Friday 30 January 2015

Capítulo 90 - O que aprendeu com a dor




Enquanto o portal se fechava Sallos lamentou não poder ver o rosto de Simone, ele pensava na dor daqueles que ficam para trás, que não podem avançar e lutar, e de como agora cabia a ele lutar também por ela. Se antes ele sempre lutava disposto a morrer, sem se preocupar com nada, agora ele imaginava que gostaria de retornar vivo daquela batalha.

Ravel olhava para o seu relógio, mas ele estava parado, era difícil dizer a quanto tempo subiam aquela escadaria, parecia já durar dias, em outros momentos pareciam ter começado naquele instante, a noção de espaço também era prejudicada, eles não conseguiam dizer o quanto tinha subido.

Com o passar do tempo Mark e Ravel pareciam cansados e começavam a ter duvidas se aquele realmente era o caminho certo, mas Sallos permanecia calmo e confiante, ate que ele percebeu do que se tratava aquilo, ilusões não funcionariam nele por muito tempo, aquilo era uma metáfora.

Tudo aquilo tinha relação com a percepção deles, o caminho para o paraíso era variável para cada um, aqueles que em vida tivessem agido de maneira correta e justa, seguindo os preceitos de não machucar outras pessoas e seguir o bem, aquelas em poucos passos conseguiam chegar, mas os que não fossem dignos nunca conseguiriam, passariam toda a eternidade naquela escada.

O anjo caído explicava a bondade de Deus, como Ele nunca condenaria ou rejeitaria qualquer pessoa, todos são filhos amados, mesmo os pródigos, que Ele aceitaria e abrigaria, a única coisa que afasta as pessoas Dele e do paraíso são nossos próprios pensamentos, as culpas e remorsos que carregamos, nossos pecados e mentiras.

Mark e Ravel odeiam o paraíso, são pessoas sem fé, para eles talvez seja impossível seguir adiante, Sallos se preocupava ao pensar nisto, não era algo fácil, aquele caminho escrutinava todo o coração, sendo capaz de ver os reais sentimentos das pessoas.

Eu não sei se tenho o direito de ir para o paraíso se como dizem ele é um lugar destinado as pessoas boas, mas eu vou ate lá porque eu preciso lutar, não importa se tenha de subir esta escada ou achar outro caminho. Não mereço ir para o paraíso, mas é meu dever ir para lá para acabar com aqueles que também não são dignos de governá-lo. – disse Mark
Eu não quero ir para o céu, a ideia dele por si só me incomoda, mas se é lá que nossos inimigos é lá que preciso estar, quero levar esta guerra ate eles, fazê-los saber o que as pessoas destruídas pela maldita guerra deles sofreram. – disse Ravel

A determinação deles foi capaz de abrir caminho, poucos passos depois eles completaram o caminho. Na frente deles viam um belíssimo campo, era um lugar deslumbrante, ao longo dele havia uma pequena estrada que levava ate um grande muro e no meio dele um portão, a última barreira que precisavam cruzar antes de chegar ao paraíso.

Havia um gigantesco portão que parecia feito de ouro, era algo abençoado pelo próprio Deus, era impossível quebrá-lo ou entrar por outro lugar, os muros eram impenetráveis, apenas passando pela entrada se conseguiria acesso.

Mas na frente do portão havia um ano o guardando, Lahabiel, possuía aparência de um homem bastante forte, tinha grandes músculos, sua aparência era intimidadora, era careca e possuía um rosto sério.

Sallos ficou surpreso com aquilo, durante a guerra, por se recusar a escolher um lado e permanecer neutro ele foi castigado por Miguel sendo aprisionado, ele ficaria preso por toda a eternidade.

Lahabiel reconheceu Sallos, e conta que estava realmente sendo mantido aprisionado, ate três dias atrás, quando alguém conseguiu invadir o paraíso derrotando facilmente o antigo guarda, isso fez com que Orphamiel decidisse o libertar e incumbir de cumprir sua antiga missão.

A invasão já começava com uma surpresa desagradável, um inimigo muito mais poderoso do que eles esperavam enfrentar no início. Sallos e Ravel se preparavam para atacara o adversário, sendo detidos por Mark.

Ele explicou que não controla totalmente sua transformação em Nathaniel, que durante a luta com Lúcifer se transformou durante o calor da batalha. Se quisesse ter alguma chance contra os adversários que teria de enfrentar daqui em diante precisava ser capaz de controlar apropriadamente seu poder.

Mark começou a manifestar sua energia espiritual, seu corpo e sua voz mudaram, ele se tornou um pouco mais alto, seus cabelos cresceram, sua pele ficou pálida, agora possuía a mesma aparência que tinha durante a batalha contra Lúcifer. Da outra vez conseguiu voltar a forma humana por ter sido sua primeira vez e por ter gastado toda a força durante a luta, agora provavelmente  não conseguiria reverter isto, mas ele não podia se preocupar em voltar a ser humano.

Ravel e Sallos decidiram esperar e deixar a batalha para Mark, agora Nathaniel.

O anjo que guardava o portão não se movia, como uma estatua ficava parado, sua missão era o mais importante. Nathaniel investiu contra ele, sua velocidade estava ótima, em um instante ele estava ao lado dele desferindo vários golpes, mas todos foram desviados.

A cada soco de Nathaniel, Lahabiel apenas dava um tapa no punho fazendo o golpe errar o alvo. Ele permanecia imóvel, aquela era a técnica de combate dele, dentro daquele espaço sua defesa era absoluta.

Nathaniel decidiu combinar sua ofensiva usando ataques de longa distância, disparando esferas de energia contra o oponente, que respondeu elevando sua aura e desviando todos os ataques, mas isto era esperado. Enquanto ele descuidasse dos ataques de longa distancia Nathaniel se aproximaria e o atacaria.

Ele estava se movendo tão rápido que criava uma ilusão de várias imagens dele ao mesmo tempo, desse modo conseguiu acertar vários golpes no abdômen de Lahabiel, fazendo-o cuspir sangue e suas pernas tremerem, mas quando Nathaniel olhou para o seu rosto o viu sorrindo.

Escuridão, um borrão negro, gosto de sangue na boca, tontura e vertigem, Nathaniel tinha dificuldade em se levantar. Lahabiel ao ver a velocidade dele decidiu que o único modo de acertá-lo era quando estivesse perto o suficiente, desse modo ele se deixou ser golpeado várias vezes, ate ter uma chance de contra-atacar.

Um único ataque e Nathaniel sentia que sua cabeça quase tinha sido arrancada do pescoço, ele tinha ate mesmo desmaiado por alguns segundos, provavelmente não levantaria depois de receber outro ataque direto. Mas o que realmente o afligia é que antes de ser acertado ele tinha golpeado Lahabiel quatorze vezes, e o anjo não demonstrava qualquer sinal de dano.

Vendo a confusão no rosto de Nathaniel, Sallos tentou explicar, disse que Lahabiel era um anjo bastante sério e devotado, quando recebeu de Deus a missão de guardar as portas do paraíso decidiu que faria isso, que nunca deixaria ninguém atravessar, mesmo que custasse a vida dele.

Para isso ele meditou e treinou continuamente por centenas de anos, ate ser capaz de ignorar a dor, ele acreditava que se eliminasse a dor seria capaz de lutar sempre com tudo, sem nunca recuar, não importava os danos que o corpo dele sofresse, ele não sentiria e continuaria a proteger o portão.

Por um momento Nathaniel sentiu profunda admiração e respeito por ele, alguém capaz de sacrificar seu corpo para cumprir a missão que lhe foi dada, para poder proteger algo era preciso ter o coração inteiro, lutar sem hesitação. 

Lahabiel não é um anjo ruim, ele apenas faz o que tem de fazer, quantos outros serão que não fizeram o mesmo, quantas vidas de anjos foram perdidas pela ambição de Miguel, pensar nisso fez Nathaniel ficar totalmente concentrado e focado.

Sua energia começou a se expandir exponencialmente, enquanto ele caminhava o solo ao redor dele se desintegrava, Sallos teve um vislumbre da energia total que ele usou contra Lúcifer, agora ele estava realmente desperto.

Ao ver Nathaniel se aproximar com aquela energia, Lahabiel inconscientemente recuou um passo, quando ele percebeu isso era tarde demais, o inimigo já estava na sua frente, um único soco no estomago e o anjo caiu de joelhos, antes que ele pudesse se erguer um chute na sua cabeça o atirando contra o portão.

Antes que o corpo tocasse o chão mais dezenas de ataques seguidos, ele vomitava sangue e sentia seu corpo ser destruído, mesmo assim ele permanecia de pé, inabalável.

Vocês não vão atravessar o portão, é minha missão protegê-lo. – disse Lahabiel
Esta batalha já estava decidida desde o começo. Aquele que não sente dor, ou aquele que a sente e mesmo assim avança, qual deles você acha que é mais forte? O homem que você enfrentou esta com seu coração despedaçado, ele esta sentindo muita dor, mas mesmo assim ele avança e continua lutando, este tipo de determinação não pode ser derrotada. – disse Sallos

O anjo guardião abaixou a cabeça, ele apenas esperava pelo golpe final, não se renderia, podia ter falhado em proteger o portão, mas não seria um covarde, preferia enfrentar a morte. A imagem que ele vê é de Nathaniel correndo em direção a ele enquanto grita, quando fecha os olhos escuta apenas o estrondo.

Quando olha novamente vê Nathaniel esmurrando a parede, imediatamente ele entende, para salvar o orgulho dele, para não destruir o que ele protegeu, ele quebraria a muralha feita por Deus. Nesse momento Lahabiel entendeu que tinha sido completamente derrotado, lágrimas correram pelo seu rosto.

Os punhos de Nathaniel sangravam, mas ele continuava a atacar, Ravel tentou pará-lo, mas Sallos não permitiu, depois do centésimo soco finalmente o muro começou a rachar, nesse momento ele grita e eleva sua energia, fazendo parte do muro se despedaçar.

Você continua sua missão que lhe foi dada por Deus, mas se ele morreu há tanto tempo, talvez seja a hora de começar a viver sua própria, pensar pelo que quer lutar e o que realmente vale a pena proteger. – disse Nathaniel


Eles atravessaram o muro enquanto Lahabiel permanecia de pé, após eles atravessarem o anjo caiu e desmaiou com os ferimentos. Por um momento imaginou que Nathaniel o tinha feito se lembrar do próprio Deus.

2 comments:

  1. Otimo capítulo, começou em grande este arco do céu, com eles vagueando enquanto subiam as escadas eternas sem a noção do tempo, quando finalmente chegaram foram atacados pelo São Pedro que não os deixava passar sem uma luta, ele se mostrou devotado a Deus, fazendo tudo ao seu alcance para defender as portas do céu, falhando no final devido á força incontrolavel de Nathaniel, cada vez mais Mark tem o controle do ultimo presente de Deus o que será importante para o futuro, mas ele ainda teve dificuldades aqui, para a frente anjos mais fortes irão surgir, você começou o arco com um enorme capítulo, celebrando os 90, realmente merece um prémio por este feito =P

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  2. Gostei bastante da explicação que deu sobre cada um ter seu próprio tempo para chegar ao paraíso. A determinação de Mark e de Ravel foi fundamental nesse momento, senão... Acho que continuariam subindo escada por um booooom tempo ^^
    Vou ser sincera, simpatizei bastante com o Lahabiel, dá para ver que ele não é má pessoa. Uma coisa que achei interessante foi que por ser aquele que foi encarregado de proteger o portão do paraíso, ele mesmo tentou virar uma fortaleza para isso.
    Espero que depois dessa derrota ele não guarde ressentimentos com os invasores e até se alie a eles. Seria interessante se adquirissem um aliado que é anjo mesmo... Além de ser uma grande adição de força/poder, imagino que ele também possa passar informações para o grupo do Mark.
    Resumindo, gostei muito desse capítulo. Mark/Nathaniel mais uma vez mostrou o quão forte e determinado ele tem ficado, além de que houve a apresentação de um personagem que parece ter muito ainda o que mostrar.
    Enfim, amanhã mesmo lerei o próximo capítulo!

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