Um enorme vazio preenchia o inferno, o
cenário era de total destruição, boa parte dele havia sido absorvida por
Lúcifer durante a batalha contra Nathaniel, em meio àquele mundo destruído uma
nova rainha se erguia. Em meio ao caos as centenas de demônios se acumulavam ao
redor das ruínas do castelo.
Congregados começavam a discutir e
brigar entre si, sentiam-se perdidos sem Lúcifer, não sabiam ainda o que aconteceria.
Vassago ordenou que todos se reunissem e esperassem pelo pronunciamento de
Kali, a nova líder das hordas infernais.
Quando Kali apareceu fez-se um profundo
silêncio, seguido de comentários obscenos de alguns demônios que imediatamente
foram exterminados por Vassago, ele mostrava-se tão leal a ela quanto tinha
sido a Lúcifer.
Mas do que palavras ela sabia que
precisava se impor pela força, quando começou a elevar sua energia todos
ficaram quietos, aquele era um poder ainda maior que o da Estrela da manhã.
Embora pudesse ser questionada por ter algo de humana aquele nível de poder era
algo capaz de destruir o universo, todos ficaram de joelhos saudando a rainha.
Assim como Nathaniel agora ela tinha uma
condição especial por ser parte humana, ela conseguia mais facilmente abrir
portais para o mundo, e com a força de Lúcifer abrir um portal para atravessar
todas as tropas infernais.
A morte de Lúcifer também havia causado
um grande abalo em todo o universo, no inferno o suficiente para criar fissuras
na barreira que o protegia. O passo seguinte era escapar dali para Kali reunir
o resto de energia que ainda estava lá e então se preparar para a guerra.
O seu plano era avançar em direção ao
paraíso imediatamente, ela foi questionada por isso, mas no fim sua opinião
prevaleceu, embora ela se perguntasse se tinha feito isso porque queria poupar
a humanidade. Parte dela tentava se convencer que era estratégico, se atacasse
primeiro o mundo Miguel perceberia que deixaram o inferno, o melhor modo era um
ataque surpresa com tudo.
Como uma nuvem de gafanhotos atacando
uma plantação os milhares de demônios cruzavam o céu em direção ao paraíso,
apenas poucos humanos sensíveis foram capazes de perceber aquele fenômeno.
Kali e a guarda real se encarregariam de
enfrentar as sete virtudes cardeais, enquanto os demônios mais fracos usariam
lutariam contra os anjos se menor hierarquia. Em pouco tempo eles estavam
rasgando os céus do paraíso, Kali sentiu então que Nathaniel estava lá, embora
não quisesse pensar sobre ele já se preparava para ter que o enfrentar.
De um lado Nathaniel, Dante e Sallos
indo em direção as virtudes cardeais, enquanto Ravel tentava deter um grupo de
anjos que avançava contra eles, do outro Kali, Vassago, Dantalion e Zagan,
acompanhados por todos os demônios do inferno, tentando conter esta invasão os
anjos de baixo nível.
Quando anjos e demônios se encontraram
foi como uma grande onda, um impacto que estremeceu todo o paraíso, era como a
continuação da guerra que houve no passado, mas dessa vez todos sabiam que não
haveria trégua, seria uma luta ate o fim.
Em pouco tempo o céu e a terra estavam
tingidos de vermelho, era uma batalha de grande proporções, haviam sete
demônios para cada anjo, mas eles compensavam o menor número de tropas com organização
tática e com sua força superior.
Espadas se colidiam, membros eram
decepados, ataques covardes, aquilo não era uma batalha honrada, era uma
guerra, vários adversários juntavam-se para atacar um inimigo, este se
sacrificava para não desfazer a formação angelical.
A missão dos demônios era clara, apenas
segurar os anjos para permitir que Kali e a guarda de elite pudessem se
concentrar em chegar ate Miguel. Este parecia ser o mesmo objetivo de Ravel.
Sua espada, Mil Auroras, que havia sido
quebrada por Strauss quando eles lutaram, tinha sido reforjada, abençoada com
orações e ungida, a espada que tinha sido feita durante o amanhecer de mil
dias, recebendo em sua lâmina a pura e quente luz do amanhecer, ela emitia uma
aura branca, era da cor de nuvens. Mas quando ele a envolvia com sua alma ela
tornava-se negra, escura.
Combinado com isto Ravel a envolvia com
sua própria alma, a espada literalmente tornava-se uma extensão do seu próprio
corpo, e com essa energia espiritual ele dilacerava anjos e demônios sem
distinção.
Envolvida em energia espiritual a lâmina
de sua espada podia se alongar, atacando de surpresa e empalando três anjos com
um único ataque. Cada morte ele oferecia ao deus em que acreditava, o vazio que
existia dentro dele, talvez se ele matasse o suficiente deles ele pudesse se
sentir completo.
Nathaniel e os outros avançavam sem
olhar para trás, eventualmente viam corpos caindo do céu próximo a eles, mas
não se detinham, ate que chegaram a um ponto onde haviam sete caminhos
diferentes, decidiram se separar, cada um encarregado de ir a um dos pilares e
derrotar seu guardião, de modo a liberar o caminho para o castelo de Miguel.
Ravel continuava sua matança, seus
braços começavam a se cansar, ele tinha sangue cobrindo todo seu corpo, a energia
de sua lâmina oscilava demonstrando todo seu cansaço, ao lado dele se empilhava
uma enorme pilha de corpos. Ele se perguntava se seu destino era aquele, ele
havia cumprido seu papel, graças a ele os outros puderam avançar sem se
desgastar antes da luta, não se podia esperar mais dele.
Entretanto, havia algo, um pensamento
intermitente na sua cabeça, ele se lembrava de seu mestre, de Strauss, a coisa
mais próxima que ele teve de um pai, e que havia matado.
Strauss falava que durante nossa vida
encontramos vários tipos de pessoas, aqueles que nos ajudam apontando uma
direção que devemos seguir, que são como fogos de artifício, uma explosão bela
e fugaz, há aqueles que nos guiam na nossa hora mais sombria, as velas que
iluminam nossa escuridão, existem aqueles que são nossos espelhos, vemos nossos
erros e o que nos tornamos refletidos neles.
Ele dizia que era o espelho de Ravel,
que era exatamente como ele quando mais novo, também tinha tido sua família
morta pela guerra entre anjos e demônios, haviam o deixado só, apenas com seu
ódio para confortá-lo. Strauss sabia para onde o caminho que ele estava
trilhando o levaria, ele o aconselhava a tentar mudar, a encontrar algo pelo
que lutar, não apenas descarregar sua fúria. Ao invés de apenas destruir encontrar
algo que quisesse proteger. Mas não havia nada.
Ravel acreditava ser outro tipo de
pessoa, uma pessoa que traz a escuridão, que enegrece o caminho de todos que
ficam perto dele, ele sentia como era tratado mesmo sendo o líder da Vama
Marga, Strauss era respeitado, ele apenas era temido. Ate mesmo Simone quando
apareceu recebia um tratamento melhor.
Foi quando ele se lembrou de sua luta
com Strauss, houve um momento em que o punho de seu mestre não o atingiu com
força total, a vida dele havia sido poupada, mas por qual razão? Deveria ele
tomar a responsabilidade pela vida que tinha roubado? Ele poderia morrer agora
e dizer que tinha feito tudo que podia?
Ele via a si mesmo como uma vela que
nunca se acendeu, algo inútil na escuridão, algo que pertencia as trevas, que
não encontraria seu lugar no meio da luz. Nesse momento ele pensou que talvez
este fosse realmente o seu papel naquilo tudo, existem coisas que aqueles que
vivem na luz não podem ver, existem respostas que apenas as sombras podem te dar.
Talvez ele devesse ser aquele que absorve toda a escuridão.
Cercado por quatro anjos Ravel
demonstrava todo seu cansaço, apenas sua espada fincada no chão o impedia de
cair. Ele percebeu algo então, se lembrou que a espada tinha sido presente de
Strauss, tentava se lembrar do significado dela, do motivo pelo qual ela lhe
havia sido dada.
Ravel foi golpeado, vários golpes no seu
corpo e um corte nas suas costas, o cansaço misturado com o dano acumulado o
fez sentir a morte se aproximando, mas neste momento ele teve uma epifania, ele
entendeu a mensagem de Strauss.
Mil Auroras significava mil noites que
chegaram ao fim, não importa o quanto a noite seja escura, o quanto as trevas
sejam assustadoras, nenhuma escuridão é eterna, nenhuma dor dura para sempre,
se você aguentar, se resistir o suficiente uma hora a aurora nascerá.
Ele não queria morrer naquele momento,
queria continuar vivo, sobreviver ate poder ver a sua aurora, ate encontrar uma
luz que afastasse a escuridão. Mesmo na noite mais negra ele resistia ate a
chegada do dia mais claro.
Erguendo-se ele avança em direção aos
anjos, com sua determinação a lâmina de sua espada cresce e se torna mais
afiada, ele consegue derrubar dois anjos, mas os outros dois derrubam-no, ele
ia ser morto, mas algo parou os anjos, alguém estava falando com eles
telepaticamente, mesmo parecendo contrariados eles aceitam as ordens e passam a
carregar Ravel, levando-o para algum lugar.
Em outro local, avançando pelo caminho
eles finalmente chegam cada um ao seu destino, Nathaniel chega ao pilar da Fé,
Dante chega ao pilar da Esperança e Sallos ao pilar da Temperança.
Mas eles não são os únicos a avançar,
Kali e sua guarda também chegam aos pilares. Ela vai ate o da Fé, Vassago ate o
da Temperança, Dantalion ate o da Esperança e Zangan ate o da Justiça.
Na verdade os caminhos eram apenas
ilusões, não importava qual fosse escolhido, você seria levado ate a virtude
que mais que lhe falta, lá seria julgado pelo anjo guardião que lhe mostraria a
estrada para redenção onde encontraria sua resposta sobre aquilo que lhe falta.
Finalmente os caminhos de todos se
encontravam, céu, inferno e os humanos, Rafael assistia a tudo aquilo, ele
meditando sobre o rumo que as coisas tomavam, por tantos séculos ele apenas
assisti a historia acontecer, agora ele começava a pensar que era o momento de
fazer ele mesmo a historia.
Capítulo otimo, mesmo muito bom, enfim começou a guerra á muito prometida, anjos, demónios, humanos, todos no paraiso se destruindo... penso que devam mudar a definição de paraiso após isto =P
ReplyDeleteKali conseguiu controlar os seus demónios, mas teve de recorrer á força para que eles se submetessem a ela, achei que seria mais complicado os demónios a obedecerem visto ela ser uma "traidora" mas ao verem a lealdade de Vassago, logo se submeteram á nova rainha.
Ravel lutou bem e finalmente entendeu a mensagem de Strauss, para isso foi preciso estar ás portas da morte, mas por alguma razão foi poupado, fico curiosa para saber os motivos disso.
Gostei bastante deste capítulo, foi mesmo otimo, que venha logo o próximo ^^
Fiquei feliz que o Ravel conseguiu compreender um pouco o Strauss, espero que em um futuro próximo vire um homem como ele... Porque imagino que Strauss não esteja errado ao dizer que Ravel era como o "espelho" dele quando mais jovem. Estou aqui na torcida XD
ReplyDeletePoutz, parece que vai ter treta entre Nathaniel e Kali, já que estão indo para o mesmo lugar. Espero que consigam se entender ali e virar aliados na batalha contra Miguel.
Finalmente Rafael resolveu agir :D Creio que ele será um personagem bem importante nessa "saga" do paraíso ^^
Enfim, gostei bastante do capítulo. Dá para ver essa guerra vai ser bem intensa, e possivelmente terá muitas baixas... Estou torcendo aqui para Kali consiga ver o lado de Nathaniel também, e o perdoe.
Logo lerei o próximo!