Wednesday 19 March 2014

Capítulo 45 - O que nunca existiu




Ao chegarem a uma grande sala Strauss fechou a porta para que pudessem conversar a vontade. Sabendo das possíveis duvidas de Mark ele começou a falar sobre a organização.
Como havia sido criada no passado, há tanto tempo que nem mesmo eles conseguiam dizer exatamente quando. Seu objetivo era proteger a humanidade, eram pessoas que possuíam a capacidade de entender o que estava acontecendo, que existia uma guerra e os humanos estavam no meio dela.
Com isso passou a explicar o que eram os chamados de Bem-Aventurados. Como a natureza divina se tinha espalhado nas almas das pessoas. Os atributos divinos como onisciência, por exemplo, tornavam algumas pessoas capazes de vislumbrar as possibilidades do futuro, tornando-os profetas.
Explicou como no passado os humanos eram poderosos, que as historias contadas na bíblia e nos livros sagrados de todas as religiões eram reais, antes a concentração de poder nas almas humanas eram mais forte, quando muitas pessoas acreditavam na mesma coisa, desejam de todo o coração, eram capazes de criar milagres.
O que antes uma tribo era capaz de fazer hoje são necessárias milhares de pessoas. Cada alma é uma pequena parte do todo que um dia foi Deus, mas com o tempo esse poder se dividiu tanto que para a maioria é algo adormecido que nunca serão capazes de usar. Os Bem-Aventurados são aqueles que ainda possuem esse potencial, pessoas que podem utilizar seus espíritos como arma. Pessoas como Stanley, Handel, Simone e o próprio Ravel.
Enquanto ao longo da história o plano da Vama Marga sempre foi esperar pelo salvador, pelo “último presente de Deus” e ate ele vir apenas se defendiam e tentavam proteger nosso mundo, Ravel tinha ideias diferentes. Ele queria ir para a ofensiva, usar estas pessoas como soldados em uma guerra.
Strauss não acreditava que fosse uma luta que pudéssemos vencer, ou mesmo que devêssemos lutar, as perdas seriam incomensuráveis, mesmo os Bem-Aventurados, que são capazes de lutar contra demônios, não podem se comparar aos anjos mais poderosos.
Ao fim da explicação Mark conseguia entender melhor tudo o que estava acontecendo, Strauss e muitos outros depositavam toda a fé nele, e se ele falhasse Ravel poderia arrastar toda a humanidade para uma guerra onde não existiram vencedores, apenas perdas.
Por mais que mantivesse sua palavra, e ainda permanecesse fiel a sua promessa de fazer tudo para proteger Katherine e Zachary, pela primeira vez começava a entender a importância que desempenhava em tudo isso.
Antes de voltaram a sala de reunião onde ouviriam a decisão do conselho, Strauss pediu alguns minutos para reforças o selo que havia feito, Nathaniel agora estava desperto dentro de Mark, e como ele ainda não é capaz de controlá-lo plenamente o melhor seria se precaver e evitar que as emoções exacerbadas o fizessem se descontrolar.
Strauss explicou que aquele selo fortaleceria a parte humana da alma de Mark, o dando força para resistir, e quando realmente precisasse lutar poderia se quebrar o selo com uma palavra escolhida.
Para a surpresa de Mark, Strauss escolheu o nome de sua mãe, antes que Mark tivesse tempo de perguntar sobre o porquê dessa escolha eles foram chamados, o conselho iria anunciar a sua decisão.
Katherine se encontrava em algum lugar que não conseguia identificar, se sentia desorientada, ainda se adaptava a nova personalidade que adquirira, agora já não existia mais Katherine ou Lilith, havia apenas Kali.
Na frente dela podia ver uma figura masculina, dela emanava uma poderosa luz, e lhe transmitia uma sensação familiar, era parecido com o que sentia quando estava junto de Lúcifer.
Antes que ela perguntasse a imponente figura se levantou e lentamente caminhou ate ela, ajudando-a a se levantar. O lugar em que estavam era um grande vazio, um lugar preenchido apenas pela luz que emanava daquele ser.
Para fazer com que Kali se sentisse mais a vontade ele criou um cenário, um belo jardim, cercado por frondosas árvores e belas flores, e ao centro uma mesa e duas cadeiras para que pudessem se sentar e conversar.
Após alguns instantes de silencio onde ele contemplava tudo que havia criado começou a falar. Ele era Rafael.
Ao lado de Lúcifer, Miguel e Gabriel um dos quatro arcanjos criados por Deus, a casta superior de anjos, as mais poderosas forças em toda a criação.
Kali sabia que durante a primeira guerra entre Lúcifer e Miguel, Gabriel havia morrido, sacrificado a si mesmo para fazer com que os irmãos cessassem a luta, dando a própria vida para evitar que todos os anjos matassem uns aos outros.
A dor pela perda do irmão, a culpa, e o respeito que Miguel e Lúcifer sentiam por ele fez com que a Estrela da Manhã voluntariamente escolhesse o exílio, sendo declarada uma trégua na guerra.
Lúcifer caiu, assim como todos os anjos leais a ele, indo para uma dimensão vazia, um dos muitos vazios que Deus havia deixado na criação. Lá ele usou toda sua força para criar o inferno, tornou a escuridão em tudo aquilo, ergueu majestosos palácios, bosques com árvores mortos, rios de sangue, um ar constantemente envenenado por enxofre, tudo isso veio da própria alma dele.
A dor pelo que acreditava ser a traição de Deus para com os anjos, com ele sacrificando a própria vida para criar a humanidade, o sofrimento de ter que erguer o punho contra o irmão, de ver milhares de anjos tingindo o céu com o sangue uns dos outros, e o luto pela morte do outro irmão. Foi tudo isso que fez com que Lúcifer criasse o inferno daquela forma.
Era um lugar de tortura e dor, um lugar para explorar e potencializar os sofrimentos e culpas, o que ele gostaria de fazer consigo mesmo se tornou no que o inferno é.
Com atenção Kali ouvia as palavras dele, imaginando o quão pouco sabia sobre o seu pai, como ele escondia toda essa dor sem nunca mostrá-la para ninguém, embora às vezes ela vislumbrasse essas sombras quando o olhava nos olhos.
Rafael parecia sempre muito distante, como se falasse para si mesmo, e não para ela. Continuou explicando as funções de cada um dos arcanjos auxiliando a Deus, Lúcifer seria a luz que iluminaria a escuridão, ajudava Deus a modelar e dar formas a todo o universo. Miguel era o responsável por liderar todos os anjos e governar o paraíso durante a ausência de Dele. Gabriel cuidava das criações de Dele, tocou a primeira musica para que as estrelas e planetas começassem a orbitar.
E ele, Rafael, ele cuidava do livro da vida, tinha sido encarregado por Deus de cuidar do livro que tinha todo o conhecimento, que trazia toda a historia do universo, desde a sua criação ate o fim de tudo. Tinha sido ordenado a nunca abri-lo e principalmente a não mostrá-lo para mais ninguém.
Quando Deus morreu, Rafael soube que era o momento em que deveria abrir o livro, em cada palavra eram contadas historias de eras inteiras, ate mesmo o vazio entre as palavras contava historias que nunca deveriam ser lidas.
Rafael sabia de tudo, de como após a morte de Deus Miguel e Lúcifer começariam a discutir ate levar todo o paraíso a uma guerra civil onde milhares de anjos morreriam, sabia que durante esta batalha Gabriel morreria. Por isso escolheu o exílio, fugiu por não poder encarar o terrível futuro que aconteceria, ficou sozinho no vazio, apenas vendo o inevitável acontecer, assistindo a tanta dor, tantas perdas, apenas a leitura do livro impediu que sua mente entrasse em colapse e enlouquecesse.
Pela primeira vez ele então se vira diretamente para Kali e diz a ela o motivo de tê-la trazido para lá. Ela não estava no livro, ela não deveria existir.
Na mansão que a organização estava usando de sede Strauss e Mark foram chamados.
Embora tentando dissuadir Strauss a parar com aquilo, afinal estava gastando muito sangue e energia vital, ele se recusou, disse que precisava fazer aquilo por Mark. Que embora parecesse um garoto ele era um homem melhor do que Strauss jamais seria.
Strauss dizia que as pessoas agem como gostariam de ser, mas reagem como realmente são, a forma como Mark reagiu diante da ameaça a Katherine foi algo que o impressionou bastante.
Mark estava um pouco confuso com alguns símbolos que Strauss fazia como que marcando o sangue que derramava, ele disse que aquilo era apenas uma mensagem, e que no momento oportuno Mark a receberia.
Claramente cansado e debilitado com após fazer o selo Strauss era ajudado por Mark, no caminho eles encontraram com Zachary que também se dirigia ate a sala de reunião para ouvir a decisão final.
Ravel já esperava por eles lá, mantinha uma expressão calma. De modo amigável caminhou ate Strauss e tentou ajudá-lo a se sentar, mas este recusou.
Para a surpresa de todos Ravel propôs a Strauss um acordo, disse que a decisão do conselho já não importava mais, e que por uma última vez ele oferecia uma chance para que ele mudasse de ideia e permanecesse ao lado dele. Dizia que os conselhos de alguém tão sábio e experiente poderiam ajudar muito na guerra que estava prestes a ser travada.
O conselho se mostrou furioso, se sentia desrespeitado pela conduta de Ravel, que agia como se a decisão deles não importasse. Contudo, antes que pudessem protestar Ravel ordenou que se calassem, disse que tudo aquilo era apenas um grande teatro, uma forma de tentar convencer Strauss a apoia-lo, que talvez com o conselho a ordenar ele se dobrasse.
Mas ao ver a forma como ele estava agindo percebeu que Strauss iria mesmo contra as ordens do conselho, que estava decidido a permanecer do lado de Mark ate a morte.

Sem mudar sua expressão ou hesitar Ravel deu a ordem de execução, os guardas que estavam junto do conselho atacaram-nos, matando a todos. 

2 comments:

  1. Mais um bom capitulo, finalmente conhecemos o paradeiro de Katherine ou Kali e parece que o seu futuro não será muito bom, Rafael acha que ela é uma aberração e não deveria existir pois não está presente na biblia, capitulo muito interessante, será que mark irá alguma vez conseguir controlar Nathaniel? anciosa pelo proximo

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  2. Ficou muito interessante a explicação do Strauss sobre os Bem-Aventurados. Agora parece que Mark tem uma grande noção melhor do quanto é importante para a humanidade. Mas concordo com ele também que deve proteger aqueles que ama.
    Estou gostando muito de como está desenvolvendo o universo de sua fic! XD Antes parecia mais próximo ao mundo que vivemos, mas agora ganhou dimensões bem maiores, abordando sobre a queda dos anjos, o fato de Deus ter se "dividido" para criar a humanidade com sua própria essência e tudo mais... Adoro essa parte, especialmente quando exploram justamente algumas lacunas dos textos sagrados XD
    Mas voltando... Agora sim você me pegou u.u Jurava que era coisa do Icelo, mas estava enganada esse tempo todo! Fico imaginando se Rafael vai querer extinguir a existência da Kali... Aliás, achei interessante o motivo da queda da Estrela da Manhã, ele mesmo se exilou depois da morte de Gabriel... Confesso que fiquei com um pouco de dó dele x-x
    Ah, droga... Esse Ravel merece um tiro no meio da fuça! Será que ele não sabe que treta os planos deles podem causar? Ou ele é bem inconsequente ou tem algo a mais nisso tudo que ele almeja, a ponto de jogar vidas fora como se fosse lixo nessa guerra...
    Sinceramente? Amei esse capítulo! Realmente me pegou de surpresa tudo isso... Por algum motivo estranho, adoro quando o autor me surpreende jogando todas as minhas teorias (malucas) por terra XD Isso faz com que sua fic não se torne previsível, o que é algo excelente!
    Mais uma vez, parabéns! E aliás... Essa música de Epica é foda <3

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