Ao chegarem a uma grande sala Strauss
fechou a porta para que pudessem conversar a vontade. Sabendo das possíveis
duvidas de Mark ele começou a falar sobre a organização.
Como havia sido criada no passado, há
tanto tempo que nem mesmo eles conseguiam dizer exatamente quando. Seu objetivo
era proteger a humanidade, eram pessoas que possuíam a capacidade de entender o
que estava acontecendo, que existia uma guerra e os humanos estavam no meio
dela.
Com isso passou a explicar o que eram os
chamados de Bem-Aventurados. Como a natureza divina se tinha espalhado nas
almas das pessoas. Os atributos divinos como onisciência, por exemplo, tornavam
algumas pessoas capazes de vislumbrar as possibilidades do futuro, tornando-os
profetas.
Explicou como no passado os humanos eram
poderosos, que as historias contadas na bíblia e nos livros sagrados de todas
as religiões eram reais, antes a concentração de poder nas almas humanas eram
mais forte, quando muitas pessoas acreditavam na mesma coisa, desejam de todo o
coração, eram capazes de criar milagres.
O que antes uma tribo era capaz de fazer
hoje são necessárias milhares de pessoas. Cada alma é uma pequena parte do todo
que um dia foi Deus, mas com o tempo esse poder se dividiu tanto que para a
maioria é algo adormecido que nunca serão capazes de usar. Os Bem-Aventurados
são aqueles que ainda possuem esse potencial, pessoas que podem utilizar seus
espíritos como arma. Pessoas como Stanley, Handel, Simone e o próprio Ravel.
Enquanto ao longo da história o plano da
Vama Marga sempre foi esperar pelo salvador, pelo “último presente de Deus” e
ate ele vir apenas se defendiam e tentavam proteger nosso mundo, Ravel tinha
ideias diferentes. Ele queria ir para a ofensiva, usar estas pessoas como
soldados em uma guerra.
Strauss não acreditava que fosse uma
luta que pudéssemos vencer, ou mesmo que devêssemos lutar, as perdas seriam
incomensuráveis, mesmo os Bem-Aventurados, que são capazes de lutar contra
demônios, não podem se comparar aos anjos mais poderosos.
Ao fim da explicação Mark conseguia
entender melhor tudo o que estava acontecendo, Strauss e muitos outros
depositavam toda a fé nele, e se ele falhasse Ravel poderia arrastar toda a
humanidade para uma guerra onde não existiram vencedores, apenas perdas.
Por mais que mantivesse sua palavra, e
ainda permanecesse fiel a sua promessa de fazer tudo para proteger Katherine e
Zachary, pela primeira vez começava a entender a importância que desempenhava
em tudo isso.
Antes de voltaram a sala de reunião onde
ouviriam a decisão do conselho, Strauss pediu alguns minutos para reforças o
selo que havia feito, Nathaniel agora estava desperto dentro de Mark, e como
ele ainda não é capaz de controlá-lo plenamente o melhor seria se precaver e
evitar que as emoções exacerbadas o fizessem se descontrolar.
Strauss explicou que aquele selo
fortaleceria a parte humana da alma de Mark, o dando força para resistir, e
quando realmente precisasse lutar poderia se quebrar o selo com uma palavra
escolhida.
Para a surpresa de Mark, Strauss
escolheu o nome de sua mãe, antes que Mark tivesse tempo de perguntar sobre o
porquê dessa escolha eles foram chamados, o conselho iria anunciar a sua
decisão.
Katherine se encontrava em algum lugar
que não conseguia identificar, se sentia desorientada, ainda se adaptava a nova
personalidade que adquirira, agora já não existia mais Katherine ou Lilith,
havia apenas Kali.
Na frente dela podia ver uma figura
masculina, dela emanava uma poderosa luz, e lhe transmitia uma sensação
familiar, era parecido com o que sentia quando estava junto de Lúcifer.
Antes que ela perguntasse a imponente
figura se levantou e lentamente caminhou ate ela, ajudando-a a se levantar. O
lugar em que estavam era um grande vazio, um lugar preenchido apenas pela luz
que emanava daquele ser.
Para fazer com que Kali se sentisse mais
a vontade ele criou um cenário, um belo jardim, cercado por frondosas árvores e
belas flores, e ao centro uma mesa e duas cadeiras para que pudessem se sentar
e conversar.
Após alguns instantes de silencio onde
ele contemplava tudo que havia criado começou a falar. Ele era Rafael.
Ao lado de Lúcifer, Miguel e Gabriel um
dos quatro arcanjos criados por Deus, a casta superior de anjos, as mais
poderosas forças em toda a criação.
Kali sabia que durante a primeira guerra
entre Lúcifer e Miguel, Gabriel havia morrido, sacrificado a si mesmo para
fazer com que os irmãos cessassem a luta, dando a própria vida para evitar que
todos os anjos matassem uns aos outros.
A dor pela perda do irmão, a culpa, e o
respeito que Miguel e Lúcifer sentiam por ele fez com que a Estrela da Manhã
voluntariamente escolhesse o exílio, sendo declarada uma trégua na guerra.
Lúcifer caiu, assim como todos os anjos leais
a ele, indo para uma dimensão vazia, um dos muitos vazios que Deus havia
deixado na criação. Lá ele usou toda sua força para criar o inferno, tornou a
escuridão em tudo aquilo, ergueu majestosos palácios, bosques com árvores
mortos, rios de sangue, um ar constantemente envenenado por enxofre, tudo isso
veio da própria alma dele.
A dor pelo que acreditava ser a traição
de Deus para com os anjos, com ele sacrificando a própria vida para criar a
humanidade, o sofrimento de ter que erguer o punho contra o irmão, de ver
milhares de anjos tingindo o céu com o sangue uns dos outros, e o luto pela
morte do outro irmão. Foi tudo isso que fez com que Lúcifer criasse o inferno
daquela forma.
Era um lugar de tortura e dor, um lugar
para explorar e potencializar os sofrimentos e culpas, o que ele gostaria de
fazer consigo mesmo se tornou no que o inferno é.
Com atenção Kali ouvia as palavras dele,
imaginando o quão pouco sabia sobre o seu pai, como ele escondia toda essa dor
sem nunca mostrá-la para ninguém, embora às vezes ela vislumbrasse essas
sombras quando o olhava nos olhos.
Rafael parecia sempre muito distante,
como se falasse para si mesmo, e não para ela. Continuou explicando as funções
de cada um dos arcanjos auxiliando a Deus, Lúcifer seria a luz que iluminaria a
escuridão, ajudava Deus a modelar e dar formas a todo o universo. Miguel era o
responsável por liderar todos os anjos e governar o paraíso durante a ausência
de Dele. Gabriel cuidava das criações de Dele, tocou a primeira musica para que
as estrelas e planetas começassem a orbitar.
E ele, Rafael, ele cuidava do livro da
vida, tinha sido encarregado por Deus de cuidar do livro que tinha todo o
conhecimento, que trazia toda a historia do universo, desde a sua criação ate o
fim de tudo. Tinha sido ordenado a nunca abri-lo e principalmente a não
mostrá-lo para mais ninguém.
Quando Deus morreu, Rafael soube que era
o momento em que deveria abrir o livro, em cada palavra eram contadas historias
de eras inteiras, ate mesmo o vazio entre as palavras contava historias que
nunca deveriam ser lidas.
Rafael sabia de tudo, de como após a
morte de Deus Miguel e Lúcifer começariam a discutir ate levar todo o paraíso a
uma guerra civil onde milhares de anjos morreriam, sabia que durante esta
batalha Gabriel morreria. Por isso escolheu o exílio, fugiu por não poder
encarar o terrível futuro que aconteceria, ficou sozinho no vazio, apenas vendo
o inevitável acontecer, assistindo a tanta dor, tantas perdas, apenas a leitura
do livro impediu que sua mente entrasse em colapse e enlouquecesse.
Pela primeira vez ele então se vira
diretamente para Kali e diz a ela o motivo de tê-la trazido para lá. Ela não estava
no livro, ela não deveria existir.
Na mansão que a organização estava
usando de sede Strauss e Mark foram chamados.
Embora tentando dissuadir Strauss a
parar com aquilo, afinal estava gastando muito sangue e energia vital, ele se
recusou, disse que precisava fazer aquilo por Mark. Que embora parecesse um
garoto ele era um homem melhor do que Strauss jamais seria.
Strauss dizia que as pessoas agem como
gostariam de ser, mas reagem como realmente são, a forma como Mark reagiu
diante da ameaça a Katherine foi algo que o impressionou bastante.
Mark estava um pouco confuso com alguns
símbolos que Strauss fazia como que marcando o sangue que derramava, ele disse
que aquilo era apenas uma mensagem, e que no momento oportuno Mark a receberia.
Claramente cansado e debilitado com após
fazer o selo Strauss era ajudado por Mark, no caminho eles encontraram com
Zachary que também se dirigia ate a sala de reunião para ouvir a decisão final.
Ravel já esperava por eles lá, mantinha
uma expressão calma. De modo amigável caminhou ate Strauss e tentou ajudá-lo a
se sentar, mas este recusou.
Para a surpresa de todos Ravel propôs a
Strauss um acordo, disse que a decisão do conselho já não importava mais, e que
por uma última vez ele oferecia uma chance para que ele mudasse de ideia e
permanecesse ao lado dele. Dizia que os conselhos de alguém tão sábio e
experiente poderiam ajudar muito na guerra que estava prestes a ser travada.
O conselho se mostrou furioso, se sentia
desrespeitado pela conduta de Ravel, que agia como se a decisão deles não
importasse. Contudo, antes que pudessem protestar Ravel ordenou que se
calassem, disse que tudo aquilo era apenas um grande teatro, uma forma de
tentar convencer Strauss a apoia-lo, que talvez com o conselho a ordenar ele se
dobrasse.
Mas ao ver a forma como ele estava
agindo percebeu que Strauss iria mesmo contra as ordens do conselho, que estava
decidido a permanecer do lado de Mark ate a morte.
Sem mudar sua expressão ou hesitar Ravel
deu a ordem de execução, os guardas que estavam junto do conselho atacaram-nos,
matando a todos.
Mais um bom capitulo, finalmente conhecemos o paradeiro de Katherine ou Kali e parece que o seu futuro não será muito bom, Rafael acha que ela é uma aberração e não deveria existir pois não está presente na biblia, capitulo muito interessante, será que mark irá alguma vez conseguir controlar Nathaniel? anciosa pelo proximo
ReplyDeleteFicou muito interessante a explicação do Strauss sobre os Bem-Aventurados. Agora parece que Mark tem uma grande noção melhor do quanto é importante para a humanidade. Mas concordo com ele também que deve proteger aqueles que ama.
ReplyDeleteEstou gostando muito de como está desenvolvendo o universo de sua fic! XD Antes parecia mais próximo ao mundo que vivemos, mas agora ganhou dimensões bem maiores, abordando sobre a queda dos anjos, o fato de Deus ter se "dividido" para criar a humanidade com sua própria essência e tudo mais... Adoro essa parte, especialmente quando exploram justamente algumas lacunas dos textos sagrados XD
Mas voltando... Agora sim você me pegou u.u Jurava que era coisa do Icelo, mas estava enganada esse tempo todo! Fico imaginando se Rafael vai querer extinguir a existência da Kali... Aliás, achei interessante o motivo da queda da Estrela da Manhã, ele mesmo se exilou depois da morte de Gabriel... Confesso que fiquei com um pouco de dó dele x-x
Ah, droga... Esse Ravel merece um tiro no meio da fuça! Será que ele não sabe que treta os planos deles podem causar? Ou ele é bem inconsequente ou tem algo a mais nisso tudo que ele almeja, a ponto de jogar vidas fora como se fosse lixo nessa guerra...
Sinceramente? Amei esse capítulo! Realmente me pegou de surpresa tudo isso... Por algum motivo estranho, adoro quando o autor me surpreende jogando todas as minhas teorias (malucas) por terra XD Isso faz com que sua fic não se torne previsível, o que é algo excelente!
Mais uma vez, parabéns! E aliás... Essa música de Epica é foda <3