Wednesday 4 December 2013

Capítulo 30 - O mesmo horizonte




O dia começava a nascer, com o sol espantando as últimas sombras que teimavam em permanecer mesmo com o fim da noite. No quarto de Mark ele e Zachary conversavam, depois de várias horas o relato tinha terminado.
Zachary havia contado toda a historia que tinha escondido ate agora de Mark, sobre o passado e o futuro, sobre o legado dos Kroos e o “último presente de Deus”, uma interminável guerra entre anjos e demônios que ameaçava toda a humanidade.
As lembranças sobre o seu pai começavam a invadir a mente de Mark, ele ficou feliz em conhecer um pouco mais sobre o homem que Christian Kroos tinha sido.

Talvez tudo isso tenha sido um pouco demais para um dia só, acredito que ambos estamos cansados e precisamos dormir. – disse Zachary se levantado e saindo
Espere, eu tenho ainda algumas perguntas. Por quê? Seu eu sou tão importante, se sou a última chance de toda a humanidade devia ter sido treinado desde o inicio. – disse Mark
– Porque eu não tive uma vida, seu pai também não teve essa chance. Fomos tragados para dentro de tudo isso cedo demais. Então eu decidi, e sei que seu pai concordaria, que enquanto fosse possível você deveria ter uma vida normal.
– Não que tenha funcionado muito. Hahaha
– Eu sei Mark, mas nada foi em vão. Acredite, existe um lugar sagrado para onde podemos ir e nos abrigar quando tudo mais vacila e treme, quando estamos sozinhos e a escuridão cresce: nossas lembranças felizes. São os pequenos momentos que nos dar força para aguentar as dificuldades.
– Por favor, responda de forma sincera. Em algum momento você me odiou? Culpou-me pelo que aconteceu a sua família?
– Nunca, nem por um único momento. Quando eu havia perdido tudo você apareceu, me deu razões para acreditar, poder seguir em frente. Podemos não ter o mesmo sangue, mas somos uma família.

Depois dessa conversa Zachary saiu e foi tentar descansar um pouco. Embora também estivesse cansado. Mark estava emocionado com as palavras dele, mas também agitado demais para dormir, não conseguia parar de pensar em tudo aquilo que tinha ouvido, as coisas que descobrirá.
Tinha em mãos o diário da sua família que Zachary guardará e agora havia confiado em Mark. Naquelas páginas estava a historia dos Kroos, uma história que parecia não conter nada além de tragédia e dor, de perdas que nunca podem ser reparadas, de sacrifícios que atingem também todos que se aproximam deles.
As historias de cada um antes dele pareciam uma espécie de aviso, uma forma de tentar impedir que os mesmos erros fossem cometidos de novo, mas a tragédia da vida é que sempre existem novos erros que podemos cometer, tão destrutivos quanto os antigos.
Todos aqueles homens antes dele com o mesmo destino, cada um deles com o potencial para se tornar o salvador da humanidade, mas nunca aconteceu. Nunca conseguiram se tornar o que estavam destinados a ser.
Por horas Mark permaneceu concentrado, lendo cada uma das histórias, conhecendo mais sobre seu passado, e talvez vislumbrando o que seria seu próprio futuro. Ele não podia deixar de pensar naquilo, se todos os outros antes dele haviam fracassado, não existia motivo para ele achar que com ele a historia seria diferente, que ele poderia dar um fim em tudo aquilo.
Era difícil manter a esperança, era um grande fardo saber quantas pessoas haviam se sacrificado por ele, desde seu pai e sua mãe ate a família de Zachary, todos acreditando que ele seria a luz para dissipar as trevas.
Foi então que ele chegou a parte final do diário, aquela escrita por seu pai, embora já conhecesse a historia pois fosse a mesma contada por Zachary, ele precisava ler aquilo, era uma forma de se sentir perto de seu pai. Sobre o sacrifício supremo que ele fez quando anjos vieram buscá-lo.
Mas ao virar a última página ele teve uma surpresa, as páginas em branco, aquelas que deviam ser escritas por ele haviam sido todas arrancadas. Depois de alguns instantes de confusão ele logo percebeu o que aquilo significava, era uma última mensagem que seu pai havia deixado.
Não havia páginas para ele escrever porque seu pai confiou que ele seria a luz, que ele conseguiria o que todos os outros Kroos haviam falhado, se tornaria o último presente de Deus.
Aquilo era acima de tudo um sinal de que ele não deveria deixar o passado guiar sua vida, não é ele que define o que somos ou que nos tornamos, são nossas próprias escolhas.
Mark havia feito sua escolha, abandonar o passado e construir seu próprio futuro. Saiu do quarto e foi ate o andar de baixo, com passos lentos e que demonstravam ainda alguma hesitação caminhou ate a lareira, e atirou o diário de sua família nas chamas.
Não era o momento para ele permanecer quebrado, sentindo pena de si mesmo. Mark começava a perceber o seu real papel em tudo que estava acontecendo, e o que era o momento de crescer. O passado não pode mais assombra-lo ele o destruiu, agora tem apenas o futuro para encarar.
Das escadas Zachary acompanhava a tudo aquilo, apenas assistia, respeitando o momento de Mark, foi quando começou a se sentir mal, tontura e uma dor muito forte no peito e no braço esquerdo.
Com bastante esforço conseguiu ir ate o quarto sem ser notado por Mark. Abriu uma gaveta de onde retirou alguns frascos com remédios, após tomar dois comprimidos passou a se sentir melhor. Mas sabia que aquilo era temporário, que seu coração começava a falhar, que já tinha problemas e que foram agravados depois daquela aventura no mundo dos sonhos.
Lamentava profundamente sua própria debilidade e seu estado de saúde, queria ainda ter forças para ajudar Mark, estar com ele ate o final. Mas enquanto seu corpo ainda aguentasse ele resistiria e lutaria.
Na sala Mark continuava em frente a lareira, havia apenas uma coisa que ainda dividia seu coração, um pensamento insistente que teimava em não deixá-lo, Katherine.
Quando fechava os olhos podia imaginar seu rosto, a forma como os olhos dela brilhavam quando estava feliz, o som da sua risada, o toque dela.
Embora ela achasse que Mark a havia salvado, isto não era toda a história, a verdade é que um pouco de perfume sempre fica nas mãos daquele que oferece rosas. Não havia sido ele a salvá-la, ela era forte, conseguiria se salvar sem precisar de ajuda, na verdade Mark é quem precisava de ajuda, ele não conseguia ser forte sozinho, precisava ser forte por alguém.
Katherine também tinha salvado Mark, por causa dela ele tinha abandonado sua própria escuridão, tinha aberto seu coração depois de um longo tempo.
Tudo o que ele mais queria era poder encontrá-la, ficar ao lado dela e tentar ajudá-la a enfrentar o que quer que existisse de errado. Mas no fundo sabia que esse não era o momento.
Assim como ele encontrou a si mesmo, devia deixá-la fazer o mesmo, precisava confiar nela, acreditar que ela voltaria quando pudesse, e que rezar para que o futuro de ambos fosse junto.
Começava a anoitecer, enquanto Mark estava perdido, olhando para o horizonte, tentando enxergar o caminho que ela havia seguido. E esperando que ela nunca esquecesse o que ele havia lhe dito, o que tinha aprendido de seu pai, que sempre devemos nos voltar para a luz, então as sombras desaparecerão.
Neste mesmo instante Katherine olha para o horizonte, tentando gravar na memória o caminho que tomou, esperando que ainda haja algo para ela quando, ou melhor se um dia ela retornar.
Enquanto isso no inferno um cenário como uma velha prisão abandonada. O inferno é uma dimensão paralela, algo totalmente além da compreensão de qualquer humano, as verdadeiras formas são imperceptíveis para nós, por isso nossa mente molda um cenário que seja racional.
As mentes atormentadas que chegam ate lá criam seus próprios infernos pessoais, lugares para sofrer por toda a eternidade, ate que todo o ódio e dor os mude em algo que não lembra mais um humano.
Neste inferno particular, nesta prisão onde gritos são a trilha sonora permanente, em uma cela escura e abafada estava um homem, algemado a parede, em seu corpo trazia marcas terríveis, geradas por longos anos de tortura constante.
Mesmo com o corpo destruído este homem se recusava a ceder, sua vontade não se curvava mesmo após anos de tortura, essa determinação esta no seu sangue, afinal ele é Dante Holger.
Desde que havia sido aprisionado no inferno junto de Christian haviam se passado cerca de dez anos, sabendo que não podiam roubar sua alma uma vez que ela estava marcada por um anjo, os demônios se divertiam torturando-o. Todo o dia o batiam ate quase matá-lo, e então o curavam para no dia seguinte repetir tudo novamente.
Mas naquele dia algo diferente aconteceu, os demônios estavam atrasados, poderia ser apenas uma forma de brincar com a mente dele, o fazendo ficar esperando pelos golpes sem saber quando viriam.
Foi quando subitamente suas algemas, bem como a porta da cela se abriram, ele estava livre, sem hesitar ele correu, estava preparado para lutar e fazer o que fosse preciso para escapar, preferia morrer a continuar preso naquele lugar.
Entretanto, para sua surpresa não encontrou resistência, no caminho havia apenas alguns demônios mortos, algum tinha ido ate lá e feito tudo aquilo para libertá-lo, mesmo que aquilo fosse perturbador não era o momento para buscar respostas ou se questionar.

Depois de todo aquele tempo Dante estava livre, e agora nada o impediria de sair daquele lugar, e então cumprir sua vingança, um novo horizonte surgirá para ele.

3 comments:

  1. Bem, este capitulo foi bem marcante, Dante a fugir da sua prisão, decerto com a ajuda de alguém, mas quem? Mais um grande capitulo fechado com o inicio de um mistério, com estes demónios mortos, cheira-se uma guerra no horizonte, ansiosa pela continuação.

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  2. Fiquei emocionada na parte em que Zechary diz que o Mark deu a ele razões para acreditar e seguir em frente. Foi uma parte muito bonita!
    Por um momento, pensei que Mark hesitaria e se revoltaria com aquele passado turbulento que sua família carregava, mas ele acabou aceitando carregar esse fardo. Foi muito admirável da parte dele, isso mostra o quanto ele evoluiu ^^
    Bom, sinceramente torço para que Mark e Katherine tenham um final feliz no qual fiquem juntos, eles formam um casal muito bonito, mesmo com todas aquelas trevas que a rodeiam...
    O que me surpreendeu foi o Dante ser libertado de sua prisão. Imagino que pode ter sido um anjo que fez isso, já que ele tem o "contrato" com um...
    Esse foi mais um capítulo incrível, mostrou o quanto Mark cresceu ao tomar aquela decisão. Adoro a forma como você descreve os personagens e o que eles sentem!
    A propósito, essa música é ótima :D

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