Tuesday 1 September 2015

Capítulo 117 - O que aprendi do deserto




Voltando um pouco no tempo, imediatamente após falar com Victor, Simone prosseguiu enviando alertas para os outros três guardiões.

Uma luta sempre envolve dor, sofrimento, perdas, não importa a razão uma batalha deve ser evitado a todo custo, entretanto, às vezes não lutar causará ainda mais dor, se minha passividade me fizer falhar em proteger o que me foi confiado, tudo que me sobrará será arrependimento e um desejo de vingança. Então sim, eu aceito suas ordens, cumprirei minha missão como guardião. – disse Jin
A vida neste mundo existe através de sacrifícios, se você se recusa a fazê-los outra pessoa terá de se sacrificar em seu lugar. Eu aceito e honrarei a missão que me foi dada, eu serie o sacrifício em nome da humanidade. – disse Sachafer
Mate. Salve. Abençoe. Amaldiçoe. Chore. Sorria. Destrua. Proteja. Morra. Morra. Morra. Morra. Viva. Desculpe, às vezes me repito porque há tão pouco de mim. – disse Natalie

Embora não a conhecesse, Simone já havia lido os registros da Vama Marga sobre ela, e ate mesmo conversado com Strauss, que dizia já ter recebido conselhos dela quando mais jovem. Ela era a mais instável e imprevisível dos guardiões, enquanto Jin e Sachafer eram os mais confiáveis.

Mesmo com duvidas e incertezas não havia mais o que fazer, aqueles eram os guardiões escolhidos por Strauss, os mais fortes dentre os Bem-Aventurados, entre os humanos talvez apenas Ravel fosse capaz de fazer frente a eles, eram o que o nosso mundo tinha de melhor para oferecer, agora restava apenas rezar para que o nosso melhor fosse o suficiente. 

Dois anjos são guiados ate uma grande imensidão de areia, por quilômetros nada além de areia, estavam no deserto do Saara.

Elas possuíam formas femininas, uma delas tinha longos cabelos loiros, seu rosto era pálido e seu rosto sombrio, ela usava um vestido com transparências que mostravam um corpo muito bonito, mas ao mesmo tempo ele estava coberto de marcas e cicatrizes, seus pulsos, suas costas, sua barriga, vários pequenos cortes, seu nome era Dagiel. A outra tinha um corpo ainda um pouco infantil, não parecia ter muito mais do que quatorze anos, possuía a pele bastante branca e olhos e cabelos negros, seu nome era Puriel.

De repente uma flecha foi atirada em direção a elas, Dagiel apenas a ignoraria, mas Puriel gritou para que ela desviasse, contudo, já era tarde demais, e ela apenas conseguiu evitar um golpe fatal, sendo acertada no ombro.

Para surpresa dela o ferimento havia causado bastante dano, mas do que isso, ele queimava e ardia em sua pele, foi quando ela quebrou a flecha e a arrancou do seu ombro que pode verificar, aquela arma tinha sido feita com penas de anjos.

Havia uma arma, uma relíquia que pertencia a Vama Marga, um arco especial feito com os ossos de um antigo líder da organização, que era um Bem-Aventurado, ele era o único capaz de aguentar o poder destrutivo daquelas flechas especiais.

Sempre que um anjo era derrotado no nosso mundo, e isso aconteceu algumas dezenas de vezes ao longo da historia, a organização recolhia seu corpo, e usando as penas de suas asas moldava a ponta de flechas, armas especiais capazes de perfurar a pele de um anjo e o ferir, uma forma de pessoas normais conseguirem lutar.

Entretanto, Strauss decidiu dar esta arma para Sachafer, um guerreiro que já era Bem-Aventurado, ele queria que ele se especializasse em combate de longa distância por causa de sua habilidade especial.
No meio do deserto, com um vento tão forte, com a areia aumentando a densidade do ar, era muito difícil mirar e acertar usando um arco, mesmo assim, Sachafer dominava a técnica perfeitamente. Enquanto Dagiel retirava a flecha do ombro logo em seguida outra já caiu no seu pé, perfurando-o e a fazendo gritar.

Embora as condições naturais dificultassem para que ele atirasse suas flechas, elas também tornavam quase impossível desviar, a anjo apenas conseguia ver as flechas quando era atingida, elas eram praticamente invisíveis em meio àquele cenário.

A anja tentava sentir a presença do humano que a atacava, mas não conseguia, Sachafer ocultava totalmente sua existência, não havia sequer intenção assassina uma vez que ele realmente não desejava aquela luta e muito menos feri-las, fazia apenas o que julgava ser necessário para terminar logo o conflito.

Logo mais três flechas foram disparadas, de posições diferentes, com velocidades diferentes e ângulos diferentes, Dagiel não conseguiria se desviar delas, então ficou seria, sua técnica consistia em materializar duas grandes laminas, eram parecidas com foices, ficavam presas em cada antebraço dela, a técnica dela consistia em combate corpo-a-corpo.

Com as foices presas no seu braço ela socava, os golpes cortavam o próprio ar, partindo também as flechas, tornando inútil o ataque a distância. Da mesma forma, Puriel que ate agora apenas observava a luta alertou Dagiel, apontando a direção de onde vinham os golpes, depois de assistir por algum tempo os ataques ela conseguiu perceber que Sachafer usava o vendo para mudar a direção das flechas, desse modo ele ocultava sua direção e parecia atacar de lugares diferentes, quando durante todo o tempo esteve parado no mesmo lugar.

Imediatamente Dagiel voou em direção a ele. Antes de ela chegar ate ele, Sachafer revelas-se, rasga o tecido da cor do deserto que o envolvia.

Ele possuía um corpo franzino, sua pele era morena, tinha cabelos ondulados que penteava para trás, uma barba grossa dava uma expressão seria ao seu rosto, vestia uma grande túnica negra. Ele tinha olhos tristes, que demonstravam bastante solidão.

Melancolicamente ele abre um alçapão que estava escondido pelas areias e entra nele, mas ao contrario do que Dagiel supôs, ele não estava tentando fugir, aquilo era o último recurso de Sachafer, algo que ele preferia nunca ter de fazer, por isso insistiu para que Strauss lhe desse uma arma para que pudesse lutar a distância.   

Coberta pelo deserto estava uma imensa e antiga construção da Vama Marga, eram vários andares enterrados pela areia, aquilo que no passado tinha sido uma base secreta hoje era usada como prisão.
Normalmente anjos e demônios têm dificuldade em entrar no nosso mundo, ele geralmente precisam de ajuda para isso, pessoas que facilitem sua vinda, os chamados satanistas e outras pessoas que praticam rituais místicos, alguns destes, os que realizavam sacrifícios humanos como oferendas, eles eram presos pela Vama Marga e levados para aquela prisão. Mas ao contrario do que poderia parecer Sachafer não era um carcereiro.

Enquanto descia as escadarias e acionava um mecanismo que abria todas as celas ele pensava em quem era aqueles homens em sua maioria assassinos e maníacos, isso não o confortava, apenas tornava mais fácil o que ele precisava fazer.

Ao descer o último degrau ele logo avistou os presos, vários deles tinham se armado com tudo que pudessem encontrar pelo caminho, pedaços de madeira, pedras, estavam prontos para massacrar quem quer que encontrassem, assim que viram Sachafer avançaram contra ele.

Sachafer havia nascido como uma criança muito fraca, era um bebe muito pequeno e frágil, os médicos ate mesmo duvidavam que fosse sobreviver mais do que alguns dias, mas de alguma forma ele escapou, embora sua mãe que tinha passado bem pelo parto tenha misteriosamente morrido alguns dias depois.

Ele cresceu como uma criança sensível, não saia para brincar porque sempre se cansava, ele não tinha muitos amigos e era bastante solitário. Isso fez com que ele se voltasse para religião, mesmo sendo ainda um adolescente já tinha lido o alcorão três vezes.

Sempre freqüentava a mesquita da sua cidade, foi lá que conheceu duas outras crianças, que logo se tornaram seus melhores e mais próximos amigos, entretanto, eles logo caíram doentes e terminaram por morrer, estas misteriosas mortes logo fizeram com que o passado dele fosse relembrado, a mãe dele também havia perecido em uma situação estranha.

O imam logo entendeu o que aquelas situações representavam, Sachafer roubava a vida das pessoas, seu corpo fraco não era capaz de suportar a sua própria alma que era poderosa demais, dessa forma para sobreviver de forma inconsciente ele roubava a vida de quem se aproximava dele.

O iman viu aquilo como uma grande benção, disse que Sachafer tinha sido mandado por Alá, ele seria uma arma que usariam contra os inimigos de Deus, o cavaleiro que lutaria na guerra santa. Entretanto o jovem recusava, ele se considerava uma aberração, uns monstro, algo que deveria morrer antes que tomasse a vida de outra pessoa.

Ele tentou fugir da mesquita, mas foi preso pelos auxiliares do imam, no meio da emoção da batalha Sachafer liberou parte de seus poderes, um grande clarão pode ser visto de longe, ao fim de algumas horas o garoto acordou, tinha sido o único sobrevivente da cidade, todas as outras pessoas estavam mortas.

Chorando e bastante abalado com tudo aquilo Sachafer fugiu para o deserto, queria ficar longe de tudo e de todos, não queria mais machucas ninguém, pensou em tirar a própria vida, mas isto era considerado um grande crime em sua religião, para os muçulmanos tirar a própria vida é o equivalente a não acreditar em Deus e nos destino que ele deu a cada um.

O deserto o acolheu sem julgá-lo, lá toda sua dor e sua tristeza foram ouvidas, suas lágrimas não foram recusadas.

Por sete dias ele meditou e jejuou no deserto, esperando por um sinal de Alá, alguma mensagem o dizendo que rumo ele deveria tomar. E ao anoitecer do sétimo dia um homem vem ate o encontro dele, era Strauss.


O líder da Vama Marga diz que veio para recrutá-lo, que lhe ensinará que suas habilidades são um dom, e que podem ser usadas para um objetivo maior, não para matar as pessoas, mas para protegê-las. Sachafer sente que aquele é o caminho que deve seguir, e se junta a Vama Marga. 

1 comment:

  1. Bom capítulo, mais uma apresentação de um dos Bem-Aventurados, eles são mesmo guerreiros muito bons e tenho gostado das personalidades individuais de cada um, acho que esse é seu maior dom, conseguir dar personalidades tão distintas, por isso que sua história tem se mantido tão boa até agora, gostei da história dele e do poder dele, não há nada de negativo a apontar, continue =P

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