Wednesday 11 February 2015

Capítulo 92 - Na noite mais escura




Um enorme vazio preenchia o inferno, o cenário era de total destruição, boa parte dele havia sido absorvida por Lúcifer durante a batalha contra Nathaniel, em meio àquele mundo destruído uma nova rainha se erguia. Em meio ao caos as centenas de demônios se acumulavam ao redor das ruínas do castelo.

Congregados começavam a discutir e brigar entre si, sentiam-se perdidos sem Lúcifer, não sabiam ainda o que aconteceria. Vassago ordenou que todos se reunissem e esperassem pelo pronunciamento de Kali, a nova líder das hordas infernais.

Quando Kali apareceu fez-se um profundo silêncio, seguido de comentários obscenos de alguns demônios que imediatamente foram exterminados por Vassago, ele mostrava-se tão leal a ela quanto tinha sido a Lúcifer.

Mas do que palavras ela sabia que precisava se impor pela força, quando começou a elevar sua energia todos ficaram quietos, aquele era um poder ainda maior que o da Estrela da manhã. Embora pudesse ser questionada por ter algo de humana aquele nível de poder era algo capaz de destruir o universo, todos ficaram de joelhos saudando a rainha.

Assim como Nathaniel agora ela tinha uma condição especial por ser parte humana, ela conseguia mais facilmente abrir portais para o mundo, e com a força de Lúcifer abrir um portal para atravessar todas as tropas infernais.  

A morte de Lúcifer também havia causado um grande abalo em todo o universo, no inferno o suficiente para criar fissuras na barreira que o protegia. O passo seguinte era escapar dali para Kali reunir o resto de energia que ainda estava lá e então se preparar para a guerra.

O seu plano era avançar em direção ao paraíso imediatamente, ela foi questionada por isso, mas no fim sua opinião prevaleceu, embora ela se perguntasse se tinha feito isso porque queria poupar a humanidade. Parte dela tentava se convencer que era estratégico, se atacasse primeiro o mundo Miguel perceberia que deixaram o inferno, o melhor modo era um ataque surpresa com tudo.

Como uma nuvem de gafanhotos atacando uma plantação os milhares de demônios cruzavam o céu em direção ao paraíso, apenas poucos humanos sensíveis foram capazes de perceber aquele fenômeno.

Kali e a guarda real se encarregariam de enfrentar as sete virtudes cardeais, enquanto os demônios mais fracos usariam lutariam contra os anjos se menor hierarquia. Em pouco tempo eles estavam rasgando os céus do paraíso, Kali sentiu então que Nathaniel estava lá, embora não quisesse pensar sobre ele já se preparava para ter que o enfrentar.

De um lado Nathaniel, Dante e Sallos indo em direção as virtudes cardeais, enquanto Ravel tentava deter um grupo de anjos que avançava contra eles, do outro Kali, Vassago, Dantalion e Zagan, acompanhados por todos os demônios do inferno, tentando conter esta invasão os anjos de baixo nível.

Quando anjos e demônios se encontraram foi como uma grande onda, um impacto que estremeceu todo o paraíso, era como a continuação da guerra que houve no passado, mas dessa vez todos sabiam que não haveria trégua, seria uma luta ate o fim.

Em pouco tempo o céu e a terra estavam tingidos de vermelho, era uma batalha de grande proporções, haviam sete demônios para cada anjo, mas eles compensavam o menor número de tropas com organização tática e com sua força superior.

Espadas se colidiam, membros eram decepados, ataques covardes, aquilo não era uma batalha honrada, era uma guerra, vários adversários juntavam-se para atacar um inimigo, este se sacrificava para não desfazer a formação angelical.

A missão dos demônios era clara, apenas segurar os anjos para permitir que Kali e a guarda de elite pudessem se concentrar em chegar ate Miguel. Este parecia ser o mesmo objetivo de Ravel.

Sua espada, Mil Auroras, que havia sido quebrada por Strauss quando eles lutaram, tinha sido reforjada, abençoada com orações e ungida, a espada que tinha sido feita durante o amanhecer de mil dias, recebendo em sua lâmina a pura e quente luz do amanhecer, ela emitia uma aura branca, era da cor de nuvens. Mas quando ele a envolvia com sua alma ela tornava-se negra, escura.

Combinado com isto Ravel a envolvia com sua própria alma, a espada literalmente tornava-se uma extensão do seu próprio corpo, e com essa energia espiritual ele dilacerava anjos e demônios sem distinção.

Envolvida em energia espiritual a lâmina de sua espada podia se alongar, atacando de surpresa e empalando três anjos com um único ataque. Cada morte ele oferecia ao deus em que acreditava, o vazio que existia dentro dele, talvez se ele matasse o suficiente deles ele pudesse se sentir completo.

Nathaniel e os outros avançavam sem olhar para trás, eventualmente viam corpos caindo do céu próximo a eles, mas não se detinham, ate que chegaram a um ponto onde haviam sete caminhos diferentes, decidiram se separar, cada um encarregado de ir a um dos pilares e derrotar seu guardião, de modo a liberar o caminho para o castelo de Miguel.

Ravel continuava sua matança, seus braços começavam a se cansar, ele tinha sangue cobrindo todo seu corpo, a energia de sua lâmina oscilava demonstrando todo seu cansaço, ao lado dele se empilhava uma enorme pilha de corpos. Ele se perguntava se seu destino era aquele, ele havia cumprido seu papel, graças a ele os outros puderam avançar sem se desgastar antes da luta, não se podia esperar mais dele.

Entretanto, havia algo, um pensamento intermitente na sua cabeça, ele se lembrava de seu mestre, de Strauss, a coisa mais próxima que ele teve de um pai, e que havia matado.

Strauss falava que durante nossa vida encontramos vários tipos de pessoas, aqueles que nos ajudam apontando uma direção que devemos seguir, que são como fogos de artifício, uma explosão bela e fugaz, há aqueles que nos guiam na nossa hora mais sombria, as velas que iluminam nossa escuridão, existem aqueles que são nossos espelhos, vemos nossos erros e o que nos tornamos refletidos neles.

Ele dizia que era o espelho de Ravel, que era exatamente como ele quando mais novo, também tinha tido sua família morta pela guerra entre anjos e demônios, haviam o deixado só, apenas com seu ódio para confortá-lo. Strauss sabia para onde o caminho que ele estava trilhando o levaria, ele o aconselhava a tentar mudar, a encontrar algo pelo que lutar, não apenas descarregar sua fúria. Ao invés de apenas destruir encontrar algo que quisesse proteger. Mas não havia nada.

Ravel acreditava ser outro tipo de pessoa, uma pessoa que traz a escuridão, que enegrece o caminho de todos que ficam perto dele, ele sentia como era tratado mesmo sendo o líder da Vama Marga, Strauss era respeitado, ele apenas era temido. Ate mesmo Simone quando apareceu recebia um tratamento melhor.

Foi quando ele se lembrou de sua luta com Strauss, houve um momento em que o punho de seu mestre não o atingiu com força total, a vida dele havia sido poupada, mas por qual razão? Deveria ele tomar a responsabilidade pela vida que tinha roubado? Ele poderia morrer agora e dizer que tinha feito tudo que podia?

Ele via a si mesmo como uma vela que nunca se acendeu, algo inútil na escuridão, algo que pertencia as trevas, que não encontraria seu lugar no meio da luz. Nesse momento ele pensou que talvez este fosse realmente o seu papel naquilo tudo, existem coisas que aqueles que vivem na luz não podem ver, existem respostas que apenas as sombras podem te dar. Talvez ele devesse ser aquele que absorve toda a escuridão.  

Cercado por quatro anjos Ravel demonstrava todo seu cansaço, apenas sua espada fincada no chão o impedia de cair. Ele percebeu algo então, se lembrou que a espada tinha sido presente de Strauss, tentava se lembrar do significado dela, do motivo pelo qual ela lhe havia sido dada.

Ravel foi golpeado, vários golpes no seu corpo e um corte nas suas costas, o cansaço misturado com o dano acumulado o fez sentir a morte se aproximando, mas neste momento ele teve uma epifania, ele entendeu a mensagem de Strauss.

Mil Auroras significava mil noites que chegaram ao fim, não importa o quanto a noite seja escura, o quanto as trevas sejam assustadoras, nenhuma escuridão é eterna, nenhuma dor dura para sempre, se você aguentar, se resistir o suficiente uma hora a aurora nascerá.

Ele não queria morrer naquele momento, queria continuar vivo, sobreviver ate poder ver a sua aurora, ate encontrar uma luz que afastasse a escuridão. Mesmo na noite mais negra ele resistia ate a chegada do dia mais claro.

Erguendo-se ele avança em direção aos anjos, com sua determinação a lâmina de sua espada cresce e se torna mais afiada, ele consegue derrubar dois anjos, mas os outros dois derrubam-no, ele ia ser morto, mas algo parou os anjos, alguém estava falando com eles telepaticamente, mesmo parecendo contrariados eles aceitam as ordens e passam a carregar Ravel, levando-o para algum lugar.    

Em outro local, avançando pelo caminho eles finalmente chegam cada um ao seu destino, Nathaniel chega ao pilar da Fé, Dante chega ao pilar da Esperança e Sallos ao pilar da Temperança.

Mas eles não são os únicos a avançar, Kali e sua guarda também chegam aos pilares. Ela vai ate o da Fé, Vassago ate o da Temperança, Dantalion ate o da Esperança e Zangan ate o da Justiça.

Na verdade os caminhos eram apenas ilusões, não importava qual fosse escolhido, você seria levado ate a virtude que mais que lhe falta, lá seria julgado pelo anjo guardião que lhe mostraria a estrada para redenção onde encontraria sua resposta sobre aquilo que lhe falta.


Finalmente os caminhos de todos se encontravam, céu, inferno e os humanos, Rafael assistia a tudo aquilo, ele meditando sobre o rumo que as coisas tomavam, por tantos séculos ele apenas assisti a historia acontecer, agora ele começava a pensar que era o momento de fazer ele mesmo a historia.

2 comments:

  1. Capítulo otimo, mesmo muito bom, enfim começou a guerra á muito prometida, anjos, demónios, humanos, todos no paraiso se destruindo... penso que devam mudar a definição de paraiso após isto =P
    Kali conseguiu controlar os seus demónios, mas teve de recorrer á força para que eles se submetessem a ela, achei que seria mais complicado os demónios a obedecerem visto ela ser uma "traidora" mas ao verem a lealdade de Vassago, logo se submeteram á nova rainha.
    Ravel lutou bem e finalmente entendeu a mensagem de Strauss, para isso foi preciso estar ás portas da morte, mas por alguma razão foi poupado, fico curiosa para saber os motivos disso.
    Gostei bastante deste capítulo, foi mesmo otimo, que venha logo o próximo ^^

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  2. Fiquei feliz que o Ravel conseguiu compreender um pouco o Strauss, espero que em um futuro próximo vire um homem como ele... Porque imagino que Strauss não esteja errado ao dizer que Ravel era como o "espelho" dele quando mais jovem. Estou aqui na torcida XD
    Poutz, parece que vai ter treta entre Nathaniel e Kali, já que estão indo para o mesmo lugar. Espero que consigam se entender ali e virar aliados na batalha contra Miguel.
    Finalmente Rafael resolveu agir :D Creio que ele será um personagem bem importante nessa "saga" do paraíso ^^
    Enfim, gostei bastante do capítulo. Dá para ver essa guerra vai ser bem intensa, e possivelmente terá muitas baixas... Estou torcendo aqui para Kali consiga ver o lado de Nathaniel também, e o perdoe.
    Logo lerei o próximo!

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