Katherine conseguiu conter a surpresa
pelo que tinha acabado de ver, o homem chamado de Zeno na verdade estava sendo
possuído por um demônio. Uma parte dela se preocupava com isso, o fato de
conseguir continuar calma e fria, dissimular, não podia deixar de notar isso
como um novo traço nascendo em sua personalidade.
Isso a assustava, temia estar perdendo
sua própria identidade aos poucos, no futuro podia não saber mais quem era, ser
apenas uma imagem distante.
Afastava esses pensamentos de sua mente
se concentrando no que estava acontecendo no momento, precisava decidir o que
fazer diante do que havia descoberto. Uma parte sua, alimentava uma esperança,
imagina que podia chamar Mark para lá, ele e Zachary poderiam cuidar de tudo, e
quando tivessem terminado, eles voltariam juntos.
No fundo sabia que aquilo era um
pensamento vão, que não podia retornar ate descobrir quem realmente era, o que
estava acontecendo com ela, e como Mark se encaixava em tudo isso, se ela
realmente seria a perdição dele.
Envolta em seus pensamentos Katherine
não percebeu o fim da missa, voltando a si apenas quando começou a ser levada
pelo enorme fluxo de pessoas que deixava a catedral.
Estava decidida a retornar e ir
confrontar Zeno, quando alguém pegou em seu braço e a puxou para fora da
multidão, mesmo com uma aparência diferente, mais sóbria, ela logo o
reconheceu, era Icelo.
O
que você esta fazendo aqui? – disse Katherine se afastando dele
Calma,
eu não vim como um inimigo. – disse Icelo
Ele então pediu que Katherine o
acompanhasse ate o jardim para que pudessem conversar, mesmo receosa ela o
acompanhou, sabia que não poderia ser coincidência, o fato de ele estar ali
apenas confirmava as suspeitas dela sobre aquele lugar. Havia algo acontecendo
lá.
Por
que esta aqui? – perguntou Katherine
Pelo
mesmo motivo de todos os outros, vim buscar a salvação, tentar encontrar a
Deus. – disse Icelo
–
Não brinque comigo.
–
Tem razão, você esta aqui por um motivo diferente dos demais, esta fugindo.
Acho que não procura verdadeiramente a Deus, mas apenas por perdão, por alguém
que diga que seus pecados serão perdoados no final.
–
Veio aqui para brincar comigo, para me atormentar? Tentar me usar contra Mark?
–
Claro que não, isso seria um pouco repetitivo. Além do mais tenho outros planos
para o jovem Mark. Por falar nisso, você devia vê-lo, ele cresceu tanto nestes
dias, é como se tivessem se passado anos. Acho que é isso que as perdas fazem
conosco, nos fazem crescer.
–
Fique longe dele!
–
Entenda, eu não vim aqui para ameaçar a você ou ele. Apenas conversar, e
imagino que você já saiba o motivo.
–
Algo nesse lugar que mexe com meus sentidos, que enfraquece essa coisa que
existe dentro de mim.
–
Sim, e aproveitando isso que quero conversar com você. Com você de verdade,
pode ser a última chance de fazer isso sem ter de lidar com a adorável princesa
do inferno.
Icelo então caminhou ate Katherine e
sussurrou algumas palavras em seu ouvido. Ela fez uma expressão de surpresa,
parecia não acreditar no que ele havia lhe dito.
Não
precisa me responder agora, pense a respeito. E mais uma coisa, assista a missa
que haverá a tarde, você gostará muito dela. – disse Icelo
O demônio dos sonhos se retirou e deixou
Katherine sozinha, agora ela tinha muito sobre o que pensar.
Dentro da catedral Zeno rezava, quando
então viu um homem sozinho perto do altar, era Icelo.
Posso
ajudá-lo irmão? – disse Zeno
Ninguém
pode, mas obrigado por perguntar. – respondeu Icelo
–
Você veio aqui para se confessar?
–
Não, eu não sou do tipo que acredita em pecados, arrependimento e redenção.
–
Então em que você acredita?
–
Em nada.
–
Deixe-me mudar a pergunta então, no que você quer acreditar?
–
Em salvação.
–
A salvação esta ao alcance de todos, basta aprendermos a perdoar, aos outros e
a nos mesmos. O único inferno em que acredito se chama culpa.
–
Eu vejo o que você é diz, você não acredita no que diz, sabe que nem todos
podem ser salvos, que existem pecados inapagáveis. Na verdade você acredita que
pode comprar a salvação.
Zeno então percebeu com que tipo de
criatura estava falando, não sentia medo, embora soubesse o que seguiria a
partir de agora.
Por
que esta vindo se justificar para mim? – perguntou Zeno
Acho
que apenas queria saber que tipo de homem de você é. – disse Icelo
–
Quando vai acontecer?
–
Ao amanhecer, acho que você merece ver o sol nascer pela última vez. Isso não
merece terminar no meio da escuridão da noite.
–
Obrigado. Posso fazer mais uma pergunta?
–
Não, fique a vontade.
–
Por que agora? Realmente é o fim que esta chegando?
–
A maioria acredita nisso, lá em cima e lá embaixo estão começando a se mexer,
alianças sendo feitas, traições sendo planejadas.
–
Entendo. Eu também tinha sentido os sinais. Bem, se me da licença agora tenho
uma última missa para celebrar.
–
Compreendo, adeus.
–
É bem vindo para assistir a ela também, e mais uma coisa, eu perdoo você.
O tempo passou rapidamente e logo o
entardecer chegou. Novamente a multidão se dirigia ate a catedral para assistir
a missa de Zeno. Katherine, embora receosa, novamente aceitou a ajuda da velha
senhora chamada de Layla, conseguindo assim um bom lugar na frente.
Irmãos
e irmãs, vem chegando um tempo onde nossa fé será testada, onde coisas ruins
acontecerão, o destino nos açoitará com toda sua força e indiferença. – disse
Zeno
–
Para suportar a isso, para aguentar os tempos difíceis que se aproximam
precisamos ser fortes. Precisamos nos cercar daqueles que amamos.
–
Devemos fechar a porta para o passado, para aqueles atormentados por culpas e
remorsos o passado é como um visitante insistente, sempre batendo a porta e
tentando entrar. Se permitirmos ele destruirá todo nosso presente e nos ceifará
o futuro.
–
Muito se fala sobre perdoar ao próximo, as ofensas que cometem contra nós, mas
existe algo tão importante quanto isso, o autoperdão.
–
Reconhecendo nossos próprios erros, aceitando nossa fragilidade e falibilidade,
a nossa condição como humanos, e então a partir daí podermos reparar o mal que
praticamos e as pessoas que ferimos.
–
Quando finalmente aprendemos a nos perdoar conseguimos também desculpar as
outras pessoas. É se libertar, é aceitar que coisas ruins acontecem, que as
pessoas, mentem, traem, machucam, mas que assim como existe o mal, também
existe o bem.
–
Perdoem a si mesmos meus irmãos, não existe paraíso ou inferno que possa nos
julgar, a dores e alegrias que o coração humano é capaz de suportar nenhum anjo
ou demônio conseguirá entender.
–
O inferno é a culpa que sentimos, os remorsos que carregamos, quando nos
perdoamos ele não existe mais, sobre nossas almas eles só tem o poder que nos
concedemos. E o reino de Deus ... o
reino de Deus esta em vós.
Muito emocionado Zeno terminou seu
discurso, chorava de maneira contida, causando grande comoção em todos os
presentes. Conforme as pessoas deixavam a catedral eram avisados que deveriam
sair dali, que a igreja ficaria fechada por alguns dias, que Zeno precisava
cuidar de problemas pessoais.
Quando Katherine estava prestes a também
deixar a catedral foi impedida por Layla, a velha senhora explicou que Zeno
gostaria de conversar com ela.
Logo ela percebeu que estava sendo
tratada de modo diferente, provavelmente agora os demônios que lá estavam
conseguiam enxergar quem ela era realmente. Provavelmente havia sido Icelo quem
estava a escondendo antes, impedindo que fosse notada pelos demônios.
Embora sozinha naquele lugar e cercada
por demônios, Katherine não demonstrava medo, desde que virá aquilo tudo com as
almas a serem guiadas e manipuladas sabia que precisava descobrir o que estava
acontecendo. Mas agora existia mais um motivo, depois de ouvir todo aquele
discurso ela sentia que precisava conversar com Zeno, que ele poderia lhe
esclarecer muitas coisas.
Então Katherine foi levada ate uma sala
que ficava atrás do altar, Zeno pediu para que os outros se retirassem e
deixassem ele e a garota conversar sozinhos.
Do lado de fora ainda sentando nas
escadas da catedral Icelo estava pensativo, olhando para as estrelas, de algum
modo as palavras de Zeno tinham dito algo a ele também. Mas já era tarde, e ele
não mudaria seu plano. Foi ate o jardim e com alguns sinais de invocação
desenhados na terra mandou um sinal ate o paraíso.
Longe dali três seres subitamente
apareceram, sob a luz da lua suas sombras mostravam grandes e poderosas asas.
Durante algum tempo um deles se sentou no chão e meditou, até ter encontrado o
que seria a fonte do chamado deles, mas não era só isso, ele também sentiu uma
poderosa concentração de almas humanas. Lentamente os três começaram sua
caminhada em direção a catedral onde Zeno e Katherine estavam.
Mais um bom capitulo, ainda não percebi bem a mente de Icelo, ele parece alguém arrependido, no entanto não quer se arrepender, é um grande personagem e eu que não gostava dele passei a olha-lo com outros olhos, Katherine e Zeno irão conversar agora enquanto três seres se aproximam do local, espero pelo proximo capitulo.
ReplyDeleteImagino que a Katherine esteja em apuros dessa vez...
ReplyDeleteComo sempre, Icelo surpreende cada vez mais. Ele é um personagem super misterioso, nunca conseguimos imaginar qual será o próximo passo dele.
Ainda acho interessante o Zeno, fico imaginando se o demônio que o possuiu está realmente arrependido e quer a salvação.
Mas o interessante de tudo, é que parece que as palavras de Zeno afetaram um pouco o Icelo.
Excelente capítulo, como sempre! Sua fic é atualmente uma de minhas preferidas!
Enfim, aguardarei pelo próximo capítulo!