Capítulo 39 - No crespúsculo

Há apenas alguns metros de distância estava ela, Lilith, o anjo caído a quem ele tinha se aliado, e que tinha mostrado toda sua historia, de como nesse momento possuía o corpo de uma jovem.

Em meio as memórias dela ele tinha visto o pai, bem como seu “irmãozinho”, o filho de Christian, não sabia exatamente o que sentir a respeito disso, parte dele achava que aquelas memórias não lhe diziam nada, eram apenas uma forma de se apegar a alguma coisa e esquecer todos aquele terríveis anos no inferno.

Por um momento o cansaço foi mais forte e Dante cedeu, adormeceu por alguns instantes. Quando despertou a batalha já havia iniciado.

O céu era rasgado por anjos e suas poderosas espadas flamejantes, ao mesmo tempo anjos caídos e suas espadas negras se encontravam no outro lado, quando dois inimigos chocavam suas armas o próprio céu parecia tremer.

O vento de suas asas provocava grandes ondas de choque, arvores eram arrancadas do solo, Dante se segurava como podia, permanecia escondido entre alguns arbustos, depois de muito voltou a sentir medo, se sentia como uma formiga no meio da luta de elefantes.

Eram como deuses lutando, qualquer um deles parecia poder destruir o mundo sozinho. Foi então que ele viu Lilith, sozinha ela lutava contra um anjo, embora claramente mais fraca ela era ágil e inteligente, sabia como usar a força do adversário contra ele mesmo.

Ela lutava com destreza, em pouco tempo já havia conseguido matar três anjos, mas não era o suficiente, logo estava cercada e se tornaria um alvo fácil.

Sem saber exatamente o porquê então Dante se ergueu e começou a atacá-los de volta, com um grande disparo matou dois anjos que se aproximavam de Lilith, os tiros arrancavam sua alma, cada vez que disparava sentia um vazio maior o consumindo.

Estava sentido menos do que quando disparava a própria alma, sentia que tinha se tornado um monstro, mas também estava feliz pela força que possuía agora, poderia ser capaz de lutar contra os anjos.

Quando a esperança parecia prestes a retornar então a escuridão encobriu tudo novamente. Dante viu Gremory, ele nunca esqueceria o rosto daquele que por tantos dias o torturou apenas para se divertir, para passar o tempo porque estava entediado.

Este inimigo era de um nível totalmente diferente dos demais, se esquivou dos disparos de Dante, e em um instante se aproximou dele. Antes que Dante pudesse reagir e preparar outro ataque teve seu braço esquerdo decepado.

Enquanto urrava de dor recebeu um forte chute no corpo que lhe partiu duas costelas ao mesmo tempo em que o arremessou longe.

Sua visão estava turva, perdia muito sangue pelo braço, sentia que estava prestes a morrer, mas ainda teve tempo de ver Gremory quebrar o braço de Lilith enquanto a dominava e se preparava para levá-la ao inferno.

Com a certeza de fracassou, de que toda a sua vida foi um grande nada e não significou coisa alguma Dante agoniza, sangrando sozinho ate morrer.

Suando bastante e se contendo para não gritar Dante desperta, havia sido tudo um sonho. Embora fosse difícil de acreditar, tinha sido tudo real demais, talvez como uma premonição, um aviso do que estava prestes a acontecer.

Mas isso não o amedrontava, ele estava mais decidido do que nunca, aquilo em verdade tinha sido uma valiosa lição, agora possuía uma noção da força real do inimigo.

Lilith então se aproximou e tocou em seu ombro, era o momento deles discutirem a estratégia. Ao ver os olhos de Dante ela sorria, e pensava no quanto a pequena viagem ao mundo dos sonhos havia lhe feito bem.

No inferno o anjo caído conhecido como Belial organizava e escolhia aqueles que o acompanhariam ate o mundo dos homens, uma dezena de anjos caídos e o triplo disso em demônios.

Por que esta expressão de descontentamento? Não é assim que um general deve se portar as vésperas de uma batalha. – disse Gremory

Não cabe a mim julgar ou questionar as decisões de Lorde Lúcifer, apenas cumpro as ordens dele. – disse Belial  

– Mesmo quando acredita que elas nos levarão a perdição e são estratégica e taticamente condenadas ao fracasso.

– Afinal o que você quer Gremory?

– Eu quero ver tudo pegar fogo, eu quero ação, sangue, dor, medo, raiva, tristeza. Eu quero o fim. Mas isso sou apenas eu falando metaforicamente, imagino que me perguntou algo de concreto. Pois bem, o que eu quero neste momento é que esta missão fracasse, de preferência que você morra em combate e assim eu me torne o próximo general.

Antes que pudesse avançar e atacar Gremory foi detido.

Parem com isso vocês dois! Não temos tempo para suas idiotices. Belial, já devia saber e estar preparado para as provocações dele, e Gremory, não se esqueça que no campo de batalha ele é seu superior seu destino estará nas mãos dele, pode muito bem ser você a não retornar. – disse Vassago

E pela sua expressão parece que você gostaria muito disso, acho que realmente terei que tomar cuidado. Hahahaha – disse Gremory enquanto se retirava

Não importa quanto tempo passe nunca vou entender as reais intenções dele. – disse Belial

Isso é o que torna tão perigoso, ele é imprevisível, a única certeza sobre ele é que é capaz de fazer qualquer coisa para conseguir se “divertir”. – disse Vassago

– Partirá conosco Vassago?

– Não, Lorde Lúcifer ordenou que eu permanecesse aqui. Vim apenas observá-los partir.

– A verdade é que teremos que avançar antes do esperado, eles estão agindo, aqueles malditos humanos estão executando muitos hospedeiros em potencial.

Na livraria Mark caminhava nervosamente, andando em círculos dentro de seu quarto, tentava imaginar o que havia acontecido a Katherine, por que ela havia sumido? Por que ele não conseguia mais senti-la? Foi afastado de seus pensamentos por uma terrível presença que se aproximava. Apressadamente desceu as escadas e foi se encontrar com Zachary no primeiro andar.

Antes que pudesse dizer qualquer palavra, a porta se abriu. Quatro pessoas entraram, um velho, uma jovem e dois rapazes um pouco mais velhos do que Mark.

Pela expressão que misturava raiva e medo Mark percebeu que Zachary conhecia o velho.

Que indelicado, não vai nos convidar para entrar? Não vai nos apresentar ao jovem Mark? Imaginava que Khan tivesse lhe ensinado modos um pouco melhores. – disse o velho

Mark vá embora daqui! Saia pela porta dos fundos, eu me encarregarei de segurá-los aqui. – disse Zachary

Calma Zachary, não viemos aqui para começar uma luta, se fosse esse o caso você já estaria morto no momento em que entramos. Eu vim aqui para conversar, acredito que o jovem Mark deva pelo menos ouvir a nossa historia ao invés de você decidir por ele. A propósito, perdoe minha indelicadeza, eu me chamo Strauss, estes são Handel e Ravel e claro, a bela Simone. – disse Strauss

– Quem são eles Zachary? – perguntou Mark

Não precisa ter medo jovem Mark, pode perguntar diretamente para mim. – disse Strauss

– Não me importa o que ou quem vocês são, céu ou inferno, anjos ou demônios, eu tenho meus próprios problemas para lidar.

– É ai que se engana sobre nós, não estamos de nenhum dos lados, nosso único lado é o da própria humanidade, somos todos humanos. E de qualquer modo posso lhe contar um pouco sobre a sua mãe, imagino que saiba bem pouco sobre ela e tenha inúmeras perguntas.

As palavras de Strauss despertaram a atenção de Mark que se dispôs a ouvir. Ele disse que eles faziam parte do grupo Vama Marga, a Mão Esquerda de Deus, a organização que havia sido responsável por adotar e cuidar de Zachary, treinando-o para se tornar um exorcista.

A abadia onde Zachary havia sido criado, e o Bispo Khan eram apenas uma pequena parte da organização. Eles eram humanos que sabiam da guerra entre o céu e o inferno, que sabiam que nossas almas eram aquilo pelo que lutavam com o objetivo de obter o poder de Deus.

Diferente de outros humanos que também sabiam disso e escolhiam escolher um dos lados por considerar que a humanidade nunca poderia enfrentá-los, o grupo de Strauss não, eles estavam dispostos a lutar para proteger o mundo dos homens, mesmo que para isso tivessem que fazer grandes sacrifícios.

Strauss explicou a Mark que Deus havia criado uma barreira de proteção no nosso mundo, isto fazia com que ele fosse território proibido para anjos, que não podiam permanecer aqui por muito tempo sem começar a perecer, mas para isso eles tinham descoberto uma alternativa, usando alguns humanos como hospedeiros podiam ficar por mais tempo aqui.

Dando o exemplo de uma grande parede de vidro que possui algumas rachaduras e que quanto mais se força algo através delas mais elas aumentam, ate que em algum momento todo o vidro se parte, Strauss explicou o perigo que o mundo corria.

Com uma batalha de grandes proporções prestes a começar as rachaduras seriam pressionadas, talvez ate um ponto de ruptura em que a barreira se partisse de vez.

Para Strauss a única chance de impedir isso era enviando Mark para lá, ele deveria lutar pelo nosso mundo, usar seu poder para tentar encerrar rapidamente a batalha, a presença de Nataniel podia ser capaz de afugentá-los.

Antes que Mark pudesse recusar ou ate mesmo pedir algum tempo para pensar Strauss disse a ele que se retornassem vivos ele lhe contaria mais sobre a mãe dele, e também disse que Mark poderia encontrar Katherine lá.

Zachary já sabia que não poderia dete-lo, então decidiu ir com ele.

Estava assim armado o palco para a grande batalha, céu e inferno tentando capturar Lilith, que estava possuindo o corpo de Katherine e aos poucos se apagando a existência dela, Dante estava ao lado dela, para ter forças para esta guerra havia se tornado um monstro que absorve almas, e agora a parte final da equação, Mark e Zachary acompanhados dos misteriosos membros da Vama Marga.

A batalha vai começar.