Como
assim? O que você quer dizer com isso? – pergunta Zachary
Não apenas ele, mas todos os outros
também estavam surpresos pelo que Icelo tinha dito, eles esperavam poder lutar
juntos. Era uma missão suicida mesmo com eles atuando em equipe, por conta
própria no inferno era de se esperar que não tivessem êxito.
Vocês
deviam agradecer, isto na verdade é a única chance de vocês. Antes de chegar ao
castelo de Lúcifer precisam atravessar os nove círculos infernais, se tivessem
que percorrer um por um não o cansaço da luta anterior combinada com a força
dos inimigos os venceria. Não seriam capazes de passar por mais de três
círculos. – disse Icelo
–
Mas ao invés disso só precisaram passar por um círculo. Serão lançados no
círculo correspondente aos seus próprios pecados, mas caso o atravessem e
derrotem o guardião do círculo avançaram imediatamente para o castelo de
Lúcifer, sem ter de atravessar ainda os demais círculos.
–
Contudo, não pensem que isto facilitará tanto assim o caminho de vocês, os
guardiões de cada círculo são anjos caídos, a força deles é divina, e aqui eles
não têm restrições, podem usar força total.
O grupo continuava hesitante, mas Dante
tomou a frente e disse que atravessaria, que eles estavam no inferno e não
podiam esperar serem salvos pelos outros, se não fossem capazes de vencer os
inimigos por conta própria tornar-se-iam
apenas um fardo para os demais.
Por um instante antes de avançarem
Zachary trocou algumas palavras com Dante, aproveitando o momento Mark também
foi conversar com Simone, podiam ser as ultimas palavras que diriam, era pouco
provável que todos voltassem vivos.
A única opção era seguir em frente e
rezar para que conseguissem todos chegar ao castelo de Lúcifer. Após dizer isso
ele avançou e atravessou o portão, desaparecendo em seguida e sendo levado para
um dos círculos. Simone também atravessou. Zachary e Mark ficaram sozinhos.
Não
se atreva a levar estes pensamentos para o campo de batalha, você não é
responsável pela vida ou morte de nenhum de nós, cada um que esta aqui fez suas
próprias escolhas e foi conduzido por seu próprio destino. Pare de se culpar
por tudo, se quer fazer algo torne-se forte o suficiente para proteger a todos.
– disse Zachary
Ele então avançou também, deixando Mark
para trás. O jovem agradeceu por ter Zachary com ele, não teria chegado tão
longe sem seu mestre. Afastando as duvidas ele também atravessou.
Simone sentiu-se em queda livre, caindo
incessantemente, sua noção de tempo e espaço estava distorcida, era impossível
saber se estava caindo há cinco minutos ou há várias horas. Em alguns momentos
parecia que ela logo se chocaria contra o solo, se arrebentando com a queda, em
outros era como se fosse um poço sem fundo, o que a fazia pensar que talvez
nunca parasse de cair.
Era difícil não se desesperar, aquela
grande escuridão a cercava, a sensação de cair sem saber quando terminaria era
torturante, ela chegou a pensar que talvez já estivesse morta, que isto seria
seu destino por toda a eternidade.
Havia decepcionado a todos, eles
confiaram nela, Strauss confiou nela, e no fim ela tinha morrido sem ser capaz
de fazer nada.
Foi então que Simone começou a ouvir
gritos, vozes desesperadas dizendo coisas ininteligíveis. Os gritos carregavam
agonia, medo, sofrimento, por mais que tapasse os ouvidos continuava a
ouvi-los.
Depois de horas ou quem sabe foram dias
ela já não distinguia mais se os gritos vinham de fora ou estavam dentro da
cabeça dela, ela duvidava ate mesmo se não era ela própria a gritar, tinha medo
dessa resposta.
Ela não conseguia mais se controlar,
queria morrer, queria acabar com isso de algum jeito, com suas unhas começou a
se arranhar, sentia a carne se rasgar, mas não havia dor, ela não gritava, era
como se não lhe fosse permitido sentir outro tormento além daquele. Sim, era
isso, ela não podia mais controlar sua própria vida, apenas sofrer aquilo
eternamente.
Por mais que tentasse não conseguia
racionalizar aquilo, sua mente era um emaranhado de pensamentos distorcidos, tentava
se lembrar de algum ensinamento de Strauss, mas tudo lhe fugia da mente.
Ela estava sozinha, perdida em um mundo
vazio, sem esperança, tudo estava perdido, nem mesmo havia uma razão para tudo
isso, o motivo pelo qual lutava não era claro para ela mesma.
Então ela se lembrou da conversa que
teve com Mark antes de atravessarem o portal.
Se
tivéssemos mais tempo eu gostaria de poder contar para você a historia de
Strauss, sei o quanto ele significava para você. – disse Mark
Não
se preocupe, eu servi ao senhor Strauss e agora seguirei a você, minha lealdade
ao clã dele permanece. – disse Simone
–
Esta falando sério? É só por isso que esta conosco? Não se importa com o que
vai acontecer com a humanidade? São seis bilhões de vidas.
–
Eu fui criada dentro da Vama Marga, e é a ela que pertence minha lealdade,
Ravel apenas deu um golpe para tomar o poder, o verdadeiro líder ainda é senhor
Straus, e o que ele me disse é que eu devia segui-lo e ajudá-lo, ajudar a
humanidade ate que você despertasse sempre foi o objetivo da organização.
Embora depois de tanto tempo muitos tenham perdido a fé.
–
Pode ate acreditar nisso, mas não é toda a verdade. Strauss era como um pai
para você, não se trata apenas de lealdade, mas também de amor.
–
Sentimentos pessoais não devem ser levados para as missões, eles atrapalham a
objetividade, fazem esquecer o essencial.
–
Não, são nossos sentimentos que nos tornam humanos, quando estiver em
dificuldade, entre a vida e a morte não é lembrar-se de números ou do objetivo
da missão que vai fazer com que encontre forças para resistir e continuar
lutando. Mas sim o real motivo pelo qual você luta, as coisas que você quer
proteger.
–
Eu não sei pelo que luto. Sempre apenas segui as ordens da organização. (disse
ela cada vez mais hesitante)
–
Então descubra. Pense nas coisas que você gosta, pelo que valeria a pena viver.
–
Eu gosto de observar o céu noturno, ver as estrelas me da uma sensação de paz,
faz todo o resto parecer tão pequeno. (as palavras quase não lhe saiam, ela
estava envergonhada, com medo de dizer aquilo)
–
Muito bem, então lute para proteger este céu, para que possa vê-lo de novo
quando sairmos daqui, para que encontre alguém especial com queira dividir esta
visão.
As palavras de Mark ressoavam dentro
dela, pela primeira vez ela parou de pensar naquele vazio e na escuridão que a
cercava, ela queria pensar em um bonito céu noturno. Ela não podia morrer ali,
tinha que voltar.
Assim que percebeu Simone não estava
mais caindo, conseguia caminhar naquele lugar. Continuava cercada por uma
temível escuridão, mas ela não iria se intimidar, caminhava em frente mesmo sem
enxergar nada.
Os sons que ouvia: gritos, pedidos de
socorro, suspiros, súplicas e maldições, lentamente foram cessando, agora havia
apenas um grande silêncio. Simone sentia como se todos os seus sentidos
tivessem sido tomados.
Foi então que começou a ouvir uma voz
dentro da sua cabeça.
Devo
congratulá-la, mesmo sendo um inútil boneco de barro conseguiste escapar da
queda eterna, é um feito admirável, ate hoje poucos foram capazes disso. –
disse uma voz delicada e maliciosa
Quem
é você? Onde eu estou? – pergunta Simone
Por um momento ela sente uma presença, é
algo poderoso, uma energia tão forte que a faz ter vontade de se ajoelhar, mas
consegue resistir. Simone se lembrava da energia espiritual de Strauss, era a
mais poderosa que ela já havia sentido, mas parecia insignificante comparada a
que ela sentia agora.
Da escuridão uma mão foi em direção a
Simone, e antes que ela tivesse tempo de reagir seu rosto é segurado, em
seguida sua cabeça é jogada fortemente contra o chão.
No
chão seu animal, curve-se diante do que lhe é superior. Eu sou Sallos, guardião
deste lugar. – disse o anjo caído
–
Típicos de bonecos de barro sequer são capazes de reconhecer os próprios
pecados. Mas que seja, lhe darei a resposta que busca, você esta no primeiro
círculo infernal, o limbo. Este lugar é para onde são enviados aqueles que
cometeram o pecado de esquecer-se de Deus, aqueles que confiaram mais em outros
bonecos de barro e viraram as costas para o Criador.
–
O destino de vocês é vagar para sempre na escuridão, nunca descansar e se
afundar cada vez mais na escuridão, este é o destino reservado àqueles que se
esquecem de Deus, ele nunca mais serão capazes de ver a luz novamente.
–
Você apenas cairia para sempre como todos os outros, não sei como escapaste
disso, mas não pense que isso significa alguma coisa, na verdade apenas torna o
teu destino ainda pior, agora serei eu mesmo que me encarregarei da sua
condenação.
Simone ergue a cabeça e se levanta, em
seguida instintivamente golpeia na direção em que havia sido atacada.
Seu ataque não acerta Sallos que já
havia esquivado-se, mas ela começa a aumentar sua energia, para a surpresa do
anjo caído ela não iria implorar por piedade ou inutilmente tentar fugir.
Aquela humana iria tentar enfrentá-lo.
Bom capitulo, a luta vai começar, Simone mostra mais poder do que aparentava e até surpreendeu o Sallos que menospreza os humanos, gostei, ansiosa que a batalha comece.
ReplyDeleteA Simone caiu no limbo! De todos, acho que é o menos ruim, não? XD Vou ficar com dó mesmo de quem cair no oitavo círculo, rs.
ReplyDeleteMas pensando bem, até que é uma boa chance para eles, acho que não resistiriam muito tempo mesmo ao passar por cada círculo... Até porque teriam que enfrentar seus guardiões ainda! Creio que ia ser uma fadiga tripla: física, mental e espiritual...
Felizmente a Simone encontrou algo pelo o que lutar, as palavras de Mark tiveram um bom efeito nela. Quero ver como ficará a luta dela contra Sallos, porque parece que até ele está surpreso por ela querer lutar contra ele, um anjo caído.
Outro grande capítulo! Acho muito legal estar incluindo elementos da Divina Comédia em sua fic. Fico imaginando se Dante que vai pagar o pato da vez e ter que passar por todos os nove círculos, assim como foi com o xará dele XD
Enfim, estarei aguardando pelo próximo!