Zachary olhava para o lado, vendo
Christian caído, sangrando abundantemente pelo ferimento que havia recebido do
punhal de Dante. Pai e filho se encaravam, depois de tantos anos sem se
encontrar não podiam imaginar um reencontro como este.
Não
seja tolo pai, esta é a nossa chance, a última chance de consertar tudo.
Podemos trazer a mamãe de volta. – disse Dante
O
preço é alto demais. Não podemos fazer isso com Christian. – disse Zachary
–
Por quê? Ele apenas foi criado por você, não é do seu sangue de verdade.
–
Sangue não importa, família é muito maior do que isso. Ele é meu filho tanto
quanto você.
–
Não, ele é o seu verdadeiro filho, você cuidou dele e o treinou, eu fui
abandonado por você.
–
Eu queria o afastar de tudo isso. Tudo que eu fiz foi condenar todos que se
aproximaram de mim. Apenas quis lhe dar uma chance de ter uma vida normal.
–
Você não podia me salvar, ele não podia me salvar. Então eu tive que salvar a
mim mesmo, ou talvez condenar, agora já não importa mais.
Por mais que tentasse negar Zachary
podia ver a realidade, que Dante não era mais aquela criança inocente que
brincava com Christian, ele havia se tornado alguém com um coração envenenado.
Ao tentar fazê-lo trilhar um caminho
diferente, o impedir de cometer os mesmos erros que ele tinha cometido, tudo
que Zachary conseguiu foi que ele cometesse erros novos. Se tivesse permanecido
com o filho, mesmo que ele seguisse o seu caminho eventualmente eles se
encontrariam, mas a estrada que Dante tomou é desconhecida, não há retorno.
A mente de Zachary estava nublada,
centenas de pensamentos passavam por ele, uma forma desesperada de tentar
encontrar uma maneira de salvar o filho. Ao mesmo tempo olhava para Christian
caído, precisando urgentemente de ajuda, pensava no pequeno Mark dentro da
casa, rezava para que ele não estivesse vendo tudo aquilo.
A ofensiva foi iniciada por Dante, ele
partiu para cima do pai e o atacava com ferocidade, apesar de já começar a
sentir o peso dos anos, Zachary se esquivava dos golpes, tendo até mesmo
chances para contra-atacar, que ele se recusava a usar, seu coração estava
dividido.
Do mesmo modo Dante pensava nas últimas palavras de sua mãe, que ela lhe
havia dito antes de escolher a morte enfrentando o demônio para que ele pudesse
escapar: Eu não poderia ter desejado uma
família mais perfeita ou um vida melhor. O que aconteceu aqui não é culpa dele,
não deixe que ele se culpe. Por favor, cuide do seu pai.
Por muitos anos Dante havia lutado
contra sua consciência, se sentia culpado por ter abandonado a mãe, não ter
podido salvá-la, se culpava por não ter podido ajudar o pai e apenas assistir
enquanto ele arruinava a própria vida, enquanto a família se destruía.
Diante da impotência, da nossa
incapacidade de mudar o mundo surge a frustração, o rancor, o ódio. Às vezes
seguir em frente não é realmente avançar, mas apenas procurar um caminho de
autodestruição.
Por mais que em seu coração ele tivesse
dúvidas, Dante não permitia que isso o deixasse hesitar, devia seguir em
frente, já havia ido longe demais para recuar, tinha apagado o próprio rastro,
não encontraria mais o caminho de volta.
Percebendo que Zachary não o atacava,
mas apenas se defendia, Dante ficou livre para abaixar sua guarda e atacar com
tudo, eventualmente conseguiu acertar um soco que o derrubou.
Após acertar Zachary, Dante começou a
desferir vários socos no rosto dele, o sangue do pai começava a tingir sua mão
e seu rosto de rubro. Apesar disso tudo que Zachary conseguia ver era o rosto
do filho, ainda uma criança que tinha medo do escuro e corria para o lado dele
quando sentia medo.
Provavelmente Zachary teria sido surrado
até a morte sem ser capaz de reagir, mas então algo aconteceu. Dante foi
esfaqueado pelas costas, acertado com o mesmo punhal que havia usado para ferir
Christian.
Por um momento Zachary pensou que havia
sido Christian a atacar, mas logo o viu ainda no mesmo lugar, caído. A
verdadeira identidade do atacante logo foi descoberta, era o demônio Malthus.
Isto
com certeza estava muito divertido de assistir, mas ninguém além de mim vai ter
o prazer de acabar com sua vida miserável Zachary. – disse Malthus
Finalmente
vou ter minha vingança, todos esses eu esperei por isso. Não pense que eu o temo
demônio, estou pronto para você. – disse Zachary
–
Sabe o que é engraçado humano, nós somos mais parecidos do que você pensa,
ambos destruímos tudo que o outro possuía e desde então temos estado cegos pela
vingança. É nosso destino lutar até um destruir o outro.
Malthus estava totalmente diferente de antes,
não parecia o mesmo demônio que Zachary havia confrontado anos atrás.
Antes ele se divertia, era um sádico
torturando e obtendo prazer em destruir e humilhar humanos. Agora era uma besta
furiosa, parecia sentir um enorme ódio por Zachary, tão grande quanto o que o
humano sentia por ele.
A verdade é que ao derrotá-lo Zachary
havia tomado tudo daquele demônio, desde a idade média Malthus vagava pela
terra, oferecendo acordos, fazendo contratos, arrebatando almas para o inferno.
Com o tempo ele ascendeu na hierarquia
infernal, havia conseguido levar várias almas a perdição. Mas quando foi
derrotado por Zachary e mandado de volta ao inferno tudo isso ruiu. Ele perdeu
todo o status que havia ganhado, foi terrivelmente humilhado, rebaixado a mero
serviçal, torturado para diversão de príncipes.
Por anos, que pareceram incontáveis
séculos ele sofreu nas mãos de outros demônios, pagando por ter falhando em sua
missão na terra. Até que um dia teve uma chance.
Aconteceria uma grande batalha entre
anjos e demônios, um príncipe do inferno ofereceu a ele um acordo, uma chance
para se reerguer, lutar ao lado dele contra os anjos, e então ser restaurado a
sua antiga posição.
Mas assim como Zachary, ele estava cego
pela vingança, a única coisa que importava para ele era destruir aquele maldito
humano que o havia vencido, o feito passar por tantas humilhações, ele nunca
poderia esquecer isso.
Matar a esposa de Zachary não foi o
suficiente, ele precisava tirar tudo dele, fazê-lo sofrer o máximo que pudesse
e então finalmente o matar, nem se importaria de voltar ao inferno se
conseguisse levar a alma de Zachary com ele.
Garoto,
o único que pode matar Zachary sou eu, mas eu aprecio seu esforço, você me
proporcionou um grande espetáculo enquanto lutava com ele. Devo confessar que
isso me deu ideias, então vou ser bonzinho e ajudá-lo a terminar o que começou,
matar seu pai, mas eu vou estar no controle. – disse Malthus para Dante
Mas este foi seu erro, ele desconhecia o
acordo feito entre Dante e o anjos. Embora uma primeira olhada na alma do jovem
fizesse parecer que seria fácil possuí-lo, afinal estava cheio de sentimentos
negativos, tanta culpa, remorso e ódio.
Quando Malthus tentou sair de seu
hospedeiro atual, um assassino condenado ao corredor da morte que havia vendido
a alma em troca de ter sua vida salva, e tomar o corpo de Dante, foi repelido
por uma poderosa energia.
A alma de Dante agora já pertencia a um
anjo que tinha marcado-a, tornando impossível para um demônio, do nível de
Malthus, a possuir.
Atordoado Malthus consegue voltar ao
corpo anterior que estava possuindo, enquanto isso Zachary se recupera e quando
esta pronto para atacar é detido. Embora muito fraco Christian chama-o.
O jovem aprendiz havia realmente
superado o mestre, a informação que ele havia dado não era totalmente
mentirosa, Christian realmente havia descoberto uma forma de matar demônios.
A teoria que Zachary tinha elaborado no
passado e contado a Christian serviu de base para isto. O motivo pelo qual
anjos e demônios anseiam pela nossa alma é porque ela contem fragmentos de
Deus, ou seja, parte do poder Dele reside dentro de nós.
Usando o poder que reside dentro de
nossa alma podemos ter força para enfrentar tanto anjos quanto demônios. Mas
claro que isso não é algo que se pudesse fazer sem pagar um elevado preço, se
este poder fosse usado demais a alma se despedaçaria e seria condenada a um
eterno vazio, um não-ser pior do que o céu ou o inferno.
Sabendo que Zachary estava tomado apenas
pelo sentimento de vingança, Christian tinha decidido não contar isto a ele com
receio de que ele destruísse a si mesmo. Mas diante de tudo que estava
acontecendo, e do que viria no futuro ele entendeu que o melhor seria confiar
em Zachary e contar a ele sobre esse poder.
Enquanto Christian e Zachary conversavam,
Dante, mesmo ferido, lutava contra Malthus.
O jovem apesar de ferido conseguia
combater o demônio, Christian tinha sido um grande professor para ele,
ensinando vários feitiços tanto de proteção, quanto de ataque. Apesar disso
Dante começava a ficar em desvantagem, ainda não era forte o bastante para
enfrentar alguém do nível de Malthus.
Zachary tentava se concentrar, mesmo com
o que Christian contará não era fácil fazer algo como disparar a própria alma.
Foi neste momento que Malthus toma a
vantagem e consegue derrubar Dante, se encontra prestes a matá-lo, diante disso
Zachary consegue usar o poder de sua alma, gritando e disparando como que um
raio que fulminou o demônio.
Assim que disparou este poder Zachary
logo entendeu o que Christian dissera, ele logo sentiu um terrível vazio dentro
de si, era como se uma parte sua tivesse sido arrancada, como se anos de sua
vida fossem tomados dele, era devastador usar aquilo.
Enquanto se recuperava Zachary foi
surpreendido, Dante, agora sem a ameaça de Malthus, continuava determinado a
terminar sua missão. Como estava ferido pelo golpe do demônio tinha desistido
de matar Christian. Agora se concentrava apenas na sua missão principal, matar
Mark.
Com Zachary ainda debilitado parecia que
ninguém poderia deter Dante, mas mesmo a beira da morte Christian se ergueu,
enquanto ainda tivesse um pouco de vida dentro de si não deixaria Mark ser
ferido.
Ambos estavam feridos, mas Dante estava
em melhores condições, Christian não conseguiria detê-lo. Mesmo assim ainda
existia uma última coisa que ele podia fazer para salvar o filho.
Christian foi de encontro a Dante e
ambos caíram no chão, ele havia desenhado alguns estranhos símbolos no próprio
corpo usando o sangue que estava a perder. Era um feitiço proibido que por um
curto período abriria um portão ligando nosso mundo ao inferno.
O portal começou a sugar tudo a sua
volta, Christian então agarrou Dante, este era o seu plano, levá-lo junto com
ele para o inferno. Embora ainda tivesse alguns meses de prazo antes do demônio
vir buscar sua alma aquilo era necessário, ele sabia que Zachary não
conseguiria deter o próprio filho.
Ainda enfraquecido pelo golpe que havia
usado para matar Malthus, Zachary apenas pôde assistir enquanto Christian e
Dante eram tragados para o inferno.
Sua vingança tinha sido completada,
Malthus estava destruído para sempre, mas o custo tinha sido alto demais, toda
sua vida tinha sido destruído junto, nada havia sobrado.
Quando pensamentos sombrios começavam a
preencher sua mente, então aquela pequena mão segurou a sua. Era o filho de
Christian, o pequeno Mark Kroos. O garoto chorava, estava assustado, Zachary
não sabia o quanto de tudo aquilo ele havia assistido, mas naquela criança ele
encontrou tudo que precisava para continuar e não se entregar, esperança,
razões para acreditar.
Não tenho palavras para descrever esse capítulo, mas tentarei utilizar a mais próxima... Foi simplesmente sensacional!
ReplyDeleteDante estava mesmo decidido a matar Christian e até mesmo passar por cima do pai... Fico imaginando que se Amanda fosse realmente revivida graças ao sucesso de Dante, se ela aprovaria as ações do filho. Bom, pelo menos eu imagino que ela ficaria muito desapontada com ele.
Para piorar a situação, Malthus ainda dá as caras... Também com sede de vingança. Acho que a coisa poderia ter ficado muito feia se ele tivesse conseguido possuir o corpo de Dante, ainda bem que isso não aconteceu!
Fiquei curiosa com o que aconteceu com a alma de Zachary... Será que ele vai conseguir voltar ao normal? Ou ficará com "sequelas"?
Então foi isso o que aconteceu com Christian e Dante... Ambos foram tragados para o inferno. Realmente, foi um preço muito alto a se pagar por uma vingança...
Parece que agora Zachary vai querer cuidar do Mark para que ele não caia nas trevas, como aconteceu com o próprio Zachary e com Dante.
Adorei esse capítulo! Imagino que agora o Mark entenderá melhor os motivos do avô.
Estarei aguardando pelo próximo!