Zachary acordou no hospital, os médicos
ficaram surpresos ao ver como todos os pacientes com aquele estranho distúrbio
do sono acordaram ao mesmo tempo.
Por mais que eles tenham tentado detê-lo
foi inútil, Zachary logo que conseguiu saiu do hospital, sabia que precisava ir
ver Mark.
Icelo havia dito que não havia nada que
pudesse ser feito para trazê-lo de volta, que nenhum poder demoníaco poderia
ajudar. Mas nada faria com que Zachary desistisse, devia haver algum outro
jeito, alguma forma.
Enquanto caminhava em direção a livraria
por duas vezes Zachary cambaleou, ele sabia pelos rápidos exames que os médicos
haviam feito nele que clinicamente estava bem, não havia ficado nenhuma sequela
do coma.
Ele sabia que devia estar a sentir os
resquícios de ter confrontado Mark. Por um momento Zachary vacilou. Mark era
como um sol, um que apenas queimava tudo e feria aqueles que tentassem se
aproximar. Como ele conseguiria torná-lo em um sol capaz de iluminar e trazer
esperança, algo que dissipasse as trevas?
O fardo do garoto era de fato muito
pesado, mas era igualmente verdade que o fardo de Zachary também não era leve.
A profecia, as palavras de Khan, o sacrifício de Holger, centenas de emoções
conflitantes colidiam dentro do coração dele.
Então por um momento ele teve de parar,
sentou em um banco no parque e começou a refletir. Aproveitou o fim de
madrugada para poder ficar sozinho. Sabia que todo tempo era precioso, que cada
momento que Mark passasse lá tornaria mais difícil trazê-lo de volta, isso se
já não fosse impossível fazê-lo.
Era o momento de parar e pensar, não
podia se dar ao luxo de agir como um garoto impulsivo, não podia entrar no
plano astral sem saber que direção seguir ou sem qualquer plano, esperando apenas
com a sorte para tentar encontrar Mark naquela infinidade que era do tamanho de
um universo.
Enquanto isso na livraria Katherine
estava desesperada, procurava em todos os livros que visse pela frente algo que
pudesse ajudá-la, algo que lhe dissesse como salvar Mark, como trazê-lo de
volta.
Tudo que ela precisava fazer era
proteger o corpo, cuidar dele até que ele retornasse em segurança, mas ela
havia sido incapaz de fazer isso. Sentia-se invadida por um grande sentimento
de culpa.
Pensava também no que poderia ter
acontecido a ele lá, como aquilo podia o ter afetado, se ele estava ferido ou
algo pior.
Por mais que procurasse não encontrava
nada, aquele livros eram tão velhos, muitos escritos em idiomas antigos que ela
sequer conhecia, aquilo tudo era fútil, para ter alguma chance de ajudá-lo ela
teria de conhecer aquilo, e tempo era algo que ela não tinha. Lembrava-se disso
toda vez que olhava para o corpo de Mark.
Katherine começou a atirar os livros
contra a parede, tinha certeza que a salvação de Mark não estava lá. Que talvez
não houvesse salvação.
Então ela fez tudo que podia, tudo que
havia restado para fazer, abraçou seu corpo frio tentando passar algum calor
para ele, e começou a chorar sentido parte do seu coração morrer.
No plano astral Mark vagava sem rumo.
Não havia nada, apenas um grande vazio que parecia querer se alimentar da
consciência dele.
Será
que é assim que tudo vai terminar? Isso é a morte? – se perguntou Mark
Ele não conseguia dizer há quanto estava
lá, cada vez se sentia mais distante de tudo, o que sua vida tinha sido parecia
apenas uma distante lembrança.
E foram suas lembranças que o
despertaram, as memórias que guardava o fizeram sair daquele torpor.
Mark se lembrou de uma conversa que
havia tido com Zachary, havia sido pouco tempo depois da morte dos seus pais.
Por
que as pessoas têm de morrer? – perguntou Mark
Porque
isso é o natural. Tudo tem de morrer, temos um tempo determinado para viver, e
nesse curto período devemos fazer o melhor que pudermos por aqueles que amamos.
– disse Zachary
–
Como eu vou saber quando for minha hora de morrer?
–
Eu quero acreditar que não existe uma hora. Quando você desistir da vontade de
viver, não tiver mais força para lutar, só neste momento tudo terá terminado.
–
Que força é essa que existe e pode nos fazer nunca desistir?
–
Ninguém tem essa resposta, o momento de cada um é algo que só se saberá quando
chegar a hora.
Ele se lembrava de alguns flashes,
partes do que havia acontecido entre ele, Icelo e Zachary. Sabia que uma guerra
estava vindo, que teria um papel fundamental nela. Que talvez todo o mundo
dependesse dele.
Mark ainda não era capaz de entender
tudo. Aquilo havia se tornado grande demais para ele. Lutar por toda a
humanidade, ficar entre o céu e o inferno.
Essas coisas não o fariam retornar.
Naquele momento a única coisa em que conseguia pensar era nas pessoas que
amava, ele podia ver o rosto de Zachary e de Katherine.
Eu
não quero que termine assim. Eu preciso voltar. – disse Mark
O dia começava a nascer e Zachary ainda
estava sozinho no parque, afundando cada vez mais em seus pensamentos, indeciso
sobre o que fazer, sobre qual deveria ser seu próximo passo.
Por mais que tentasse afastar aqueles
pensamentos Zacahry não conseguia. E se isto fosse também parte do plano de
Icelo, e se a única forma de manter Mark seguro fosse o deixando lá.
Que talvez devesse acreditar que ele
poderia voltar sozinho. Afinal, ficar perdido naquele lugar destruiria Mark,
mas não o “presente de Deus”, a última esperança da humanidade.
Seria egoísmo se preocupar mais com Mark
do que com toda a humanidade? E a entidade que habita no corpo de Mark, será
que é mesmo um salvador?
Por mais que tentasse Zachary não
conseguia encontrar uma resposta. Foi então que ele se lembrou de algo, talvez
em parte o que fizesse gostar tanto de Mark, ser mais emocional do que
racional. Exatamente como o filho de Zachary era.
Quando não se tem respostas, quando tudo
mais falhou, parece não haver um caminho a seguir, só resta uma coisa, fazer
algo irracional. Se não encontra uma razão lógica talvez seja porque é uma
pergunta que não se pode responder com a cabeça, mas sim com o coração.
Zachary entendeu então que estava sendo
dominado pelo medo. Era o momento de mudar isso, o medo não o levaria adiante,
não salvaria Mark, não salvaria ninguém.
Decidido ele se levantou e foi até a
livraria, sabia que encontraria Mark lá. E sabia que mais alguém estaria lá
também.
Ao entrar na livraria apressadamente
Zachary subia as escadas e foi até o segundo andar onde estavam Mark e
Katherine.
Chegando ele encontrou o corpo de Mark,
era possível perceber a palidez dele, em volta os símbolos do feitiço abrir o
portal para o plano astral, a vela apagada. Rapidamento Zachary ligou os pontos
e entendeu tudo o que Mark tinha feito.
Não
tenho tempo para você velho, mas se quiser lutar tudo bem. Tenho muito ódio
para descarregar. – disse Katherine
Calma,
eu não vim para lutar com você, digamos que estamos em trégua, temos uma
preocupação maior no momento. – disse Zachary
–
Eu não me preocupo com este humano, o que acontece a ele não me importa. Apenas
me importo com o “presente de Deus.” Ele pode servir aos meus propósitos.
–
Tudo bem, você pode dizer isso, mas estas lágrimas que vejo são reais.
–
Não sou eu, é esta maldita garota, estamos mais ligadas do que eu gostaria.
Infelizmente eu posso sentir toda a dor que ela esta sentido.
–
Então também esta interessada em resolver isso, em trazer Mark de volta.
–
Um exorcista tendo fé em um demônio? São mesmo tempos estranhos. Mas não posso
fazer isso. Acredite eu já tentei, nenhum poder demoníaco pode o alcançar onde
ele esta.
–
Eu já imaginava isso, Icelo já havia me dito o mesmo.
–
Qual o seu objetivo então? Tentar ajuda de anjos? Se for sinto lhe dizer, mas
não funcionará.
–
Primeiro, meu plano depende da Katherine de verdade, não de você.
–
Não me faça rir humano, acha que ela pode fazer algo que eu não consegui. É
ridículo.
–
Ela é a única que pode salvá-lo.
–
Seu desespero esta fazendo com que não aceite a realidade. Acha mesmo que ela
pode o salvar? Que o amor dela o trará de volta?
–
Exatamente.
–
Você superestima o amor.
–
Não, você o subestima. Nossos laços emocionais nos ligam, não importa o quão
distante. Isso é o amor, duas almas se tornando uma, criando uma ligação. Dois
corações são melhores do que um.
–
Farei o que você pede, sinta-se a vontade para fracassar.
O demônio então abandonou a consciência
de Katherine e ela retornou. Zachary podia ver o quanto aquilo a forçava. Mas
era hora de tentar a última esperança para trazer Mark de volta.
Katherine,
você esta bem? – perguntou Zachary
Não
muito, mas não importa, só me diga o que eu preciso fazer. – disse Katherine
–
Apenas abra o seu coração, diga tudo que sente, sincronize seu coração com o
dele, faça o seu bater tão forte que o bata por ele também. Ilumine o caminho
para ele voltar.
Então, ela começou a dizer tudo que
sentia, a implorar para que sua alma tivesse mesmo uma ligação com a de Mark e
o fizesse voltar.
Mark,
eu não sei se você pode me ouvir, então não importa o que tenha de fazer, volte
para mim para que eu possa lhe dizer tudo isso pessoalmente ou eu nunca vou lhe
perdoar. – disse Katherine
–
Você se sacrificaria por mim, eu sei que faria qualquer coisa, eu só queria
poder retribuir, ser capaz de ajudá-lo.
–
Antes eu tinha um buraco no coração, eu não enxergava isso, mas ele estava lá o
tempo todo, você preencheu o vazio, não pode ir embora assim.
–
Por favor, volte para casa, volte para mim. Eu, ... eu te amo.
Katherine então encosta seus lábios nos
de Mark.
E então, um milagre acontece, Mark
acorda. Ela o abraça o mais forte que consegue. Quando seus olhos se encontram
palavras são desnecessárias, eles podem sentir tudo que o outro sente. “Eu
quero iluminar seu caminho”, “Eu quero afastar sua dor.”
Mark gentilmente coloca as mãos no rosto
de Katherine, limpa suas lágrimas, eles sabem que isso não foi o fim, mas
apenas o começo, as coisas daqui para frente ficaram cada vez piores, mas naquele
momento nada disso importava.
Mark disse que a amava e a beijou.
Nossa que lindo, amei esse final, estava shippando eles viu? KKKK amei mesmo, continua por favor, preciso saber que acontece depois =D
ReplyDeleteConcordo que às vezes é melhor abandonar a razão e agir com o coração, acho que Zachary agiu corretamente em fazer isso, pelo menos nessa situação.
ReplyDeleteAgora entendi o porquê que a entidade que está no corpo da Katherine chorou em um dos capítulos anteriores. O sentimento da garota era tão forte que até o demônio conseguia sentir...
OMG! Achei tão lindo esse final. Eles formam um casalzinho fofo *w*