deus.
Nesse momento Lahabiel entendeu que tinha sido completamente derrotado,
lágrimas correram pelo seu rosto.
Os punhos de Nathaniel sangravam, mas
ele continuava a atacar, Ravel tentou pará-lo, mas Sallos não permitiu, depois
do centésimo soco finalmente o muro começou a rachar, nesse momento ele grita e
eleva sua energia, fazendo parte do muro se despedaçar.
Você
continua sua missão que lhe foi dada por Deus, mas se ele morreu há tanto
tempo, talvez seja a hora de começar a viver sua própria, pensar pelo que quer
lutar e o que realmente vale a pena proteger. – disse Nathaniel
Eles atravessaram o muro enquanto
Lahabiel permanecia de pé, após eles atravessarem o anjo caiu e desmaiou com os
ferimentos. Por um momento imaginou que Nathaniel o tinha feito se lembrar do
próprio Deus.
Otimo capítulo, começou em grande este arco do céu, com eles vagueando enquanto subiam as escadas eternas sem a noção do tempo, quando finalmente chegaram foram atacados pelo São Pedro que não os deixava passar sem uma luta, ele se mostrou devotado a Deus, fazendo tudo ao seu alcance para defender as portas do céu, falhando no final devido á força incontrolavel de Nathaniel, cada vez mais Mark tem o controle do ultimo presente de Deus o que será importante para o futuro, mas ele ainda teve dificuldades aqui, para a frente anjos mais fortes irão surgir, você começou o arco com um enorme capítulo, celebrando os 90, realmente merece um prémio por este feito =P
ReplyDeleteGostei bastante da explicação que deu sobre cada um ter seu próprio tempo para chegar ao paraíso. A determinação de Mark e de Ravel foi fundamental nesse momento, senão... Acho que continuariam subindo escada por um booooom tempo ^^
ReplyDeleteVou ser sincera, simpatizei bastante com o Lahabiel, dá para ver que ele não é má pessoa. Uma coisa que achei interessante foi que por ser aquele que foi encarregado de proteger o portão do paraíso, ele mesmo tentou virar uma fortaleza para isso.
Espero que depois dessa derrota ele não guarde ressentimentos com os invasores e até se alie a eles. Seria interessante se adquirissem um aliado que é anjo mesmo... Além de ser uma grande adição de força/poder, imagino que ele também possa passar informações para o grupo do Mark.
Resumindo, gostei muito desse capítulo. Mark/Nathaniel mais uma vez mostrou o quão forte e determinado ele tem ficado, além de que houve a apresentação de um personagem que parece ter muito ainda o que mostrar.
Enfim, amanhã mesmo lerei o próximo capítulo!