Wednesday 29 May 2013

Capítulo 3 - A chuva nunca parou




Katherine foi embora, andava pelas ruas sem rumo, novamente seus pés a levaram até em casa, ela queria ter ido logo até o cemitério, mas Mark disse que precisava de tempo para alguns preparativos e que não podia garantir que tudo aquilo daria certo, então talvez ela devesse despedir-se das pessoas que gostava.


Mas não há ninguém de quem eu deva me despedir ... – disse ela.
E os seus tios, você me disse que mora com eles? – disse ele.
Sim, eu sou um peso que eles têm de carregar, penso que vão ficar aliviados se algo der errado e eu não voltar.
Você superestima o altruísmo das pessoas, ninguém é tão bonzinho assim, as pessoas só carregam aquilo que elas mesmas querem. Cada um escolhe o que levar ou não consigo.
Ás vezes eu não se é real, sinto como se eles estivessem a fingir.
Eu não os conheço, não sei qual é a verdade, mas se eles se preocupam em fingir quer dizer que eles se importam. A verdade é que as pessoas não são perfeitas, sempre vão errar conosco, mesmo que tentem o melhor que podem ainda assim não vai ser o suficiente, então talvez devêssemos levar mais em conta o quanto elas tentam.
Você é estranho (disse ela sorrindo). De qualquer forma obrigado.

Tentando não mostrar que havia ficado ruborizado com aquilo ele a mandou embora dizendo que ainda tinha muito o que fazer, mas quando ela saiu ele ficou com um sorriso bobo no rosto.

Você consegue dizer algumas coisas bem legais quando quer, já que não escuta meus conselhos bem podia ouvir o que você mesmo acabou de dizer. – disse o avô.
Ela é diferente de mim, ainda há esperança para ela, ainda pode ser salva. – disse Mark.
  
As palavras dele ficaram ressoando dentro dela, depois de algum tempo ela percebeu o que devia fazer. No fundo queria realmente ir para casa, abraçar os tios que cuidavam dela, se fosse mesmo uma despedida que pelo menos eles guardassem boas recordações dela.
Encontrou apenas a tia na cozinha, elas não falaram nada, apenas se abraçaram, Katherine pediu desculpas. Depois subiu até o quarto, foi até o armário e começou a mexer em coisas antigas, instintivamente foi abrindo caixas, procurando em gavetas até finalmente achar o que mesmo sem saber estava procurando, um velho álbum de fotografias.
Sentou-se e passou algum tempo encarando o álbum, sem ter coragem de abri-lo, ela tentava se lembrar da última vez que o tinha visto, provavelmente antes do acidente, depois de tudo nunca mais teve coragem ver as fotos, o escondeu no fundo de um armário, longe de tudo, quem sabe com o tempo esquecesse, foi o mesmo que tentou fazer com suas memórias, mas nunca é tão fácil assim, a alma humana precisa sentir alguma coisa, não aceita o vazio, então veio a culpa para preencher o seu coração.
Teve um impulso para esconder aquele álbum, guardá-lo novamente, mas as palavras de Mark ressoaram dentro dela, aquele podia ser o último dia da sua vida, ela queria, mas do que isso ela precisava de força e apoio para aguentar aquilo, talvez naquelas fotos antigas se escondessem memórias de dias felizes, fragmentos de luz para iluminar seu coração.
Finalmente abriu o álbum, não conseguiu aguentar e logo estava chorando, mas não eram apenas lágrimas ruins de tristeza, havia também lágrimas puras que lavavam sua alma. Enquanto ela lentamente passava as páginas, revivendo cada um daqueles preciosos momentos o tempo passava, a tarde morria sangrando em tons de vermelho, logo a noite chegou.
De repente ela foi despertada daquela nostalgia por um barulho, em seguida outro, ela então viu do que se tratava, Mark atirava pequenas pedras em sua janela para chamá-la. Algo tinha mudado dentro dela, estava mais decidida, convicta do queria, queria viver. Sorrateiramente conseguiu sair de casa sem ser vista e se encontrou com Mark, ela estranhou um sorriso bobo que ele tinha no rosto.

Desculpa, mas é que eu sempre quis fazer isto, me esgueirar, passar sem visto e então ir até a janela da garota jogar pedras em sua janela para encontrá-la, é um pouco emocionante, disse Mark.
Você não teve muitos encontros não é? – disse Katherine, que em seguida começou a rir.

Mark ficou feliz ao ver que ela estava bem melhor, sabia que o que iria fazer tinha grande chance de dar errado e que era muito arriscado, ia precisar de toda sua habilidade e conhecimento em demonologia para fazer aquilo funcionar, mas a verdade é que não dependia só dele, no final seria a própria Katherine que decidiria tudo.
Ele sabia que precisava estar totalmente concentrado e preparado, mas ainda se preocupava com ela, então ficou a conversar com ela, fazendo piadas bobas, tentando relaxá-la durante todo o caminho até o cemitério.
Depois de deixar a cidade caminharam ainda por quase uma hora até chegar ao cemitério, abriram o grande portão e entraram, o cenário era assustador, não havia grama, não havia flores, nada, como se tudo ali dentro fenecesse e morresse.
Katherine então contou a ele o que sabia sobre aquele lugar, era o cemitério da cidade desde que ela havia sido fundada, na época escolheram aquele lugar porque ele era inútil para todo o resto, não servia para agricultura, não servia para construções, então os moradores decidiram fazer daquele local o cemitério.

Um lugar para esquecer e abandonar os mortos, disse ela melancolicamente.
Talvez, mas ainda existem pequenos faróis de esperança, disse ele apontando para algumas sepulturas que tinham flores frescas. – disse ele.

Depois do dia do funeral ela nunca mais havia voltado para aquele lugar, mesmo assim conseguia se lembrar perfeitamente do local onde seus pais haviam sido enterrados. Mark deu a ela uma lanterna que havia trazido e a deixou guia-los até o lugar.
Quando finalmente chegaram ele notou o quanto ela já estava abalada, era realmente difícil para Katherine encarar tudo aquilo, enquanto ela caminhava até a sepultura e colocava a mão se apoiando sobre a lápide ele começou a desenhar no chão alguns selos estranhos, e no final um grande pentagrama que cercava tudo.
Mark começou então novamente a explicar o que ela devia fazer, que o demônio havia se ligado a algum sentimento negativo que existia no coração dela, e antes de tentar exorcizá-lo primeiro ela precisava quebrar essa ligação com ele, deixando para trás esse sentimento negativo que a consumia.
Então pediu a ela para começar a se concentrar, mentalizar as lembranças que a atormentavam.

Eu fui responsável pela morte dos meus pais. – disse ela
Você não precisa falar em voz alta, basta se concentrar e pensar nisso. – disse ele
Tudo bem, eu nunca falei sobre isso com ninguém, acho que agora quero dividir.
Ele ficou sério e em silêncio, continuava concentrado, revendo na sua mente cada detalhe ao mesmo tempo em que observava atentamente os selos, ao mesmo tempo mantinha os olhos fixos nela, ele sabia que não encontraria nenhuma palavra que pudesse ajudá-la. Ela então começou a contar.

Foi há dois anos, ia ter um show em uma cidade da região, eu queria muito ir assistir, mas eles me proibiram, disseram que era muito longe e era perigoso eu ir sozinha, e eles estariam ocupados e não iam poder me levar.
Na época isso parecia a coisa mais importante do mundo para mim, eu fiquei com tanta raiva, tão chatiada, eu queria punir meus pais, eles não me entendiam, eu queria fazê-los sofrer por isso.
Então eu fugi de casa, quer dizer eu não fugi de verdade, apenas ia me esconder no bosque por um tempo, talvez apenas passar a noite por lá. Antes de ir para lá eu liguei para casa e disse que iria para o show sozinha, que eles não podiam me impedir.
Mas então começou a chover muito forte, eu decidi voltar para casa, quando cheguei lá não havia ninguém, quando fui até a garagem logo entendi, o carro não estava lá, eles haviam ido atrás de mim, nesse momento toda a minha raiva já havia sumido, eu percebi o quanto eles se importavam comigo e que estava a ser egoísta, mas já era tarde demais.
Adormeci no sofá esperando por eles, no meio da madrugada fui acordada por policiais batendo na porta, um mau pressentimento invadiu meu coração, eles estavam sérios, antes de falarem qualquer coisa eu vi nos olhos deles. Quando eles finalmente começaram a falar eu desabei, a estrada estava molhada e escorregadia, houve um terrível acidente, meus pais haviam morrido.
Eu fiquei em estado de choque, passei algumas semanas sem conseguir falar, fui ao velório e depois nunca mais tive coragem de voltar aqui, eu me sentia tão culpada, sentia medo, vergonha de encará-los.
Meus tios desde então tem cuidado de mim, mas nem a eles, nem a ninguém, eu nunca tinha contado isso.
Desde aquele dia a chuva nunca parou.


Ela começou a chorar incontidamente, Mark foi até ela e a abraçou, queria dizer alguma coisa, mas não sabia o que, e logo viu que não era o momento para isso.

3 comments:

  1. Bem, resolvi voltar atrás na história via blog e vir deixar o meu contributo.
    Katherine viveu uma tragédia ao perder os pais, sente-se culpada de os ter perdido, Mark tenta reconforta-la, mas neste momento não há nada que ele diga que ajude a rapariga, foi um capitulo muito bonito este.

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  2. gostei bastante do cap, mas acho que vc deveria ter umas aulinhas de redação, ajudam muito na hora de estruturar o texto.
    le dica construtiva.

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  3. Coitada da Katherine =/
    Deve ser um peso enorme carregar a "culpa" da morte dos pais.
    Mark é um personagem bem cativante. Gostei bastante dele.
    Enfim, a história está muito boa!
    Até o próximo capítulo!

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