Katherine foi embora, andava pelas ruas sem rumo, novamente seus pés a levaram até em casa, ela queria ter ido logo até o cemitério, mas Mark disse que precisava de tempo para alguns preparativos e que não podia garantir que tudo aquilo daria certo, então talvez ela devesse despedir-se das pessoas que gostava.
Mas
não há ninguém de quem eu deva me despedir ... – disse ela.
E
os seus tios, você me disse que mora com eles? – disse ele.
Sim,
eu sou um peso que eles têm de carregar, penso que vão ficar aliviados se algo
der errado e eu não voltar.
Você
superestima o altruísmo das pessoas, ninguém é tão bonzinho assim, as pessoas
só carregam aquilo que elas mesmas querem. Cada um escolhe o que levar ou não
consigo.
Ás
vezes eu não se é real, sinto como se eles estivessem a fingir.
Eu
não os conheço, não sei qual é a verdade, mas se eles se preocupam em fingir
quer dizer que eles se importam. A verdade é que as pessoas não são perfeitas,
sempre vão errar conosco, mesmo que tentem o melhor que podem ainda assim não
vai ser o suficiente, então talvez devêssemos levar mais em conta o quanto elas
tentam.
Você
é estranho (disse ela sorrindo). De qualquer forma obrigado.
Tentando não mostrar que havia ficado
ruborizado com aquilo ele a mandou embora dizendo que ainda tinha muito o que
fazer, mas quando ela saiu ele ficou com um sorriso bobo no rosto.
Você
consegue dizer algumas coisas bem legais quando quer, já que não escuta meus
conselhos bem podia ouvir o que você mesmo acabou de dizer. – disse o avô.
Ela
é diferente de mim, ainda há esperança para ela, ainda pode ser salva. – disse
Mark.
As palavras dele ficaram ressoando
dentro dela, depois de algum tempo ela percebeu o que devia fazer. No fundo
queria realmente ir para casa, abraçar os tios que cuidavam dela, se fosse
mesmo uma despedida que pelo menos eles guardassem boas recordações dela.
Encontrou apenas a tia na cozinha, elas
não falaram nada, apenas se abraçaram, Katherine pediu desculpas. Depois subiu
até o quarto, foi até o armário e começou a mexer em coisas antigas, instintivamente
foi abrindo caixas, procurando em gavetas até finalmente achar o que mesmo sem
saber estava procurando, um velho álbum de fotografias.
Sentou-se e passou algum tempo encarando
o álbum, sem ter coragem de abri-lo, ela tentava se lembrar da última vez que o
tinha visto, provavelmente antes do acidente, depois de tudo nunca mais teve
coragem ver as fotos, o escondeu no fundo de um armário, longe de tudo, quem
sabe com o tempo esquecesse, foi o mesmo que tentou fazer com suas memórias,
mas nunca é tão fácil assim, a alma humana precisa sentir alguma coisa, não
aceita o vazio, então veio a culpa para preencher o seu coração.
Teve um impulso para esconder aquele
álbum, guardá-lo novamente, mas as palavras de Mark ressoaram dentro dela,
aquele podia ser o último dia da sua vida, ela queria, mas do que isso ela
precisava de força e apoio para aguentar aquilo, talvez naquelas fotos antigas
se escondessem memórias de dias felizes, fragmentos de luz para iluminar seu
coração.
Finalmente abriu o álbum, não conseguiu
aguentar e logo estava chorando, mas não eram apenas lágrimas ruins de
tristeza, havia também lágrimas puras que lavavam sua alma. Enquanto ela
lentamente passava as páginas, revivendo cada um daqueles preciosos momentos o
tempo passava, a tarde morria sangrando em tons de vermelho, logo a noite
chegou.
De repente ela foi despertada daquela
nostalgia por um barulho, em seguida outro, ela então viu do que se tratava,
Mark atirava pequenas pedras em sua janela para chamá-la. Algo tinha mudado
dentro dela, estava mais decidida, convicta do queria, queria viver.
Sorrateiramente conseguiu sair de casa sem ser vista e se encontrou com Mark,
ela estranhou um sorriso bobo que ele tinha no rosto.
Desculpa,
mas é que eu sempre quis fazer isto, me esgueirar, passar sem visto e então ir
até a janela da garota jogar pedras em sua janela para encontrá-la, é um pouco
emocionante, disse Mark.
Você
não teve muitos encontros não é? – disse Katherine, que em seguida começou a
rir.
Mark ficou feliz ao ver que ela estava
bem melhor, sabia que o que iria fazer tinha grande chance de dar errado e que
era muito arriscado, ia precisar de toda sua habilidade e conhecimento em
demonologia para fazer aquilo funcionar, mas a verdade é que não dependia só
dele, no final seria a própria Katherine que decidiria tudo.
Ele sabia que precisava estar totalmente
concentrado e preparado, mas ainda se preocupava com ela, então ficou a
conversar com ela, fazendo piadas bobas, tentando relaxá-la durante todo o caminho
até o cemitério.
Depois de deixar a cidade caminharam
ainda por quase uma hora até chegar ao cemitério, abriram o grande portão e
entraram, o cenário era assustador, não havia grama, não havia flores, nada,
como se tudo ali dentro fenecesse e morresse.
Katherine então contou a ele o que sabia
sobre aquele lugar, era o cemitério da cidade desde que ela havia sido fundada,
na época escolheram aquele lugar porque ele era inútil para todo o resto, não
servia para agricultura, não servia para construções, então os moradores
decidiram fazer daquele local o cemitério.
Um
lugar para esquecer e abandonar os mortos, disse ela melancolicamente.
Talvez,
mas ainda existem pequenos faróis de esperança, disse ele apontando para
algumas sepulturas que tinham flores frescas. – disse ele.
Depois do dia do funeral ela nunca mais
havia voltado para aquele lugar, mesmo assim conseguia se lembrar perfeitamente
do local onde seus pais haviam sido enterrados. Mark deu a ela uma lanterna que
havia trazido e a deixou guia-los até o lugar.
Quando finalmente chegaram ele notou o
quanto ela já estava abalada, era realmente difícil para Katherine encarar tudo
aquilo, enquanto ela caminhava até a sepultura e colocava a mão se apoiando
sobre a lápide ele começou a desenhar no chão alguns selos estranhos, e no
final um grande pentagrama que cercava tudo.
Mark começou então novamente a explicar
o que ela devia fazer, que o demônio havia se ligado a algum sentimento
negativo que existia no coração dela, e antes de tentar exorcizá-lo primeiro ela
precisava quebrar essa ligação com ele, deixando para trás esse sentimento
negativo que a consumia.
Então pediu a ela para começar a se
concentrar, mentalizar as lembranças que a atormentavam.
Eu
fui responsável pela morte dos meus pais. – disse ela
Você
não precisa falar em voz alta, basta se concentrar e pensar nisso. – disse ele
Tudo
bem, eu nunca falei sobre isso com ninguém, acho que agora quero dividir.
Ele ficou sério e em silêncio,
continuava concentrado, revendo na sua mente cada detalhe ao mesmo tempo em que
observava atentamente os selos, ao mesmo tempo mantinha os olhos fixos nela,
ele sabia que não encontraria nenhuma palavra que pudesse ajudá-la. Ela então
começou a contar.
Foi
há dois anos, ia ter um show em uma cidade da região, eu queria muito ir
assistir, mas eles me proibiram, disseram que era muito longe e era perigoso eu
ir sozinha, e eles estariam ocupados e não iam poder me levar.
Na
época isso parecia a coisa mais importante do mundo para mim, eu fiquei com
tanta raiva, tão chatiada, eu queria punir meus pais, eles não me entendiam, eu
queria fazê-los sofrer por isso.
Então
eu fugi de casa, quer dizer eu não fugi de verdade, apenas ia me esconder no
bosque por um tempo, talvez apenas passar a noite por lá. Antes de ir para lá eu
liguei para casa e disse que iria para o show sozinha, que eles não podiam me
impedir.
Mas
então começou a chover muito forte, eu decidi voltar para casa, quando cheguei
lá não havia ninguém, quando fui até a garagem logo entendi, o carro não estava
lá, eles haviam ido atrás de mim, nesse momento toda a minha raiva já havia
sumido, eu percebi o quanto eles se importavam comigo e que estava a ser
egoísta, mas já era tarde demais.
Adormeci
no sofá esperando por eles, no meio da madrugada fui acordada por policiais
batendo na porta, um mau pressentimento invadiu meu coração, eles estavam
sérios, antes de falarem qualquer coisa eu vi nos olhos deles. Quando eles
finalmente começaram a falar eu desabei, a estrada estava molhada e
escorregadia, houve um terrível acidente, meus pais haviam morrido.
Eu
fiquei em estado de choque, passei algumas semanas sem conseguir falar, fui ao
velório e depois nunca mais tive coragem de voltar aqui, eu me sentia tão
culpada, sentia medo, vergonha de encará-los.
Meus
tios desde então tem cuidado de mim, mas nem a eles, nem a ninguém, eu nunca
tinha contado isso.
Desde
aquele dia a chuva nunca parou.
Ela começou a chorar incontidamente,
Mark foi até ela e a abraçou, queria dizer alguma coisa, mas não sabia o que, e
logo viu que não era o momento para isso.
Bem, resolvi voltar atrás na história via blog e vir deixar o meu contributo.
ReplyDeleteKatherine viveu uma tragédia ao perder os pais, sente-se culpada de os ter perdido, Mark tenta reconforta-la, mas neste momento não há nada que ele diga que ajude a rapariga, foi um capitulo muito bonito este.
gostei bastante do cap, mas acho que vc deveria ter umas aulinhas de redação, ajudam muito na hora de estruturar o texto.
ReplyDeletele dica construtiva.
Coitada da Katherine =/
ReplyDeleteDeve ser um peso enorme carregar a "culpa" da morte dos pais.
Mark é um personagem bem cativante. Gostei bastante dele.
Enfim, a história está muito boa!
Até o próximo capítulo!