Thursday 11 July 2013

Capítulo 9 - Caminhe ao meu lado



Mark terminava de fazer todos os preparativos que podia enquanto ia explicando a Katherine o que ela devia fazer. Ele se sentia melhor por tê-la ao seu lado, embora não pudesse deixar de pensar no risco em que a estava metendo.
Deixou-a com alguns livros para que ela pudesse se preparar, enquanto isso foi até outro cômodo para ficar sozinho por alguns minutos, precisava se concentrar e preparar mentalmente para o que ia enfrentar. Mas do que nunca precisava do seu avô, então tentou se lembrar das palavras dele, antes de algo assim tentar pensar em boas lembranças, coisas que possam te dar força.
Veio-lhe a lembrança de uma conversa que tinha tido com Zachary sobre Katherine.

Acho que devia me afastar dela, depois de tudo que ela passou o melhor seria afastá-la de tudo isso, demônios, sombras e qualquer coisa que possa feri-la. Eu sei que ela parece estar bem, mas não sei o quanto disso é real e o quanto ela finge. – disse Mark
Mark, eu entendo que se preocupe com ela, e você esta certo sobre isso, mas não pode protegê-la de tudo, protegê-la para sempre. – disse Zachary
O que você quer dizer com isso?
Você sabe Mark, o que ela viu, tudo que sentiu, todo o tempo que teve aquele demônio dentro de si, Katherine nunca vai ser totalmente livre daquilo, não há como ela apagar o passado.
E você sugere que eu a puxe cada vez mais para dentro disso?
Não, eu apenas acho que pode a deixar fazer as próprias escolhas, acredite Mark, ela tem sim noção de onde esta a se meter. Talvez seja você quem realmente esta com medo.
Do que esta falando?
Se acha tudo isso difícil de lidar agora, imagine como será no futuro Mark, fica cada vez pior, você sempre perde ... Quando aparece alguém que vê o que você tem de pior, vê o seu lado sombrio e mesmo assim não vai embora, é algo que tu podes nunca mais encontrar de novo. Apenas não tente se isolar de tudo e ficar cada vez mais sozinho, acredite não vai ajudar.

Mark despertou das lembranças com o chamado de Katherine.

Por que você não me disse isso antes? Do que precisa para esse ritual? – disse Katherine
Eu não achei que fosse ter ajuda. – disse Mark
Aqui esta bem claro, para esse ritual são necessárias pelo menos duas pessoas, alguém precisa ficar para completar alguns selos de proteção e principalmente para garantir que a pessoa possa votar.
A verdade é que não há grandes chances de eu voltar de qualquer forma, por isso achei que não faria diferença. (disse Mark rindo)
Você consegue ser tão estúpido às vezes. Acha mesmo que pode ser tão egoísta, que as pessoas não se preocupam com você?
Não é isso, é só que eu prefiro sacrificar a mim mesmo, fazer qualquer coisa do que ter que ver alguém que eu amo ferido.

Aquela resposta acabou com Katherine, ela esperava algo idiota, uma brincadeira, não a verdade, algo tão sério. Era como se fosse uma despedida.
Na sala eles discutiram sobre tudo uma última vez, Mark usaria um ritual para conseguir sair do corpo e ir para plano astral, faria um selo com o sangue de Zachary para conseguir encontrá-lo, e então adentrar na mente dele e lá fazer um ritual para invocar o demônio chamado Icelo. A parte de Katherine deveria ser manter o ritual.
Fazer o espírito sair do corpo era algo totalmente antinatural. Poucas pessoas são capazes de conseguir realizar uma viagem astral, alguns a realizam inconscientemente enquanto sonham, mas são poucos os que nascem com esse dom.
No mundo dos sonhos é possível entrar mais facilmente no plano astral, é como se os sonhos fossem a superfície de um lago e o plano astral fosse mergulhar no lago. Um lago que te puxa cada vez mais para o fundo, até que você se afoga.
Os outros poucos que ainda praticam esse tipo de magia são alguns poucos monges e pessoas que ainda recordam de ensinamentos de eras passadas, mesmo assim precisando de anos ou décadas para se preparar física e mentalmente. Neste plano apenas espíritos podem vagar, toda carne e matéria é considerada impura e não pode adentrar essa dimensão.
Obviamente Mark não tinha tempo para tudo isto, o que ele ia fazer era forçar o espírito a sair do corpo e então abrir um portal para o plano astral.  Ao expulsar o espírito do próprio corpo o risco era imenso, tudo passava a ser uma questão de tempo, em pouco tempo o corpo começaria a apodrecer e sentir os efeitos da morte.
Outro grande perigo era o de se perder, o espírito poderia vagar por anos sem nunca conseguir encontrar o caminho de volta, a cada instante em que se afasta do corpo a ligação entre eles começa a se fragmentar até se despedaçar totalmente.  Para isso Mark tinha uma espécie de bussola, fez um ritual utilizando uma vela, derramou algumas gotas do seu sangue nela e fez uma pequena inscrição na base.
Esta vela serviria como uma espécie de farol, ficaria acesa e iluminaria o caminho da alma de Mark de volta ao corpo, ao mesmo tempo era também um marcador, quando ela se apagasse seria porque a ligação entre a alma e o corpo enfraqueceu demais, se isso acontecesse provavelmente ele nunca mais conseguiria retornar. 
Mark desenhou um estranho símbolo no centro da sala, uma imagem cheia de inscrições e símbolos, ao terminar ficou no centro e começou a entoar algumas palavras numa língua desconhecida, sua voz foi ficando cada vez mais baixa até que ele parou de falar e caiu no chão como se houvesse desmaiado.
O espírito de Mark havia deixado o corpo, a realidade havia ficado para trás, do plano astral ele enxergava o mundo como em um espelho distorcido. Diante dele estava um universo infinito, toda uma série de coisas que desafiavam toda a racionalidade, arquiteturas fantásticas, criaturas desconhecidas, seres estranhos.
Apenas essa visão que se tem ao adentrar o plano astral seria suficiente para destruir a consciência de muitos, tornando-os “espíritos mortos” que vagam sem rumo até voltarem a ser um com universo.
A cada instante a força de vontade e determinação de Mark eram testadas ao extremo, uma simples distração e teria sua mente invadida por turbilhoes de pensamentos estranhos e desconexos. Toda a concentração dele era usada apenas para manter-se lúcido, aos poucos ele sentia que o motivo dele estar lá, Zachary, Katherine, o mundo real tudo começava a esmaecer , era como se estivesse entrando em um estado de transe ao ser hipnotizado.   
Na livraria Katherine estava calma, sentando perto de Mark folheava alguns livros sem grande interesse, logo percebeu que ele começava a sangrar pelo nariz, sua mente devia estar sendo levada ao limite.
Então, ao invés de ajudá-lo ela levantou-se e com o pé desfez parte dos símbolos que circundavam o corpo de Mark.
No plano astral Mark não via nada além de estranhas formas e sombras, um grande vazio o invadia, quanto mais se afastava do seu corpo mais essa sensação aumentava, de repente uma enorme força o puxou, era um grande turbilhão, um vortex que parecia prestes a dilacerar sua alma. Começou a sentir sua consciência desaparecer, parecia que sua própria existência estava começando a ser apagada.
Como se tivesse recuperado a consciência Katherine subitamente percebeu o que havia feito e o que estava acontecendo, ficou desesperada, os símbolos que Mark havia feito estavam se desfazendo, ela sabia que alguma coisa estava errada. Apesar de as janelas estarem fechadas era como se um vento forte estivesse a soprar e apagar as marcas.
De forma descuidada ela tentou parar aquilo, encobrindo os desenhos no chão com as mãos, sentiu algo como várias lâminas rasgando sua pele, logo recuou tirando as mãos. Instintivamente se afastou, por um momento pensou em fugir, correr o mais rápido que pudesse sem olhar para trás.
Vergonha, medo e uma grande culpa pesavam sobre ela, resistindo a esse impulso ficou decidida a permanecer lá, reconstruiria os símbolos mesmo que suas mãos fossem arrancadas no processo.
Essa estranha coragem que nem Katherine sabia ter fez com que ela se acalmasse, era como se uma voz dentro dela dissesse: Esta tudo bem, não se preocupe, eu sei o que estou fazendo, não vou machucá-lo. Não ainda, tenho meus próprios planos para ele.
Uma estranha atmosfera tomava a sala, se espalhando a partir do corpo de Mark, por mais que Katherine tivesse prestado bastante atenção na hora em que Mark fazia os símbolos e depois tê-los novamente estudado em livro não era tão simples refazê-los, além disso, havia uma grande força repelindo-a, quando ela tentava aproximar-se sentia como se o vento estivesse a cortar seu corpo.
Entretanto, ela agora sentia-se muito calma, como se soubesse exatamente o que fazer, e não precisasse temer a nada.
Como se movesse um boneco pegou no braço de Mark que estava inerte, fez um grande corte em seu pulso e com o sangue dele voltou a refazer os símbolos. Conseguiu reconstruí-los perfeitamente, com exceção de um que foi alterado.
Contudo, percebeu que o sangue fluía abundantemente, havia feito um corte profundo demais e precisou conter um sangramento amarrando o braço com um pedaço de pano, se não parasse a hemorragia ele sangraria até a morte.
No plano astral Mark que estava prestes a ter seu espírito partido quando subitamente recuperou a consciência, mas não apenas isso, agora conseguia controlar-se melhor, como se agora estivesse mais protegido, sem ter sua alma constantemente atacada pela severa pressão que sofria naquele lugar.
Depois de respirar por um momento e recuperar a calma lembrou-se do que tinha que fazer, o selo que havia feito com o sangue de Zachary e que agora usaria para encontrá-lo.
Na livraria a estranha atmosfera deixou o quarto, tudo parecia ter sido consertado. Entretanto, a vela tinha se queimado mais rapidamente, já estava na metade.

Katherine agora estava determinada, faria o que pudesse para ajudar Mark, ainda não sabia o que havia de errado com ela mesma, tinha medo do que aconteceria quando ele descobrisse isso, no seu coração ela pensava apenas em caminhar ao lado dele quando ele voltasse.

2 comments:

  1. digamos que Mark e Kath estão se tornando um OTP.

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  2. Mesmo com a maior proximidade entre os dois, imagino que ainda há algo estranho com a Katherine. Ainda tenho a impressão de que ela esteja sendo controlada por alguma entidade.
    Achei muito interessante você abordar o tema de viagem astral. O que o Mark tentou é bem perigoso, de fazer isso à força.
    Muito bom esse capítulo! Outra coisa, notei a evolução de sua escrita. Está de parabéns! :D
    Lerei o próximo!

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